Esta coluna reúne entrevistas antigas de Menalton Braff. A escolhida para hoje foi publicada pela Revista Macondo em abril de 2012.
[Retrospectiva] Entrevista com Menalton Braff
Menalton Braff, recentemente, lançou seu novo romance
“Tapete de Silêncio” pela Global Editora. No último número da Revista Macondo,
entrevistamos o escritor – aproveite para relembrar alguns dos assuntos
abrodados na ocasião.
Macondo: Você se sente mais à vontade escrevendo
romances ou contos?
Menalton Braff: Sou por índole mais romancista do que
contista. Sinto-me melhor nadando no oceano do que numa piscina. Não desgosto
do conto, mas é uma experiência de pouca duração. Prefiro o convívio lento,
prolongado, com as personagens, a estrutura, e a linguagem.
Macondo: Entre “À Sombra do Cipreste”, que completa,
em 2012, treze anos, e “Tapete de Silêncio”, seu último livro recém-escrito,
lançado agora pela Global Editora, algo mudou no seu processo de criação e
escrita? O quê?
Menalton Braff: Não creio que tenha mudado. O que
acontece é uma constante busca e isso implica um olhar mais agudo e mais
atento, um trabalho com a linguagem mais intenso, mas o que eu procurava com “À
sombra do cipreste” e o que continuo procurando ainda hoje: a minha inflexão, o
meu jeito de fazer literatura.
Macondo: Quais seriam as principais diferenças, para
você, entre os escritos de Salvador dos Passos, da década de 1980, e os de
Menalton Braff?
Menalton Braff: Posso falar da principal diferença. O
Salvador dos Passos foi o “caderno de
exercícios” do aluno Menalton. Há certa continuidade entre eles, se bem com um
afinamento dos instrumentos. Mas uma diferença é grande: o Salvador era
panfletário, ou disso se aproximava. O Menalton deixou de querer salvar o
mundo. Minhas inquietações se tornaram mais complexas e não consigo mais ver a
sociedade da forma simplista como via. Eu via o homem através de óculos
políticos. Agora quero ver o homem primeiro e, se for o caso, até botar os
óculos, mas depois.
Macondo: Em 2000, seu livro de contos “À Sombra do
Cipreste” ganhou o prêmio Jabuti de Melhor Livro de Ficção; este, ainda, um dos
maiores reconhecimentos em forma de premiação do país. O quanto isso
influenciou ou modificou sua carreira ulterior de escritor?
Menalton Braff: Eu nem diria que influenciou ou
modificou. Melhor seria dizer viabilizou. Na verdade (e esta é a situação
existente no Brasil), um autor obscuro, sem que lhe aconteça algo, permanecerá
obscuro para sempre. É preciso alguma explosão para que se torne visível. É
preciso que um livro se torne um fato noticiável para que apareça. Claro que
não é esse o único caminho, mas esse foi o meu caminho.
Macondo: Como você vê a literatura contemporânea
brasileira? Acompanha o lançamento de novos livros, produções de novos
escritores nacionais?
Menalton Braff: A literatura não está mal, a não ser
pela falta de leitores. Lê-se mais hoje no Brasil? Sim, isso é verdade. Mas o
que se lê não merece o nome de literatura. Na medida do possível acompanho o
que se está fazendo, tenho notícias das principais tendências. Tenho algumas
leituras de obrigação (o que não impede o prazer) e isso não me permite ler
tudo que gostaria. Mas alguns autores jovens eu consigo acompanhar.
Macondo: Você é uma pessoa bastante ligada às redes
sociais – mantém um blog constantemente atualizado e interage com seus leitores
através da rede. Como sente essa proximidade com os leitores? E, ainda, como vê
a relação entre “internet” e “literatura”?
Menalton Braff: Me parece que estas mídias novas nos
ajudam. Claro que se deve tomar o cuidado de não substituir o consumo e a
produção da literatura pelo verdadeiro voyeurismo a que somos sempre tentados.
Procuro me disciplinar, impor-me horários para não cair na cilada. A relação da
internet com a literatura, segundo penso, é apenas de divulgação, a
possibilidade de ir mais longe. Não acredito em uma literatura do internetês. O
modo de se produzir (escrever a lápis em cadernos ‒ como fazia o Graciliano,
usar uma Olivetti, como fiz boa parte de minha vida, escrever no computador,
nada disso muda a estrutura mais profunda do pensamento).
Macondo: Como foi que começou a escrever livros de
literatura infanto-juvenil? Qual sua relação com esses escritos, com o gênero,
com o público-alvo…?
