quinta-feira, 29 de setembro de 2016

ESPIANDO POR DENTRO

Esta coluna reúne análises literárias escritas por Menalton Braff e publicadas originalmente em seu
site.

Obra: Os Lusíadas
Autor: Luís Vaz de Camões

O Contexto

• A tomada de Constantinopla pelos turcos provoca uma revoada de sábios que procuram abrigo na Europa Ocidental. Com eles, trazem a herança da cultura greco-romana, que no passar dos séculos vinham cultivando.

• Em 1450, a invenção da imprensa propicia, pela primeira vez na história da humanidade, a difusão em velocidade vertiginosa (para os parâmetros da época) de todo o conhecimento. O intercâmbio que tal invenção proporciona faz com que ciência e filosofia dêem um salto inimaginável.

• A Igreja Católica debate-se com dois fatores de seu enfraquecimento: a) o pensamento pagão, trazido pelos sábios de Bizâncio; b) a Reforma Protestante, que bota em cheque o poder monolítico da igreja.

• As descobertas no campo das ciências, em geral, e o desenvolvimento do saber, estabelecem novas fronteiras para as atividades humanas. As viagens tornam-se cada vez mais longas e os lucros cada vez maiores. Surge um segmento social que se dedica a uma atividade até então inexistente: os mercadores. As trocas começam a ser feitas com povos de todo o mundo conhecido. Os privilégios
feudais começam a ser contestados. No bojo da expansão mercantilista insere-se a expansão marítima. O mundo se abre. É neste ambiente de profundas transformações (da economia, das técnicas, das ciências, da filosofia) que surge em Portugal o Classicismo. É um momento de euforia do ser humano, de crença em suas próprias virtualidades, de abandono de antigos tabus, de antigas verdades, para a inauguração da Idade Moderna. Ao retornar da Itália, onde passara alguns anos, Sá de Miranda traz em sua bagagem, no ano de 1527, o dolce stil nuovo, batizado em Portugal de medida nova. O decassílabo rigoroso, as formas fixas, como o soneto, e, além de tudo, o pensamento: notícias da filosofia grega antiga, a mitologia, que se não retorna como crença religiosa, como já o fora, retorna como dado cultural e ornamento poético


A Obra 

"Os Lusíadas" constituem-se no mais importante poema da língua portuguesa. Mais importante pelo assunto de que trata, mais importante pela expansão e modernização que promove na língua.

"Os Lusíadas" são um poema épico, no qual o narrador conta de maneira alinear a história de Portugal e a história da viagem de Vasco da Gama em que o navegante descobre o caminho para as Índias. A história é contada cruzando a realidade, os fatos históricos reais, com a fantasia, uma história mítica de Portugal, além de fazer coexistirem figuras humanas da história portuguesa e figuras mitológicas. O maravilhoso convive com a realidade.

As estruturas 

São dois os enfoques estruturais.

Uma estrutura visível, aquela da qual se pode dizer que é mensurável. A outra é uma estrutura temática, referente ao assunto, que pode ser chamada de estrutura clássica.

a) Estrutura visível - O poema é dividido em 10 cantos de aproximadamente 100 estrofes cada um. O canto, no poema épico, corresponde aproximadamente à idéia que fazemos do capítulo, no romance.

São ao todo 1102 estrofes, chamadas de oitava-rima, por serem estrofes de oito versos com uma estrutura rímica rigorosa.

Os versos, por sua vez, somam 8816, todos eles decassílabos e quase todos heróicos.

A estrutura rímica é ABABABCC.

b) Estrutura clássica - Camões era um poeta clássico e não era diferente de outros poetas de seu tempo ao buscar nos antigos os modelos que deveria seguir. A estrutura clássica, ou a divisão do poema em partes temáticas, foi tomada de poetas do passado, sobretudo da Eneida, de Virgílio. E as partes são as seguintes:

I - Proposição - O narrador informa o que pretende com seu poema, qual é o objetivo a ser alcançado. Em "Os Lusíadas", o poeta declara que deverá cantar o ilustre peito lusitano, isto é, deverá cantar as glórias e feitos heróicos dos portugueses.

II - Invocação - Nesta parte, convencido de sua própria fragilidade, o poeta invoca as musas, ninfas protetoras das artes. No presente caso, Camões invoca as Tágides, ninfas que habitavam as margens do Tejo.

