sábado, 3 de fevereiro de 2018

RESENHA

O mundo cor-de-rosa
(Por Menalton Braff)
  
A doçura do mundo, da escritora indiana Thrity Umrigar radicada nos Estados Unidos, foi um dos lançamentos da Nova Fronteira no ano de 2008. E um lançamento que dificilmente se justifica.
A autora, Umrigar, tem suas virtudes literárias radicadas no plano da expressão. Apesar de jornalista em Ohio, não escreve como jornalista. Suas metáforas, sem serem achados de criatividade, são razoáveis. Pelo menos aquelas que não caem no chavão desgastado. Melhores são as comparações, algumas mesmo surpreendentes, como “O rosto de Eva tornou a se franzir, como um penhasco arenoso banhado por uma onda”.
Mas é só. No plano do conteúdo, há falhas que um leitor brasileiro médio já não consegue suportar. E a primeira é a previsibilidade. Desde o início pode-se prever a decisão final da personagem protagonista: Tehmina, uma indiana recém-viúva que, passando uma temporada com o único filho, já transformado em cidadão americano, deve decidir entre voltar à sua Bombaim ou ficar definitivamente ao lado do filho e da legião de amigos conquistados em seu novo lar: Ohio.
A narrativa torna-se tediosa, tal a insistência com que a narradora compara a Índia com os Estado Unidos. Sua visão maniqueísta é que anuncia o final do romance. Escolher entre céu e inferno só é um conflito pessoal quando se usam os óculos da extrema ingenuidade. A senhora Umrigar
comete falhas como comparar a classe média norte-americana com miseráveis da Índia. Tanto existem miseráveis nos Estados Unidos como classe média na Índia, mas isso ela esconde. Ou desconhece
Outro senão do livro é a tradução. Existem algumas expressões, e bastante freqüentes, como “Rustom deu um sorriso tristonho” ou “Deu um olhar desenxabido para o amigo” em que a tradução parece ter sido de dicionário. Caso mais grave é “...preparou para a amiga um omelete temperado...”
Enfim, um livro que tem na capa à guisa de mote “O melhor lugar do mundo é um só: perto daqueles que amamos”, lugar-comum de nível ginasiano, não pode ser levado muito a sério.

O estranho é que grandes editoras brasileiras continuem insistindo em publicar literatura dessa qualidade em detrimento de autores brasileiros cuja literariedade é bem superior. É uma questão de mercado? Então por que não se investe em promoção de autores nacionais, sobretudo agora, que o dólar foi parar nas nuvens?  

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