(Neida Rocha*)
Eram 10:00
horas da manhã do dia 30 de setembro.
Diná colocou
o seu vestido longo preto em cima da cama, juntamente com a calcinha, o
soutien, a meia calça e o sapato que iria usar às 20:00 horas.
Perguntou a
Francisco, seu marido:
Com qual colar deverei ir? Com o de
strass ou com o de pérolas?
Ambos faziam
conjunto com o seu respectivo par de brincos.
Francisco, como descendente de
italianos e gaúcho, sem ter nem um pouco de sutileza, respondeu:
Qualquer um dos dois, pois todos só
irão notar a noiva, mesmo.
Então Diná colocou os dois conjuntos
em cima da cama, junto com o vestido e os outros acessórios, para decidir na
hora de vestir-se, qual deles usar, e foi para a sala assistir a um filme,
enquanto fazia a manicura e o pedicuro.
Enquanto
Diná aprontava as unhas, assistia ao filme Sexto Sentido, pela quinta vez. Uma
vez assistiu no cinema, com o marido; outra vez com uma amiga, pois queria que
a amiga se espiritualizasse;
outra vez ela assistiu a fita, em casa, sozinha,
enquanto Francisco participava de uma reunião com um grupo de amigos, chamado
“Gaúchos residentes em Blumenau”.
Hoje,
novamente era dia da reunião do grupo, e ela sabia que o marido só voltaria
para casa por volta das 18:00 horas.
Como Diná já
vira o filme diversas vezes, ela não precisava prestar muita atenção ao enredo
e nem ler a legenda, pois como ela era
professora de Inglês, podia dar-se ao luxo de somente ouvir a película.
Entre algumas pinceladas de esmalte,
Diná erguia os olhos para prestar
atenção em alguma cena que lhe chamara atenção ou alguma que ela achava
muito interessante.
Entre todas, Diná gostou muito da cena
no restaurante, quando a esposa do médico deseja a ele um feliz aniversário,
sem ve-lo e nem saber que o mesmo estava presente.
Após terminar de assistir ao filme e
fazer uma pequeno lanche, Diná foi deitar-se para descansar e assim estar sem
suas costumeiras olheiras à noite.
Seu sono foi bastante agitado e ela
teve um sonho muito estranho.
Diná acordou
e ficou pensando no sonho estranho e ficou preocupada, pois nas poucas vezes
que dormia durante o dia, ela não costumava sonhar.
Quando o marido chegou, ela contou seu
sonho para ele:
O sonho era muito estranho, dizia
Diná, pois eu tentava embarcar em um carro, em frente a uma igreja, e quando eu
chegava perto, ele arrancava em disparada. E o mais estranho no sonho,
continuou ela, era que dentro do carro havia uma noiva.
Eu gostaria de entender esse sonho,
pois eu não conseguia ver a fisionomia da noiva, portanto, não poderia saber
quem ela era, mas eu tinha a nitidamente sensação de que a noiva era eu mesma.
Francisco, com sua costumeira sutileza
respondeu:
Isso é bobagem, pois como tu não és a
noiva no casamento de hoje à noite, podemos chegar atrasados, à vontade.
Ao que Diná retrucou:
Bobagem nada. Este sonho deve ter
algum significado. E não devemos chegar atrasados, porque, apesar de não sermos
os noivos, nós somos os padrinhos.
Então vamos nos arrumar, falou
Francisco.
Diná foi
então vestir-se e maquiar-se, e ficou pronta, antes mesmo de Francisco, que
costumava ficar pronto esperando por ela, pelo menos por meia hora.
Mas Diná não tirava o sonho da mente e
enquanto vestia-se, tentava “decifrá-lo”.
Às 19:30 os dois estavam prontos para
sair, quando Francisco perguntou-lhe:
Nós não
vamos levar alguma coisa de presente para os noivos? Eu não os conheço, mas
acho que ainda assim deveríamos oferecer alguma lembrança.
Sim, eu já
comprei um lindo vaso de cristal e pedi que a própria loja, a Cristais Hering
entregasse na casa da noiva.
Ah! Você
pensa em tudo, não?
Diná deu um sorriso para o marido,
saiu do apartamento e dirigiram-se, de braços dados para o elevador, que os
levaria até a garagem do prédio e finalmente até o carro.