III - Dedicatória - Convencido de que sem um mecenas a seu poema nada resta senão a obscuridade, é praxe dedicá-lo a alguém tão poderoso que possa divulgar aquilo que foi escrito. Camões dedica "Os Lusíadas" a D. Sebastião, jovem rei da época que seis anos mais tarde (1578) deverá morrer na batalha de Alcácer Quibir.

IV - Narração - É a parte mais extensa do poema e a mais importante. Para se Ter uma idéia, a parte introdutória anterior à narração toma cerca de dezoito estrofes de um total de 1102. Nesta parte é que aparecerão os portugueses velejando rumo às Índias, aparecerá Vasco da Gama contando ao rei de Melinde a história de Portugal, a chegada às Índias, a prisão de VG, seu resgate, a viagem de volta, a Ilha dos Amores, e a chegada de volta ao lar. Com todos os obstáculos que devem ir vencendo, todas as armadilhas de Baco, principalmente, as vitórias e a intervenção sobretudo de Vênus, que protege os portugueses.

V - Epílogo - De volta a seus lares os portugueses, o narrador admoesta o rei em tom pessimista e ressentido, afirmando que ele está cercado de gente gananciosa, que não demonstra interesse nenhum pela poesia nem pela pátria, cada um cuidando de seus interesses particulares. Episódios destacáveis

O poema possui vários episódios que merecem destaque, por sua beleza poética, pelas sugestões e alusões, pelo assunto de que trata. Entre os episódios mais belos, estão:
a) A morte de Inês de Castro;

b) O Velho do Restelo;

c) O Gigante Adamastor;

d) A Ilha dos Amores.

O objeto desta aula são os dois primeiros episódios, como segue:

Os Episódios

Inês de Castro

Preliminares:

Passada esta tão próspera vitória (1),
Tornando Afonso (2) à Lusitana terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste, e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da miséria e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha (3).

Invocação ao Amor Cruel:
Tu só, tu, puro Amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Inês Saudosa nos campos do Mondego:
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a Fortuna não deixa durar muito,
saudosos campos do Mondego (4),
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes ensinando e às ervinhas
nome que no peito escrito tinhas.

Os pensamentos de D. Pedro são de Inês:
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fermosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam.
E quanto, enfim, cuidava e quanto via,
Eram tudo memórias de alegria.

D. Pedro recusa de um segundo casamento:
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas
Quando um gesto suave te sujeita
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,

D. Afonso decide matar Inês de Castro:
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co'o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
pôde sustentar o grande peso
Do furor mauro, fosse alevantada
Contra uma fraca dama delicada?

Inês é colocada diante do Rei:
Traziam-na os horríficos algozes (5)
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava

Inês sofre pelos filhos:
Para o Céu cristalino alevantando
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:

Comparação com as feras:
- Se já nas brutas feras, cuja mente
fez cruel de nascimento,
nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas têm o intento (6),
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co'a mãe de Nino (7) já mostraram,
E co'os irmãos (8) que Roma edificaram:

Inês pede piedade pelos filhos:
Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar uma donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.

Inês pede exílio:
E se, vencendo a maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida com clemência,
A quem para perdê-la não fez erro.
Mas, se to assim merece esta nocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia (9) fria, ou lá na Líbia (10) ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.

Inês continua seu lamento:
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co'o amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.

O Rei vacila, mas os carrascos a executam:
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais, e cavaleiros?

Inês entrega-se passiva como Policena:
Qual contra a linda moça Policena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co'o ferro o duro Pirro se aparelha (11);
Mas ela os olhos com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha)
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:

Crueldade do gesto dos carrascos:
Tais contra Inês os brutos matadores
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que depois a fez Rainha;
espadas banhando, e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos (12).

Reação da natureza diante do crime:
Bem puderas, ó Sol, da vista destes
Teus raios apartar aquele dia,
da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia (13)
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetisses.

Morte de Inês:
Assim como a bonina que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva cor, co'a doce vida.

Fonte de lágrimas:
As filhas (14) do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome amores.

Descrição do Velho:
Mas um velho, de aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Co'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito

Invocação contra a ambição:
- Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

Os efeitos da ambição:
Dura inquietação d'alma e da vida,
Fonte de desamparos e adultérios,
Sagaz consumidora conhecida
De fazendas, de reinos de impérios:
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,
Sendo dina de infame vitupérios;
Chamam-te Fama e Glória soberana,
Nomes com quem se o povo néscio
engana.

As promessas tolas da ambição:
A que novos desastres determinas
De levar estes reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Debaixo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
D'ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
Que triunfos? Que palmas? Que vitórias?

