segunda-feira, 19 de agosto de 2019

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Menalton Braff.

Que vergonha


Na minha adolescência, nós, adolescentes, nos reuníamos num parque, o Parque da Redenção, em Porto Alegre para discutir, declamar, cantar. Isso à noite, pois éramos todos alunos do Clássico, do Colégio Ruy Barbosa, e muitas vezes matávamos aula para aquelas incursões no parque. Estávamos descobrindo a literatura e até briga saiu em nome de autores e/ou estéticas. Nossas paixões exigiam atitudes apaixonadas e apaixonadamente cada um defendia suas opiniões. Mas havia consensos, muito mais pontos de encontros do que dissenções.

Outro assunto que tratávamos com paixão era a política. E, apesar da pouca idade, as ambições eram vastas. Nós queríamos salvar, em primeiro lugar, o Brasil. Em seguida salvaríamos o mundo. Eram nossos projetos, pois sentíamos orgulho de um país que amávamos. Lá, no Parque da Redenção, à noite, nossos professores aproveitando, talvez, um ócio inesperado. Terminamos o terceiro ano e nos dispersamos, claro. Mas carregamos conosco aquele espírito de entusiasmo pela pátria nossa que teria de se enveredar para o destino que havíamos desenhado para ela.

Então vieram forças adultas e organizadas que obliteraram nossos sonhos. Não que tenhamos parado de sonhar com o futuro brilhante do Brasil, mas tivemos de passar muitos anos tendo apenas os travesseiros como testemunhas de nossos sonhos.

Por fim, atingimos a redemocratização do país, e começamos a sonhar novamente e falar bem alto de nossos sonhos. Eis que não éramos os únicos a sonhar. Começou a crescer um grupo que tinha
projetos de um Brasil bem diferente daquele com que sonhávamos.


Agora estávamos adultos, e o sonhar de adulto é coisa muito séria. Mas este grupo que divergia de nós, acabou por mais uma vez nos silenciar. De forma diferente porque agora contava com a anuência de eleitores, que escolheram um caminho desconhecido.

O grupo que se encastelou nas ferramentas da governança, começou a trabalhar. Muito pouco, é bem verdade, que do funcionamento da máquina do Estado não entendiam quase nada. Meses e meses, discutindo, demolindo, demitindo. E o Brasil, que já não estava bem ao assumirem seus postos, ficou muito pior com a inépcia daqueles que o povo escolheu. Começaram a acontecer coisas terríveis, inimagináveis pouco tempo antes. O primeiro mandatário da nação, que juntamente com o cargo
recebe todo um protocolo de comportamento, desconhece o cargo, que assumiu de direito mas não de fato.

Seu vocabulário, suas ideias começam a correr mundo afora. E hoje o riso do mundo começa com o non sense das coisas saídas da boca de nosso principal governante. Cocô um dia sim e outro não, bandidos esquerdistas argentinos (e a boa educação onde foi que ficou?), seu mentor afirma que a Terra é plana, e muitas, muitas outras coisas do mesmo teor. O mundo ri e nós choramos.

Quousque tandem, Catilina, patientia mostra?

Onde anda nosso orgulho nacional? Hoje só podemos sentir vergonha.

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