terça-feira, 18 de junho de 2019

INSTINTO DE NACIONALIDADE

Nos dias atuais, com a democratização oferecida pelos meios eletrônicos, proliferam escritores nos sites e blogs que aceitam passivamente qualquer coisa sem critério algum. No Brasil, temos mais escritores do que leitores. E quando se trata de literatura, é preciso munir-se o candidato a escritor de alguns conceitos, de algumas práticas para que suas tentativas não caiam na vala comum da sub-literatura, como dizia Adorno.
O Bruxo do Cosme Velho, nosso maior, além de textos literários, seus romances e contos, principalmente, deixou-nos também textos sobre literatura. E ele sabia das coisas.
O “Instinto de Nacionalidade – Notícia da atual literatura brasileira” pela análise que Machado faz da literatura de seu tempo, os conceitos que emite, são de enorme validade para os dias que correm, um texto que candidato algum à carreira literária pode desconhecer.
Eis por que estamos inaugurando uma coluna com o título acima, uma coluna com trechos do texto machadiano. E aí segue nosso convite. Os trechos são curtos e serão publicados um a cada semana.
Boa viagem.

INSTINTO DE NACIONALIDADE 1

 Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro. As tradições de Gonçalves Dias, Porto-Alegre e Magalhães são assim continuadas pela geração já feita e pela que ainda agora madruga, como aqueles continuaram as de José Basílio da Gama e Santa Rita Durão. Escusado é dizer a vantagem deste universal acordo. Interrogando a vida brasileira e a natureza americana, prosadores e poetas acharão ali farto manancial de inspiração e irão dando fisionomia própria ao pensamento nacional. Esta outra independência não tem Sete de Setembro nem campo de Ipiranga; não se fará num dia, mas pausadamente, para sair mais duradoura; não será obra de uma geração nem duas; muitas trabalharão para ela até perfazê-la de todo. Sente-se aquele instinto até nas manifestações da opinião, aliás mal formada ainda, restrita em extremo, pouco solícita, e ainda menos apaixonada nestas questões de poesia e literatura. Há nela um instinto que leva a aplaudir principalmente as obras que trazem os toques nacionais.
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