Invocação contra a raça humana:
Mas, ó tu, geração daquele insano (15),
Cujo pecado e desobediência
Não somente do reino soberano
Te pôs neste desterro e triste ausência,
Mas ainda doutro estado, mais que humano,
Da quieta e da simples inocência,
Idade de ouro, tanto te privou,
Que na de ferro e de armas te deitou (16)

Para que um inimigo tão longe, quando há outro tão perto?
Já que nesta gostosa vaidade
Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome "esforço e valentia",
Já que prezas em tanta quantidade
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perdê-la Quem a dá (17):

Não tens junto contigo a ismaelita,
Com quem sempre terás guerras sobejas?
Não segue ele do arábio a lei maldita,
Se tu pela de Cristo só pelejas?
Não tem cidades mil, terra infinita,
Se terras e riqueza mais desejas?
Não é ele por armas esforçado,
Se queres por vitórias ser louvado?

Invocação D. Manuel III:
Deixas criar às portas o inimigo,
Por ires buscar outro de tão longe,
a Por quem se despovoe o Reino antigo,
Se enfraqueça e se vá deitando a longe!
Buscas o incerto e incógnito perigo
Por que a fama te exalte e te lisonje
Chamando-te senhor, com larga cópia,
Da Índia, Pérsia, Arábia e de Etiópia! (18)

Maldição ao inventor do navio:
Ó maldito o primeiro que, no mundo,
Nas ondas velas pôs em seco lenho!
Dino da eterna pena do profundo,
Se é justa a justa lei que sigo e tenho!
Nunca juízo algum alto e profundo
Nem cítara sonora ou vivo engenho,
Te dê por isso fama nem memória,
Mas contigo se acabe o nome e glória.

O fogo de Prometeu e seu resultado:
Trouxe o filho de Jápeto do Céu
O fogo que ajuntou ao peito humano,
Fogo que o mundo em armas acendeu,
Em mortes, em desonras (grande engano!).
Quanto melhor nos fora, Prometeu,
E quanto para o mundo menos dano,
Que a tua estátua ilustre não tivera
Fogo de altos desejos que a movera! (19)

A ousadia humana e o seu preço:
Não cometera o moço miserando
O carro alto do pai, nem o ar vazio
O grande Arquiteto co'o filho, dando
Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio (20).
Nenhum cometimento alto e nefando,
Por fogo, ferro, água, calma e frio,
Deixa intentado a humana geração, Mísera sorte!
Estranha condição!

As notas 

1. Referência à Batalha de Salado, que simboliza o fim do avanço dos árabes sobre a Península Ibérica.

2. D. Afonso IV.

3. Inês de Castro, fidalga espanhola, era amante de D. Pedro, filho de D. Afonso IV, a mais tarde rei. Havia na ligação de D. Pedro com Inês três filhos, e julgava-se que o príncipe, estava viúvo de D. Constança, queria levar ao trono a amante, se é que não era já esposa clandestina. Reforçava esta crença geral a oposição de D. Pedro a casar-se com qualquer princesa estrangeira, no que abertamente contraria o pai. Aproveitaram isto os cortesãos insinuando o perigo de Portugal pode a vir cair, por influência da espanhola Inês, nas mãos de Espanha. D. Afonso IV não se opôs ao projeto homicida dos conselheiros, Pedro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, que, às punhaladas, assassinaram Inês. D. Pedro, subindo ao trono (1357) vingou a morte no horrível suplício de Gonçalves e Coelho (Pacheco escapou). Mandou D. Pedro I, em 1361, exumar o cadáver de Inês, coroando-a rainha depois de morta. Realizado, enfim, um estranho beija-mão de toda corte, Inês foi sepultada em Alcobaça, depois de levada de Lisboa com extraordinário acompanhamento.

4. Rio Mondego, o mais importante de Coimbra, cidade portuguesa.

5. Álvaro Gonçalves, Pedro Coelho e Diogo Lopes Pacheco.

6. As aves de rapina, aves selvagens, só costumam pegar o que está ao ar livre, não tendo o costume de entrar nas casas.

7. Nino era rei da Assíria (1900 a C.) e segundo filho de Semíramis - a lendária e célebre fundadora desse reino, e que a fábula conta haver sido exposta em um deserto por sua mãe Derceto, deusa da mitologia assíria, sendo alimentada ali pelas pombas e depois recolhida por pastores.

