segunda-feira, 6 de agosto de 2018

CARTAS DO INTERIOR

De novo na estrada


Não faço carreira acadêmica, mas os assuntos teóricos sempre me atraíram, por isso essa foi a quarta vez que assisti a algumas das mesas e comunicações da ABRALIC (Associação Brasileira de Literatura Comparada), dessa vez em Uberlândia. Mas sempre tive um bom motivo para o comparecimento a estes encontros, porque além da minha curiosidade, acompanho a Roseli, minha mulher, que participa com alguma Comunicação, como foi o caso na UFU, e ainda mais, seu texto, de literatura comparada, trabalhou o conto A morta, de Guy de Maupassant, e o meu Quatro anos depois; o primeiro um conto fantástico e o meu um conto do realismo mágico ontológico.

Destes encontros, em geral, o mais prazeroso são os amigos que se encontram. Professores e estudantes de todo o Brasil (além de convidados do exterior) num encontro de velhos amigos extraviados pelo mundo, e amigos novos que a afinidade acaba por apresentar.

Não imaginava a Universidade Federal de Uberlândia com um campus de magnitude assim impressionante. Muitos prédios, belas instalações. Uma pena que se tem ouvido falar com muita insistência no corte de verbas para a educação superior e para a pesquisa científica. Um país que não
produz seu próprio pensamento está fadado à subserviência em relação a outros. E isso significa abdicar de suas riquezas para recolher migalhas debaixo da mesa de seu senhor. Parece que já li alguma coisa semelhante na bíblia.

E de novo a estrada. Uma coisa que se notou foi a cor de palha seca em boa parte da paisagem. Então começaram a aparecer vastas extensões de vales e colinas avermelhadas. Só depois de chegar mais perto de uma daquelas plantações concluí que se tratava de sorgo. Não tenho experiência agrícola. E se era sorgo mesmo, era provavelmente do tipo forrageira, pois estávamos em uma região de pecuária.

De repente, lá no meio de um bosque, aquela mancha amarela, aquele sol no meio do verde das outras copas. Era o ipê. Então passamos a observar o aparecimento deles à beira da estrada. Eram poucos, muito poucos. E com flores ralas, meio que tristes, tão tristes como os tempos que temos vivido neste triste Brasil.

Fazia mais de vinte anos que não passava pela estrada que continua a Anhanguera e saber que aquela velha ponto de aço (enferrujado) ligando São Paulo a Minas Gerais tinha sido substituída por outra de concreto, moderna, descobrir que a antiga estrada esburacada e de pista única cedera lugar a uma estrada de duas pistas, com leito razoavelmente bem conservado, foi uma grata surpresa.

Semana que vem tenho mais estradas me esperando.

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