terça-feira, 4 de agosto de 2020

LITERATURA: O QUE É ISSO? (11)



Entre 2014 e 2016, Menalton Braff produziu uma série de artigos sobre Literatura a pedido do jornal Celulose Online. Este ano, decidimos voltar a postar esses textos e hoje trazemos para vocês o de número 11.  Caso tenha interesse em ler os artigos anteriores, clique nos links a seguir:

Literatura: o que é isso? (1) / Literatura: o que é isso? (2)/
Literatura: o que é isso? (3)/ Literatura: o que é isso? (4)
Literatura: o que é isso? (5)/ Literatura: o que é isso? (6)
Literatura: o que é isso? (7) Literatura: o que é isso? (8)
Literatura: o que é isso? (9) Literatura: o que é isso! (10)   


Muito se tem questionado se há realmente uma literatura nacional.

Comecemos então pelo próprio conceito contemporâneo da palavra literatura. E melhor seria dizer conceitos, pois não se trata de uma palavra unívoca.

Pelo caminho mais curto, pode-se chegar à síntese afirmando que literatura significa um conjunto de obras, com seus autores, e tudo mais que for necessário à sua existência, como leitores, professores, críticos literários. A esse conjunto extremamente heterogêneo pode-se designar por uma literatura.

Nesse sentido amplo, podemos dizer que existe uma literatura nacional, como pode-se falar em literatura desse ou daquele século. Resta então saber, nos estudos de História da Literatura, em que tal ou qual literatura se diferencia de outras literaturas.

Apenas como exemplificação: Existe alguma diferença entre os textos considerados literários do século XIX em relação àquilo que se produziu no século XX?

E tomemos o que foi produzido apenas entre os anos 1836 e 1881, um período de quarenta e cinco anos para caracterizar o século XIX. A forte influência da filosofia idealista alemã está disseminada entre a intelectualidade em geral, formando sua visão de mundo. E por ser uma época de formação de muitas nacionalidades, a “cor local” é tomada como elemento primordial na maioria dos países. A mulher é divinizada, o herói é idealizado, a percepção da realidade é maniqueísta. Não existe mediação entre os extremos. Trata-se de um período literário que por necessidade didática costumamos chamar de Romantismo.

Aqui no Brasil, sob a influência de corrente filosófica surgida na França, o Positivismo, a visão que se tem da realidade, a expectativa que se cria a respeito da vida, com a complexidade das relações humanas, principalmente, mas também com o desenvolvimento das ciências em geral (Física, Química, Sociologia, Psicologia etc.), que sofrem um impulso extraordinário, inicia-se um período a que se designa por Realismo. Os seres humanos perdem a aura de santidade, de heroísmo, o homem é trazido para o nível do leitor, o amor é dessacralizado até se chegar à aberração, ao grotesco e à zoomorfização do ser humano em pleno Naturalismo.

A partir de então as correntes de pensamento se fragmentam, a república da política avança sobre todos os outros escaninhos sociais, tornando-se como característica do século XX (e daí para frente) a inexistência de um modo predominante de pensar e escrever. O século passado é caracterizado pela liberdade, pela coexistência de muito poucas avenidas e muitas ruas secundárias.

E se no tempo ocorre o que se pode chamar de transformações históricas, em considerações do espaço isso também acontece.

Mesmo que um autor no Brasil não se preocupe com a qualidade nacional daquilo que produz, ele conta com um arsenal de produção, um arcabouço de valores, com recursos linguísticos próprios de seu tempo e de seu espaço. Um escritor uruguaio, apenas para usar como exemplo um vizinho, vive em outra realidade, onde imperam outros valores, onde as preocupações principais são outras e outras são as relações entre os seres humanos.

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