Menalton Braff: As perguntas todas estão relacionadas
à mesma resposta. Como professor, que fui, convivia com adolescentes, conhecia
suas idiossincrasias, seus valores, suas perplexidades e expectativas. Alguém
me desafiou perguntando por que nunca havia escrito para aquele que era meu
público imediato, com quem trabalhava todos os dias. A ideia demorou ainda
algum tempo germinando. Mas um dia, depois de uma cena vivida, e envolvendo a
cena com um conto que me parecia falhado, me ocorreu a vontade de tentar um
romance juvenil. E assim me saiu a primeira publicação no gênero. Bem, procuro
não fazer muitas concessões, pois acho que literatura juvenil ou infantil são
de qualquer forma literatura. Alguns cuidados, entretanto, tenho de tomar. Por
exemplo, as questões éticas não podem ser esquecidas. Quando se fala a um ser
em formação, a responsabilidade é outra. Outro cuidado é com a linguagem. Não
aderir à linguagem deles, usando gírias, que envelhecem um texto muito cedo,
mas também não usar palavras “mortas”, como palor, périplo. Existem maneiras de
se dizer isso, com um português mais moderno sem necessidade de ser modernoso.
Macondo: Você é formado em Letras e, durante anos,
exerceu a atividade de professor. O Rubens Figueiredo, recentemente, numa
entrevista, quando indagado se preferia escrever ou traduzir, respondeu que
preferia, na verdade, dar aulas. E você, concilia bem as duas ocupações? Como
vê a relação entre escrever e ministrar aulas?
Menalton Braff: Conciliei muito tempo, mas de maneira
conflituosa. Na sala de aula somos obrigados a ensinar as normas, pois ninguém
rompe com o que não conhece. Na hora de escrever, esquecia as normas e me
dedicava às rupturas. Estou convencido de que um escritor que não tenha outra
relação com os seres humanos a não ser intermediado por sua escrita, se
empobrece. Então, não lastimo o tempo gasto em sala de aula, que poderia
parecer um tempo roubado à literatura. Eram experiências de relacionamento
humano que, penso eu, de alguma forma me enriqueciam. Mas é claro, sempre
preferi escrever. Apesar do parentesco entre as duas atividades que cabem
juntas no grande capítulo da comunicação.
Macondo: Fale-nos um pouco sobre alguns projetos
futuros seus: novos livros que estão por vir, trabalhos, ideias a serem postas
em prática, empreitadas pelo mundo literário…
Menalton Braff: Bem, começo pelos livros futuros:
tenho dois livros já editados com contrato vencido, tenho quatro romances
inéditos e duas coletâneas de contos esperando a vez. Além disso, continuo
antenado ao mundo, e eventualmente surgem temas ou figuras para um conto ou
outro, e de repente pode pintar assunto para um novo romance. Contribuo
periodicamente com as revistas eletrônicas Bula e Carta Capital, aceito
convites para eventos literários (palestras, mesas, salões de ideias e outros),
tenho visitado escolas que adotaram livros meus para conversar com os alunos,
viajo com bastante frequência. Mantenho meu blog e meu facebook, mais ou menos
atualizados, leio quanto posso, às vezes me pedem um prefácio, uma orelha,
enfim, atividade é o que não me falta.
Meu próximo livro, por minha vontade, será o romance O
casarão da rua do Rosário. Gosto muito do resultado.
Macondo: Para finalizar, como já é hábito daqui,
gostaríamos de pedir que você deixasse algumas palavras aos escritores que lêem
a revista e que possuem um interesse muito próprio ligado ao “ler” e ao “fazer”
literatura; muitas vezes, estão começando agora a esboçar primeiros escritos ou
procurar um espaço para divulgação de trabalhos.
Menalton Braff: A primeira coisa que se pode dizer a
um futuro escritor é que ninguém se torna escritor sem que tenha paixão pela
leitura. Mas não uma leitura aleatória, como quem diz “Leio tudo que me cai nas
mãos.” Sem essa! A quantidade de livros é ilimitada e nosso tempo é limitadíssimo.
É preciso ser seletivo. Críticos, professores, resenhistas, escritores
experientes devem ser ouvidos. Depois de produzir, mostrar. Há blogs onde se
pode expor o que se produz, mas há os amigos ligados ao assunto, que também
deve ler e, por que não, até os familiares devem ler. E participar de
concursos, isso é imperioso. Quando se participa de um concurso, pelo menos
três leitores se consegue. E depois, ou antes de tudo, se é o caso de poesia,
ler Cartas a um jovem poeta, de Rilke. É a bíblia do poeta.
3 livros:
*Ao final das perguntas, como é de costume na seção
“Entrevista”, pedimos para que Menalton Braff listasse três livros que, de
alguma forma, foram importantes para a sua vida. São eles:
Dom Casmurro, de Machado de Assis
O lustre, de Clarice Lispector
Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust
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