segunda-feira, 28 de setembro de 2020

CARTAS DO INTERIOR

Esta coluna reúne crônicas de Menalton Braff. A de hoje é inédita.


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Ah, sim, mas hoje eu sei por que me lembrei do Marcelino. Acontece que na semana passada escrevi qualquer de meus encontros com o Moacyr, e hoje, sendo mais uma vez sexta-feira (coisa que vem acontecendo toda semana) me ocorreu escrever novamente sobre um escritor.

Sempre que penso no Marcelino Freire, me vem à mente a personagem picaresca por me lembrar daquele Marcelino, pão e vinho. Lembram-se? Foi um filme que fez tremendo sucesso lá pelos anos 50 ou 60. Fez tanto sucesso que eu, quase sempre sou do contra, não fui assistir. O que acontece é que, por causa do título, sempre me lembrava do Lazarillo de Tormes, quero crer que a primeira novela picaresca, e que eu na verdade nem achei assim tão picaresca para que se tenha como exemplo de personagem pícara. Personagem pode ser masculino ou feminino indiferentemente.

Sim, mas e o Marcelino, o nosso, o Freire? Não, não o estou acusando de ser pícaro, tudo isso é o angu feito pela memória que talvez o Freud explique. 

O Marcelino encontrei muitas vezes. Em uma delas, fazíamos parte da mesma mesa em um festival de literatura em Ouro Preto. Além de nós dois estava à mesa o Carlos Herculano Lopes, que já conhecia de internet e de resenhas dele no O Estado de Minas. Nossa tarefa era ler um texto de nossa “própria lavra”. E eu, com minha precária dicção, li um conto (escolhi um bem curto) e me dei por satisfeito.

Então chegou a vez dos dois, claro me senti um pouco humilhado, mas depois fomos jantar juntos e curtir uma pinga com butiá e saímos de lá abraçados. Causa da humilhação: O Carlos Herculano disse que não sabia bem o que deveria fazer, não tinha sido informado, então não leria texto seu, mas ousaria declamar um trecho do Martin Fierro. Para quem não sabe, Martin Fierro é o maior poema épico argentino, do poeta José Hernández. Não controlei o tempo, mas acho que andou perto de meia hora. Fenomenal sua memória.

O Marcelino sabia o que teria de fazer e tinha trazido um livro, mas acho que motivado pela declamação do Martin Fierro, ele levantou-se, fechou o livro e declarou o título e a página, então começou a dizer seu conto. O Marcelino sabia seu conto decorado.

Claro que a essa altura eu estava escondido atrás da mesa. Mas durante o jantar já consegui me mostrar um pouco melhor. Tão melhor que aceitei o convite do Carlinhos, como foi chamado no passado no Estado de Minas, e fomos experimentar uma pinga mineira. Era na frente da pousada onde estávamos hospedados e alta madrugada atravessamos a rua. Não me lembro como.

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