Chegaram na Igreja Matriz de São Paulo
Apóstolo cerca de 15 minutos antes da hora marcada para o casamento.
Ao entrarem na igreja, não
reconheceram ninguém, principalmente Diná, pois a noiva era uma de suas alunas
do Curso de Letras da Universidade.
Diná achou estranho o fato de não ter
visto nenhuma das colegas da Cândida, a noiva, e pensou:
Certamente ela não convidou ninguém da
sala, pois convidando uma pessoa, deveria convidar muitas, e como uma festa,
geralmente tem o custo proporcional ao número de convidados, com certeza
Cândida resolveu não convidar ninguém do Curso, a não ser ela mesma, a
professora.
Francisco, que não conhecia ninguém,
perguntou:
Quantas dessas pessoas são ou já foram
tuas alunas?
Por incrível que possa parecer,
ninguém, respondeu Diná.
Que estranho, falou Francisco.
Então os dois, de braços dados
dirigiram-se ao altar e cumprimentaram alguns convidados, bem como os
padrinhos, que já estavam no altar, esperando pela noiva.
Quando Diná percebeu quem era o noivo,
ficou pálida, pois este não era o noivo da Cândida. Ela só o tinha visto duas
ou três vezes, mas sabia que não era aquele rapaz.
Então, disfarçadamente cochichou no
ouvido do marido:
Vamos lá fora que eu não estou
passando bem.
Francisco sem notar a palidez da
esposa, acompanhou-a até o carro.
Ao entrarem no carro, Diná explicou:
Este não é o noivo da Cândida. Acho
que estamos no casamento errado.
Francisco então perguntou:
A que horas é o casamento? Em que
igreja é?
Calma, respondeu Diná, eu acho que é
aqui, mas temos que olhar no convite.
Onde ele está, perguntou Francisco?
Acho que está no porta luvas, indicou
Diná.
Após tirar
tudo o que havia no porta luvas, Diná lembrou-se que havia deixado o convite em
cima da mesa do hall de entrada, no apartamento.
Vamos até em casa para olhar o
convite, sugeriu Francisco.
E voltaram para casa, em busca da
“prova”.
Ao chegar, Diná foi direto para a mesa
onde encontrava-se o convite e após le-lo, começou a rir, nervosamente.
O que foi? Perguntou Francisco.
Diná, após conter o riso falou:
Nós estamos
certos quanto à hora e a igreja. Nós só estamos enganados em um pequeno
detalhe: a data.
O casamento é Sábado que vem, dia 07
de outubro.
Então após passar a surpresa e o riso,
veio a decepção, pois Diná havia se empenhado para se apresentar da melhor
maneira possível, fazendo uma bonita presença no casamento de uma de suas
alunas, mas havia fracassado.
Tanto empenho para somente dar uma
volta na igreja e sorrir para algumas pessoas estranhas.
Então, mais tarde, após aproveitar
toda aquela produção na companhia do marido, dançando, tomando vinho e comendo
queijo, entre outras delícias, Diná lembrou-se do seu sonho.
Bem que eu
sabia que aquele sonho tinha algum significado.
O sonho era
um aviso para Diná, que não conseguiu entende-lo.
No sonho
Diná chegava atrasada no casamento, mas na realidade Diná chegou, apenas, ...
...uma
semana adiantada.
*Neida da Costa Rocha nasceu em Canoas, no Rio Grande do Sul. Em 1980, escreveu o poema PÁSCOA para o irmão falecido, e publicou no
Jornal Correio do Povo. Participa Academia de Letras Blumenauense; Casa Poeta
de Canoas; Patronesse AVSPE, Academia Letras Brasil; Patrona 27ª Feira do Livro
de Canoas/RS. Promove Oficinas Literárias. Organizou o Catálogo Escritores Canoenses. Delegada Região Sul da II Conferência Nacional de Cultura. Organizou
Coletâneas série Amigos: Joaquim Moncks, Delasnieve Daspet e Efigênia Coutinho.
Coautora do Projeto Sacola Literária Pomerodense.
Obrigada querido amigo pelo espaço para publicar um texto de minha autoria.
ResponderExcluirDisponha sempre desse espaço, porque você merece.
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