MENALTON 80 ANOS - por Osvaldo Félix

Ao longo desses 80 anos, Menalton colecionou amigos e admiradores ou amigos/admiradores 

e eles agora dizem o que pensam sobre a sua obra. 

Osvaldo Félix:


Não sei em quais escaninhos da alma residem as paixões de Menalton Braff pela pintura impressionista, mas é inegável a influência, sobretudo de Monet e Renoir, na sua criação literária e na depuração de seu estilo.

Talvez as nuances da luz sobre a paisagem e o fenômeno da iridescência despertem nele emoções latentes que aproximam os homens em meio a opacidade do mundo e lhe revelem as intermitências da alegria contidas na conturbada paisagem da existência.

Da literatura, o autor recebe de Flaubert, Dostoiévski, Proust e Clarice Lispector as influências decisivas para sua formulação estética. Decisivo nesse caso não é apenas a influência, que envolve toda literatura, mas o vínculo estabelecido entre a sua produção literária e as obras literárias de
alta qualidade, que ele soube ler e extrair delas a essência estilística com a qual formou seu estilo, lapidando-o com suas veleidades sem sofrear ímpetos originais. Daí decorre o fato de ser um escritor dentro de uma tradição, mas com formas novas, sem necessariamente serem inovadoras, dentro do fenômeno estético conhecido por Tradição e Modernidade.

Em suas obras, o tratamento descritivo não resulta apenas em objetivismo pormenorizado, mas aponta para as linhas mestras de sua ficção: a memória, o isolamento do homem e o sentimento de bloqueio que o impede de se defrontar com os seus semelhantes, a insatisfação da vontade, e o vazio dilacerante do tédio. Em obras como O casarão da Rua do Rosário, Bolero de Ravel, A muralha de Adriano e em alguns contos de À sombra do cipreste, a teia do interesse subjetivo prende-se a uma poética de superfície, de tal forma que o sentimento de bloqueio é observado a partir
de elementos externos que se fecham em círculos concêntricos até chegar ao isolamento do sujeito, forçando-o a deparar-se de maneira crítica com ele próprio.