Livro Analisado: A Sibila
A Autora: Agustina Bessa-Luís
A Obra
A Sibila, publicado em 1954, é o romance com que a autora se
consagrou como uma das maiores escritoras de Portugal.
Personagens:
Quina - Herdeira
de uma rica propriedade, dedica a vida a ampliar os bens da família, pois tem
"faro" inigualável para os negócios. Solteira, dominadora, mas doce,
é a personagem que ocupa a maior extensão do romance. Intuição aguçada, é tida
como uma espécie de profetisa, por isso a sibila.
Francisco Teixeira -
Patriarca da Casa da Vessada, de pequena estatura, belo, uma de suas principais
características é o fato de ser incorrigivelmente mulherengo. É o pai de Quina
e seus irmãos, estróina e simpática, deixa os negócios da fazenda aos cuidados
de Maria, a esposa que escolheu em situação insólita quando ela era ainda uma
criança.
Maria da Encarnação -
Esposa de Francisco Teixeira, mulher de grande poder de aglutinação familiar,
mas por seus silêncios e sabedoria antiga.
Dirige a família por mais de meio século.
Estina - Irmã mais
velha de Quina. Casa e acompanha o marido, que vai morar na cidade. Raramente
volta a herdade. Tem uma filha louca, que morre em circunstâncias trágicas.
Abel - Irmão de
Quina. Vai morar na cidade. É ganancioso, está sempre pensando na herança, que
um dia deverá ser distribuída.
João - O irmão
empobrecido. Leva vida modesta em um apartamento de classe média. Não se
envolve nos problemas familiares.
Germa - É
Germana, a personagem com que se inicia e finda o romance. É a partir de seu
ponto de vista que toda a história é "relembrada". Moça moderna,
filha de Abel e sobrinha de Quina. Torna-se a herdeira da Casa da Vessada.
Observação:
É um romance centrado em três personagens femininas,
extremamente fortes, que se sucedem na direção da Casa da Vessada, enquanto os homens
dedicam-se a gastar o que elas amealham.
Ambiente:
A maior parte das cenas desenvolvem-se na Casa da Vessada,
rica e secular herdade de camponeses afidalgados. Fica no interior de Portugal,
com sua paisagem, seus costumes e linguajar, sua economia de uma fazenda e o
povo que por ali circula.
Tempo:
O romance abrange três gerações. Começa com Maria da
Encarnação ainda menina, seu crescimento, o casamento e a vinda dos filhos (quatro),
o envelhecimento e a morte. Continua com Joaquina Augusta, a Quina: seu
nascimento, crescimento, seus conflitos, sua juventude, amadurecimento,
envelhecimento e morte. Finalmente, Germa, filha de Abel, que se vê crescendo,
depois de ter iniciado já adulta o romance.
Uma intelectual, solteira e independente. Assim inicia o
parágrafo final do romance: "Eis Germa, eis a sua vez agora e o tempo de
traduzir a voz da sua sibila." A ela, herdeira da Casa da Vessada, cumpre
manter e dirigir a fazenda, preservar os costumes.
Num sentido proustiano, pode-se dizer que é um romance a
respeito do tempo, sua transcorrência, e da memória, que precisa ser resgatada.
Ponto de vista:
Escrito em terceira pessoa, dá a entender um
narrador-personagem (Germa), mas que vai estar oculta em toda a narrativa. No
fim do terceiro parágrafo do primeiro capítulo, encontra-se esta sugestão da
autora: "E, bruscamente, Germa começou a falar de Quina."
Efabulação:
A Sibila não é um romance de conflito, no sentido mais
tradicional. Tratase da história de três mulheres que se sucedem na direção de
uma fazenda, a Casa da Vessada. A criação de tais personagem, suas biografias
morais, eis a matéria de que se compõe boa parte do livro.
Maria da Encarnação, casa com um homem (Francisco Teixeira)
muito mais velho do que ela, sofre em silêncio todas as humilhações impostas por
seu marido, que a ama, mas que não pode resistir ao assédio de muitas mulheres.
Enquanto ela dirige os negócios da família, ele ocupa-se de gastar e se
divertir. Dos quatro filhos do casal, a mãe tem nítida preferência por Estina,
que, no entanto, casa e vai embora. Sua velhice é protegida por Quina, a filha
quase enjeitada, que vai dar continuidade a esta gestão feminina dos negócios.
