In corpore sano. Isso é velho pra burro. Todo mundo
sabe. Vem lá da antiga Roma, coisa de Juvenal, retórico e poeta. E há quem
pratique as atividades físicas com prazer. Não é o meu caso.
Meu cardiologista me pôs contra a parede: ou anda
mais de meia hora cinco vezes por semana ou o motor pode fundir a qualquer
momento. Como tenho a intenção de deixar mais alguns assuntos resolvidos no
tempo que me couber entre vocês, resolvi que era melhor acatar a orientação do
médico. Acho que já disse por aqui mesmo que não sinto o menor prazer em ficar
gastando o corpo em alguma atividade. Se a pratico, é porque sinto prazer em
estar vivo. Verdade, essa máxima aí do Juvenal já conheço desde criança,
acredito nela, mas entre acreditar e sentir prazer a distância é muito grande.
Faço minhas caminhadas como quem toma remédio. E
ninguém vai me dizer que se toma remédio para sentir prazer. Só me lembro de
um, em toda a minha vida, que, quando criança pedia para tomar. Era o Peitoral
Cambará, mais gostoso do que leite com groselha. Depois mudou de nome, mas
continuamos fingindo tosse para ganhar uma colher de duas em duas horas.
Fui algum tempo um caminhante de ruas e avenidas,
dando encontrões involuntários e fazendo paradas que me exigiam o trânsito.
Fumaça? Bom, respira-se fumaça numa situação dessas.
Hoje, aqui em nossa cidade, ganhamos um local bem
melhor: é o Parque Bela Fonte.
A pista circular de mais de quatrocentos metros
contorna um lago povoado por peixes e patos. No entorno do parque,
principalmente ao sul do mesmo, um bosque de árvores, como dizer, frondosas (me
perdoem o lugar comum). Mas realmente são árvores imensas, copas lá no alto,
onde sabiás, bem-te-vis, pardais, maritacas e outros, muitos outros pássaros
nos desafiam sabendo que estão bem fora de nosso alcance.
Alguém de vocês já viu pato com mania de passarinho?
Pois aqui em nosso parque alguns deles, de vez em quando, levantam voo e vão
parar em algum daqueles galhos lá do alto. Ah, sim, e no parque não se respira
fumaça.
Bem, pra resumir a história e mostrar algum
resultado, eu, que há muitos anos tomava um medicamento para manter minha
pressão em um limite bem comportado, hoje me vi obrigado a abandonar o remédio.
Sempre pensei que teria de tomar alguma coisa para me segurar a pressão no
lugar certo até o suspiro final; fiquei surpreso, bastante surpreso mesmo
quando me vi livre de qualquer medicamento para pressão.
Continuo praticando minha caminhada sem que ela me
cause qualquer satisfação, mas dela não desisto, como não desisto de comer, de
respirar, de viver.
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