Encharcado de paixão
Depois de três lançamentos não comerciais, este é o primeiro romance de
Charles Kiefer a enfrentar o mercado. De lá para cá, cerca de duas dezenas de
livros seus já foram editados. Publicado inicialmente em 1982, no Rio Grande do
Sul, terra do autor, Caminhando na chuva tem
uma história de sucesso local, atingindo a extraordinária cifra de cem mil
exemplares vendidos.
Para que se descubra a causa de tão magno sucesso é necessário ler o livro, que a Ática, em feliz decisão, incluiu em sua coleção Sinal aberto. Lá estão as respostas.
Túlio, jovem de origem alemã, nascido no interior do Rio Grande do Sul, aos vinte anos de idade resolve registrar os principais acontecimentos de sua vida: a infância e suas descobertas; a figura do pai ausente; as dificuldades financeiras; a escola onde sofre discriminação social. Resolve superar a
As passagens de maior conteúdo emocional, entretanto, são reservadas para
o que se pode denominar de a descoberta do amor. Rosana, a menina mais bonita
da escola, envolve-se amorosamente com Túlio, que conhece o inferno da paixão e
do desejo não satisfeito.
As várias descobertas de Túlio, os obstáculos que deverá superar para
atingir um amadurecimento que não acabe com os sonhos, dessa matéria se utiliza
Charles Kiefer para dar vida ao protagonista.
Narrado em primeira pessoa, a voz de Túlio passa do tom infantil para a
voz instável da puberdade e atinge o tom mais claro e sereno do início da
maturidade. O ponto de vista é uma escolha acertada, de vez que torna a
narrativa o testemunho de quem viveu os acontecimentos narrados. A interlocução
com o leitor e a metalinguagem são outros elementos estruturantes do romance,
lembrando, por vezes, o velho Machado, mas acima de tudo botando a história no
regaço do leitor, criando com ele uma cumplicidade da qual dificilmente poderá eximir-se.
A linguagem coloquial, típica da faixa etária em que se enquadra Túlio,
com laivos de oralidade, é outro fator da conquista do jovem leitor que tão bem
recebeu este livro nos pagos gaúchos, carreira que deverá repetir, certamente,
neste lançamento nacional da Ática. Habituado à linguagem ensaística (o autor é
doutor em Teoria da Literatura), Charles Kiefer não estranha os caminhos que
deverá percorrer até atingir a linguagem dos jovens de hoje.
Não há como não empatizar com este jovem de rosto espinhento, que sonha
sonhos bons, porque é bom, porque é visceralmente humano.
Autor: Charles Kiefer
Editora: Ática
Coleção: Sinal aberto
Páginas: 96
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