Mantém-se solteira e exerce (Quina) uma influência muito grande sobre a família
e a comunidade, mercê de sua fama de sibila. É conselheira para qualquer
assunto, mesmo os econômicos. Torna-se íntima e confidente de uma condessa do
lugar, mulher de gosto extravagante, mas respeitada pelos fazendeiros por causa
de sua origem. Vive setenta e seis anos e então passa o bastão para as mãos de
Germa, a terceira mulher a ocupar a função. Mas enquanto Maria e Quina eram de
formação e temperamento rurais, Germa pode representar a modernização. Urbana e
intelectual (artista), com formação superior, hábitos, pensamento e valores em
tudo diferentes das suas antecessoras.
Características:
Assim se manifesta a crítica a seu respeito:
"Extraordinária no pormenor, assombrosa no golpe de
vista, verdadeiramente genial na observação." João Gaspar Simões.
"Dickens, num de seus romances, reclamava casos
concretos para a elaboração narrativa. Queria fatos, muitos fatos, sempre
fatos. Na verdade a linha natural do romance é a que deriva dos fatos para as palavras.
No caso particular de Agustina Bessa-Luís, essa linha se inverte: é o fluxo das
palavras que traz os episódios romanescos, por um processo acumulativo."
Josué Montello "Agustina Bessa-Luís (1923-) constitui-se num verdadeiro
'caso' como romancista. Dona de poderosa imaginação que tudo transfigura e subtiliza,
introduziu na prosa portuguesa um clima romanesco à Proust ou à Kafka, em que
as figuras humanas são reduzidas a símbolos mitológicos vivendo histórias fora
do alcance do olhar humano."
Massaud Moisés
"Uma negatividade mais radical, nascida de um ainda
mais profundo sentido de decadência na burguesia originariamente rural, e
servido por uma extraordinária exuberância, algo indisciplinada, de evocações, pormenorizadas
até à alucinação ou amplificadas até aos casos patologicamente mais
significativos, eis o que informa os romances caudalosos de um dos mais
originais ficcionistas de hoje, Agustina BessaLuís."
António José Saraiva
e Óscar Lopes
Em A Sibila, Agustina Bessa-Luís vai tecendo, com pequenos
detalhes, aos poucos, um formidável painel da sabedoria popular portuguesa,
seus usos e desejos, suas ambições e valores. São ditados populares,
informações aparentemente destituídas de função na narrativa, como a linguiça pendurada
na cozinha para defumar, instantâneos quase que despropositados, com tudo isso
a narrativa vai-se aos poucos amalgamando, até que o leitor sinta na língua o
sabor da tradição popular portuguesa.
A autora
Nasceu em Vila Meã, região do Douro, em 1922. Este ambiente,
onde passou a infância e a adolescência, vai marcar fortemente a obra da autora.
Sua estréia em literatura deu-se aos 26 anos, mantendo, desde então, um ritmo
de produção poucas vezes repetido em Portugal. Atualmente sua obra passa dos
cinqüenta títulos publicados.
Sua consagração como escritora chega com a publicação de A
Sibila, em 1954. Já ocupou os cargos mais elevados do cenário cultural de seu
país, tendo sido agraciada com cerca de quinze prêmios da maior importância.
Membro de diversas academias, inclusive a Academia
Brasileira de Letras, como membro honorário. Sua obra constitui-se
principalmente de romances, contos, ensaios, crônicas, viagens, teatro e obras
juvenis. A respeito dela assim manifestou-se o crítico e historiador literário
Óscar Lopes:
"A vocação de facto excepcional de Agustina Bessa-Luís
não é a do romance como figuração de um mundo social, psíquica ou esteticamente
coeso, mas a de colher momentos surpreendente microrrigor e irradiação instrutiva,
quer em percepções objectivas, quer em vivências interpessoais, quer em formas
de sabedoria ancestral que, precisamente, ponham em causa qualquer forma de
ordem ou inteligibilidade aceite; tudo nela aponta para um 'amor' que é
transcendente a valores ou a evidências consagradas, e que parece um Dom
peculiar de gineceu ou de intimidade feminina."
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