quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

CRÍTICA LITERÁRIA

Esta coluna, iniciada em outubro do ano passado, reúne críticas literárias. As primeiras postagens contêm textos de Wagner Coriolano de Abreu, publicados originalmente no livro SEMPRE AOS PARES, lançado pela Carta Editora.


ERICO VERISSIMO 2005

(Wagner Coriolano de Abreu)

O verso de Drummond – Por isso gosto tanto de me contar –, do poema Mundo grande, cabe perfeitamente no retrato falado de Érico 
Verissimo, este contador de histórias do Rio Grande do Sul, autor de frases que não raro reaparecem nas nossas conversas, como “mundo velho sem porteira” e “era uma noite de lua cheia”, mormente nas lembranças em comum.

O ano 2005 marca o centenário do nascimento de Erico Verissimo, em Cruz Alta, e o trintenário do falecimento, em Porto Alegre.


Destes setenta anos de vida, boa parte foi dedicada aos livros, a começar pelo período cruz-altense, quando, nos intervalos de balconista de farmácia, rabiscava seus textos e croquis, pois aliava ao estilo verbal o gosto pelo desenho, e posterior período porto-alegrense, quando desenvolve intensa atividade junto à Editora Globo, conforme traduções bastante conhecidas e o livro Um certo Henrique Bertaso, indispensável ao leitor curioso pela indústria livreira no Brasil.


As fotos que compõem o calendário 2005, do Banco do Estado, apresentam elementos recorrentes na vida do escritor. Na modalidade calendário de mesa, ele aparece em quatro situações exemplares: escrevendo manualmente, escrevendo na máquina Royal, caminhando por uma alameda e abraçado com Mafalda. De fato, a luminosidade das fotos em preto e branco põe em destaque certo magnetismo pessoal. Não bastasse a boa qualidade iconográfica do calendário, acrescenta-se ainda no verso uma breve notícia referente ao visualizado. É nessa hora que se vê o trabalho cuidadoso e imprescindível do Acervo Literário Erico Veríssimo (ALEV).


Erico lê a inscrição Arquipélago e escreve ideias para seu lançamento. Estava chegando ao final de sua trilogia O tempo e o vento, início dos anos sessenta, onde narra a trajetória da família Terra-Cambará e reconstitui a história do Rio Grande do Sul, da colonização até o fim da Era Vargas. Flávio Loureiro Chaves observa que o romance, embora seja longa narrativa, amarra o primeiro parágrafo de O Continente com o último parágrafo de O Arquipélago com a mesma redação: Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia 

um cemitério abandonado. Assim, a compreensão da obra prende-se à leitura da série como um todo.

A festa do Centenário colocará em destaque seu nome em feiras, ruas e universidades. As máquinas modernas imprimirão seus textos revisados e bem encadernados. A leitura destes livros, entretanto, precisa ser encarecida e incentivada. As crianças precisam conhecer A vida do elefante Basílio, os jovens, O diário de Sílvia. E outro verso de Drummond – Meu coração também pode crescer –, anuncia um sentimento de leitor que viaja pela narrativa de Erico.


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