(Ernane Catroli)
O gorgolejar do sangue nas carótidas infladas e o que me vem de porões. Maquiados porões.
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Nomes. Lista de nomes. Nomes que até hoje.
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E conchavos. Conchavos e terror. Também furor abissal. Irrefreável. Era isso que era?
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Por vias tortuosas, encasquetei de encontrar o general tantos anos depois. Tínha notícias vagas por intermédio de um caminhoneiro que o encontrou numa cidadezinha do Espírito Santo.
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O quarto. O quarto de janelas abertas. E outras tantas janelas abertas não bastariam.
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Ele me encarou como se vasculhasse retratos sem cor.
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A cama de ferro e a sua mão sobre o lençol.
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Havia nele um resto da minha lembrança dele. Um resto.
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Um mantra da minha infância - retornando vívido - até a divulgação dos resultados da Comissão
Nacional da Verdade com aquela cara no jornal. Pai. Pai. Pai.
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Baixei a cabeça. Olhei minhas mãos.
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E estremeci como se atingido por um fluxo de lava.
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De lava. Um fluxo.
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Mas ainda procurei o seu rosto.
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Ele já olhava em outra direção.
*
O perfil torturado.
- Ernane Catroli é mineiro (Sant'Anna de Cataguases). Há muitos anos reside no Rio de Janeiro.
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