8. Personagens lendários que, sendo meninos abandonados, uma loba criou. Ao crescerem, fundaram Roma.

9. Nome antigo das regiões polares do norte da Europa e Ásia - Sibéria.

10. Nome antigo da África, em grande parte desconhecida então. Em seu centro imaginava-se habitarem somente feras e morrerem os homens queimados pelo calor.

11. Lenda mitológica. Pirro é filho de Aquiles; este é o herói grego imortalizado pela destruição de Tróia na Ilíada de Homero e que foi morto por Páris com uma flecha que lhe disparou sobre o calcanhar, único ponto vulnerável do herói. Páris é irmão de Policena, e estes dois são os filhos de Príamo, o último rei de Tróia. Aquiles era noivo de Policena e, depois de morto, a sua alma apareceu a Pirro pedindo-lhe que mandasse a noiva para o outro mundo a fazer-lha companhia; por isso Pirro matou-a.

12. Refere-se ao castigo que D. Pedro aplicará aos carrascos assim que se tornar rei, em 1357.

13. Atreu é o fabuloso rei de Micenas (região da Grécia Antiga); célebre pela sua mosntruosa vingança contra o irmão, Tiestes, que tivera amores com Erope, mulher dele; a vingança consistira em matar Tântalo e Plisteno, filhos de Tiestes, e dá-los a comer ao pai num banquete; nesse momento, escondeu-se o Sol, horrorizado.

14. Ninfas

15. Refere-se a Adão, o primeiro homem, de acordo com a tradição judaico-cristã.

16. Os poetas gregos e latinos chamavam "idade de ouro" ao reinado de Saturno, quando este, destronado por seu filho Júpiter, se refugiou no Lácio, onde floresceu a paz e a abundância; seguia-se a "idade de prata", época em que os homens começaram a perder a inocência; depois vieram sucessivamente a "idade de bronze" e a "idade de ferro", em que os males da humanidade foram crescendo até o cúmulo de todos os excessos e crimes.

17. Referência a Mateus, XXVI, 39 a 42, em que Cristo, à véspera de ser crucificado, teme pelo seu fim e pede a Deus que lhe afastasse "esse cálice".

18. De fato, D. Manuel, depois da viagem de Vasco da Gama, acrescentou tais títulos.

19. O filho de Jápeto e Prometeu (mitologia), que segundo a fábula furtou raios do Sol, para dar vida a uma estátua de barro que tinha feito, tornando-se, de certa forma, o criador da humanidade.

20. O moço atrevido é Fetonte, que pretendeu governar o Sol, carro de seu pai, Apolo. O Arquiteto é Dédalo, que pretendeu, com suas asas artificiais, voar com as aves, lançando-se no ar, com seu filho, Ícaro.

21. Ferro e fogo representam aqui a guerra, a água representa o perigo dos mares e calma e frio simbolizam as dificuldades que sofreram os navegantes na zona tórrida e no mar Antártico.

O autor

Luís Vaz de Camões tem uma biografia rala de informações. Deve ter nascido por volta de 1524, em Lisboa ou em cidade que lhe seja próxima. Filho de um fidalgo decadente, supõe-se que tenha estudado em escola onde um tio seu era o Reitor. São meras conjeturas. Sabe-se, entretanto, com certeza, que feriu um oficial do palácio real e que por esta causa foi preso. Aparece mais tarde rumando para a Índia na condição de soldado, provavelmente por recomendação real. Sua vida tumultuada leva-o à África, à Índia e à China. Perde um olho em uma batalha e recebe baixa do exército.

Na China, consegue empregar-se como Guarda-Mor dos Bens de Defuntos e Ausentes, função que lhe dá sustento por largo período. Finalmente é acusado de peculato e viaja para a Índia onde deve defender-se. Nesta viagem o navio naufraga e Camões perde Dinamene, sua amada. Absolvido, mas desempregado, enfrenta a miséria no exílio.

Encontrado por amigo dos tempos em que freqüentou o paço real, é embarcado de volta para Lisboa.

Amigo de Camões e do Rei D. Sebastião é encarregado de encaminhar ao rei os originais de "Os Lusíadas", cuja publicação vale ao poeta uma tença real de 15.000 contos por ano. Tença nem sempre paga em dia e nem sempre suficiente. Camões morre esquecido e enfrentando a pobreza no ano de 1580. Diz-se que no ano de sua morte teria escrito a um amigo que não contente de morrer em sua terra, morria com ela. E tal afirmativa revelaria um instinto profético do poeta, pois esse foi também o ano da União Ibérica.

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