terça-feira, 24 de outubro de 2017

ORELHA

Esta coluna reúne apresentações de livros feitas por Menalton Braff.

Encharcado de paixão

Depois de três lançamentos não comerciais, este é o primeiro romance de Charles Kiefer a enfrentar o mercado. De lá para cá, cerca de duas dezenas de livros seus já foram editados. Publicado inicialmente em 1982, no Rio Grande do Sul, terra do autor, Caminhando na chuva tem uma história de sucesso local, atingindo a extraordinária cifra de cem mil exemplares vendidos.

Para que se descubra a causa de tão magno sucesso é necessário ler o livro, que a Ática, em feliz decisão, incluiu em sua coleção Sinal aberto. Lá estão as respostas.

Túlio, jovem de origem alemã, nascido no interior do Rio Grande do Sul, aos vinte anos de idade resolve registrar os principais acontecimentos de sua vida: a infância e suas descobertas; a figura do pai ausente; as dificuldades financeiras; a escola onde sofre discriminação social. Resolve superar a
desvantagem financeira com a inteligência, de que é bem dotado. Toma gosto pelo estudo e pela leitura, como fatores de ascensão social.

As passagens de maior conteúdo emocional, entretanto, são reservadas para o que se pode denominar de a descoberta do amor. Rosana, a menina mais bonita da escola, envolve-se amorosamente com Túlio, que conhece o inferno da paixão e do desejo não satisfeito.

As várias descobertas de Túlio, os obstáculos que deverá superar para atingir um amadurecimento que não acabe com os sonhos, dessa matéria se utiliza Charles Kiefer para dar vida ao protagonista.

Narrado em primeira pessoa, a voz de Túlio passa do tom infantil para a voz instável da puberdade e atinge o tom mais claro e sereno do início da maturidade. O ponto de vista é uma escolha acertada, de vez que torna a narrativa o testemunho de quem viveu os acontecimentos narrados. A interlocução com o leitor e a metalinguagem são outros elementos estruturantes do romance, lembrando, por vezes, o velho Machado, mas acima de tudo botando a história no regaço do leitor, criando com ele uma cumplicidade da qual dificilmente poderá eximir-se.

A linguagem coloquial, típica da faixa etária em que se enquadra Túlio, com laivos de oralidade, é outro fator da conquista do jovem leitor que tão bem recebeu este livro nos pagos gaúchos, carreira que deverá repetir, certamente, neste lançamento nacional da Ática. Habituado à linguagem ensaística (o autor é doutor em Teoria da Literatura), Charles Kiefer não estranha os caminhos que deverá percorrer até atingir a linguagem dos jovens de hoje.

Não há como não empatizar com este jovem de rosto espinhento, que sonha sonhos bons, porque é bom, porque é visceralmente humano.

Autor: Charles Kiefer
Editora: Ática
Coleção: Sinal aberto
Páginas: 96





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