Menalton Braff, um mestre
(Por: Vanessa Maranha)
Um dos teóricos que mais norteou a minha leitura e produção
literária foi Ezra Pound, para quem “grande literatura é simplesmente linguagem
carregada de significado até o máximo grau possível”.
A seguir esse axioma, a obra de Menalton Braff justifica
toda a premiação que já recebeu. A leitura de Braff em si, uma grande
experiência estética formalista, mas que não se destitui do necessário
equilíbrio entre forma e conteúdo.
Eu o leio desde que “À Sombra do Cipreste” (Editora Palavra
Mágica) recebeu o Prêmio Jabuti como Livro do Ano (o que não é pouca coisa) em
2000.
Em Menalton Braff é clara a recusa aos modismos literários,
a negativa ao hiper realismo, sua habilidade em trabalhar a palavra na
maleabilidade da língua. Braff não despreza, contudo, a tradição clássica da
literatura em razão de uma escrita puramente vanguardista. Tampouco se coloca
num estilo refratário ao novo. Ao contrário, bebe de suas fontes e sintetiza
seu próprio tom, refletindo aquilo que Roland Barthes chamou de “categorias
eternas do espírito”. “Em qualquer forma literária, há a escolha de um tom, de
um etos, e é aí que o escritor se individualiza claramente, porque é aí que ele
se engaja”, afirma Barthes.
Subvertendo a sintaxe, ao longo de toda a sua obra, Braff
concebe construções espantosamente sofisticadas. ‘Amor Passageiro’ (Editora
Reformatório), novo livro de contos de Menalton Braff, traz histórias
alinhavadas por um traço comum: falam basicamente de momentos, mas não de uma
instantaneidade bergsoniana e líquida.
Os momentos são eternizados na mão do artista, trabalhando
com perfeição o sentido do arco dramático, sem necessariamente se colocarem em
linearidade. E para dissecar esses momentos, o autor busca significações por
meio de uma linguagem precisa, exuberante, de tintas proustianas, lampejos de
inventividade numa prosa por vezes vagamente elegíaca, gênero que se põe
dialogicamente entre o épico narrativo e o lírico, trazendo aquilo que Hegel
denomina objetividade épica no fluxo narrativo e subjetivamente lírica, o que é,
em síntese, prosa poética.
“Amor Passageiro” é uma viagem cheia de sensorialidade e que
fala também de resistência e impermanência, refletindo um jeito cada vez mais
raro de ser e de estar no mundo. Mas, aqui eu acrescento a negativa a uma visão
apocalíptica que preconiza o fim da literatura a reboque do fim das utopias
para postular que não ‘seremos os últimos da nossa espécie, como disse Marcelo
Yuka, músico do Rappa que faleceu este ano.
Uma literatura impressionista, na melhor acepção da
definição. Um livro que eu li viajando, literalmente.
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