terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Esnobar ou não eis a questão

Não chega a ser um assombro ler que os membros do júri do Nobel, em 1961 esnobaram J.R.R. Tolkien. Me parece que o verbo esnobar não cabe no caso, por sua forte carga pejorativa. O que encontro nos jornais, e onde mais encontraria? é que CS Lewis tentou indicar seu colega ao Prêmio Nobel de Literatura, provocando reação contrária dos outros membros do júri. A razão apresentada, "o resultado não se comparava às ficções de boa qualidade", não me parece fora de propósito, muito menos ofensivo. Quando alguém resolve escrever, precisa fazer algumas opções. E a propósito transcrevo trecho encontrado no facebook de Matheus Arcaro: A alta literatura faz o leitor tropeçar. E não é todo mundo que está preparado para cair. Por isso os best sellers são best sellers: porque dizem o que o leitor espera. O leitor menos preparado chama isso de "identificação" com a obra. "Puxa vida, este autor diz exatamente o que eu penso." Não percebe que o prazer da leitura é justamente "fechar o círculo". Não me parece que recusar alguém por falta de qualidade seja o mesmo que esnobar.


Ora, não há como negar que em literatura se têm duas categorias básicas: alta literatura e literatura digestiva. A primeira é arte; a segunda entretenimento. A primeira vende pouco, pois são poucos seus leitores; a segunda tem um caráter marcadamente comercial e consegue atingir o grande público. Não faço aqui apologia nem de uma nem de outra. Isso é apenas juízo de realidade, não de valor.
O júri do Prêmio Nobel pode muitas vezes ser questionado, como aconteceu no caso de Günter Grass, acusado de ligações com os nazistas em sua juventude. Alega-se, também, que o júri tem um viés político, conferindo o prêmio de acordo com tal critério. Tudo isso pode ser verdade, mas o que não se pode negar é que o júri esteve desde o início do prêmio preocupado com a “boa qualidade”, como alegou o júri em 1961. Ser bem ou mal vendido nunca entrou na cogitação desses senhores.


Aceito um autor da chamada literatura digestiva, isto é, de entretenimento, não só o futuro do prêmio estaria comprometido, como todo seu passado. Estaria esfacelado o prestígio daqueles autores que já foram agraciados pelo prêmio bem como daqueles que a ele ainda farão jus.


Caso semelhante aconteceu com nossa Academia Brasileira de Letras. A partir do momento em que Getúlio Vargas, General Lira Tavares, Roberto Marinho, e muitos outros de nomes bem conhecidos, conseguiram acento em nossa academia, até Machado de Assis foi arranhado em seu prestígio. O que se pode pensar num caso desses? Que o sodalício não imortaliza ninguém, isso é uma balela, e além disso, que nele tomam acento quaisquer pessoas que por prestígio consigam eleger-se. E o prestígio, meus amigos, sabe-se lá por que meios é obtido.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças