A doçura do mundo, da escritora
indiana Thrity Umrigar radicada nos Estados Unidos, foi um dos lançamentos
da Nova Fronteira no ano de 2008. E um lançamento que dificilmente se
justifica.
A autora, Umrigar, tem suas virtudes literárias radicadas no plano da
expressão. Apesar de jornalista em Ohio, não escreve como jornalista. Suas
metáforas, sem serem achados de criatividade, são razoáveis. Pelo menos aquelas
que não caem no chavão desgastado. Melhores são as comparações, algumas mesmo
surpreendentes, como “O rosto de Eva tornou a se franzir, como um penhasco
arenoso banhado por uma onda”.
Mas é só. No plano do conteúdo, há falhas que um leitor brasileiro médio
já não consegue suportar. E a primeira é a previsibilidade. Desde o início
pode-se prever a decisão final da personagem protagonista: Tehmina, uma indiana
recém-viúva que, passando uma temporada com o único filho, já transformado em
cidadão americano, deve decidir entre voltar à sua Bombaim ou ficar
definitivamente ao lado do filho e da legião de amigos conquistados em seu novo
lar: Ohio.
A narrativa torna-se tediosa, tal a insistência com que a narradora
compara a Índia com os Estado Unidos. Sua visão maniqueísta é que anuncia o
final do romance. Escolher entre céu e inferno só é um conflito pessoal quando
se usam os óculos da extrema ingenuidade. A senhora Umrigar
comete falhas como
comparar a classe média norte-americana com miseráveis da Índia. Tanto existem
miseráveis nos Estados Unidos como classe média na Índia, mas isso ela esconde.
Ou desconhece
Outro senão do livro é a tradução. Existem algumas expressões, e bastante
freqüentes, como “Rustom deu um sorriso tristonho” ou “Deu um olhar desenxabido
para o amigo” em que a tradução parece ter sido de dicionário. Caso mais grave
é “...preparou para a amiga um omelete temperado...”
Enfim, um livro que tem na capa à guisa de mote “O melhor lugar do mundo
é um só: perto daqueles que amamos”, lugar-comum de nível ginasiano, não pode
ser levado muito a sério.
O estranho é que grandes editoras brasileiras continuem insistindo em
publicar literatura dessa qualidade em detrimento de autores brasileiros cuja
literariedade é bem superior. É uma questão de mercado? Então por que não se
investe em promoção de autores nacionais, sobretudo agora, que o dólar foi
parar nas nuvens?
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