segunda-feira, 24 de setembro de 2018

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas inéditas de Menalton Braff

Feiras


Meu amigo Adamastor, o gigante camoniano, bem aqui, nesta mesma cadeira agora vazia, me contestou. Que falar mal de uma feira do livro era o mesmo que dar tiro no próprio pé. Para início de conversa, eu não disse, mas pensei, que essa era uma metáfora meio idiota. Já quase uma catacrese.

Primeiro eu quis saber o que ele achava que era “falar mal”. Ele se atrapalhou, enrolou, mas não soube me explicar que, neste caso, falar mal era a tentativa de matar as feiras, emitindo opiniões contrárias à existência delas.

Ora, meu caro gigante, eu critico e vou continuar criticando, aquilo que me parece desvio de objetivo. Se a feira é do livro, entenda, meu caro, é do livro e ponto final. Pois bem, o que vem acontecendo ultimamente em que as feiras do livro pululam por todo o interiorzão do Brasil? Os organizadores de feiras, em primeiro lugar, não têm noção de mercado editorial, desconhecem os objetivos da realização de uma feira, por isso, pensam que o critério de sucesso da feira é a quantidade de pessoas que colocam lá dentro. Na hora de captar os recursos para sua realização, eles botam o livro no peito
(qualquer livro) e saem à procura (na maioria dos casos entidades públicas) de quem vai pagar a conta da festa.

Ah, sim, o livro era apenas a fachada para a obtenção de recursos. O Adamastor, começando a se irritar, disse que era apenas opinião minha. Então relatei a passagem que fiz por certa cidade que colocara um outdoor na beira da estrada anunciando a Feira do Livro. Havia cinco nomes anunciados para atrair o público. Cinco cantores, alguns bem da moda.

Se um dia o anúncio de um show de música popular acrescentar o nome de escritores, não digo nada. Claro que os cantores anunciados atraem público. Então se é isso que interessa, a quantidade de pessoas, me calo. Mas que se captem recursos, então, para um festival de música popular, sem envolver o livro para arranjar dinheiro.

O assunto me faz lembrar de um escritor dos mais populares do Brasil, que, em certa ocasião, afirmou que a cidade que precisa de cantores para realizar uma Feira do Livro é porque tal cidade ainda não está preparada para isso, ou seja, não tem necessidade de uma feira.

Não, meu amigo Adamastor, não sou contra as feiras. Só contra o desvio de objetivo, ou a falta de. Enquanto se priorizar a quantidade de pessoas que vão ver seus ídolos cantores, em prejuízo do livro, pois terminado o show o público desaparece, vou criticar, porque é meu direito e porque acho necessário melhorar.

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