segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

GRANDE SERTÃO: VEREDAS (14)


EM TEMPOS DE PAZ: O AMOR

Há dois meses aquartelados na Tapera Nhã, os guerreiros começam a se transformar. Em lugar dos gritos de guerra, a conversa mole debaixo de uma árvore, em lugar da expectativa da morte escondida na próxima moita, o gosto pela vida mansa, transcorrente. Os sentimentos são outros.
Quem fala, como sempre, é Riobaldo:
Pág. 305 - "E, digo ao senhor como foi que eu gostava de Diadorim: que foi que, em hora nenhuma, vez nenhuma, eu nunca tive vontade de rir dele."

O lugar, o ócio prolongado, tudo contribui para o surgimento do sentimento amoroso, mas no caso de Riobaldo, as coisas se complicam.
Pág. 305 - "Aquele lugar, o ar. Primeiro, fiquei sabendo que gostava de Diadorim - de amor mesmo amor, mal encoberto em amizade.  (...) Não tive assombro, não achei ruim, não me reprovei - na hora. Melhor alembro."
Pág. 307 - "O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente - 'Diadorim, meu amor...' Como era que podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um Diadorim assim meio singular, por fantasma, apartado completo do viver comum, desmisturado de todos, de todas as outras pessoas - como quando a chuva entre-onde-os-campos. Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios."
Pág. 307 - "Levantei, por uma precisão de certificar, de saber se era firme exato. Só o que a gente pode pensar em pé - isso é que vale."
Pág. 308 - "'Se é o que é' - eu pensei - 'eu estou meio perdido... 'Acertei minha ideia: eu não podia, por lei de rei, admitir o extrato daquilo. Ia, por paz de honra e tenência, sacar esquecimento daquilo de mim. Se não, pudesse não, ah, mas então eu devia de quebrar o morro: acabar comigo!  - com uma bala no lado de minha cabeça, eu num átimo punha barra em tudo."
Riobaldo não entende o que lhe acontece. Pouco adiante, falando de uma lavourinha de um sujeito ainda moço, amigo deles, um companheiro suspira:
Pág. 309 - "- 'Ah, se ele quisesse alugar a mulherzinha dele para a gente, bem caros prêços que eu pagava...' - assim o que dizia o Paspe, suspiroso."
E o assunto amoroso continua. Mais de légua além ficava a venda onde eles se abasteciam.
Pág. 310 - "O dono da venda tinha duas filhas, O Jesualdo cada vez que voltava carecia de explicar à gente, de dia e de noite, como elas eram, formosuramente. -'Ei, que quando vier o tempo, que de guerra se tiver licença, ah, e se esse vendeiro for contra nós, ah, eu vou lá, pego uma das duas, de mocinha faço ela virar mulher...' o Vove disse. -'O que tu  não faz! Porque o que eu quero é o exato: que eu vou lá, prezado peço em casamento, e nóivo...' - o Triol contestou."
E com tais sonhos vão-se passando os dias de acampamento. Mas logo virão notícias.

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