domingo, 22 de janeiro de 2012

GRANDE SERTÃO VEREDAS (20):

DISCÓRDIA

Grandes dificuldades os zebebelos têm de enfrentar em sua retirada. Riobaldo relata os fatos a que assiste, mas também os sentimentos que o acometem, bem como as reflexões que o assaltam. Diadorim acaba de citarNhorinhá, prostituta por quem Riobaldo esteve a ponto de se apaixonar.
Pág. 393 - "Nhorinhá - flôrzinha amarela do chão, que diz: - Eu sou bonita!... E tudo neste mundo podia ser beleza, mas Diadorim escolhia era o ódio."

Em plena jagunçagem, Riobaldo está sempre à beira de ataques de lirismo. Personagem redonda, rica em sutilezas psicológicas em um romance tendendo para o épico, a novela de cavalaria, os entreveros de cavaleiros medievais, mas sem que se possa classificar em qualquer categoria como única.
Pág. - " -'... Você, se casa, Riobaldo, com a moça da Santa Catarina. Vocês vão casar, sei de mim, se sei; ela é bonita, reconheço, gentil moça paçã, peço a Deus que ela te tenha sempre muito amor... Estou vendo vocês dois juntos, tão juntos, prendido nos cabelos dela um botão de bogari. Ah, o que as mulheres tanto se vestem: camisa de cassa branca, com muitas rendas... A noiva, com o alvo véu de filó..."
Riobaldo sente-se afastar de Diadorim, mas não entende o que acontece.
Pág. 394 -"O senhor veja: eu, de Diadorim, hoje em dia, eu queria recordar muito mais coisas, que valessem, do esquisito e do trivial; mas não posso. Coisas que se deitaram, esquecifora do rendimento. O que renovar e ter eu não consigo, modo nenhum. Acho que é porque ele estava sempre tão perto demais de mim, e eu gostava demais dele.
Na surgida manhã, saímos, para a parte final da caminhada. Zé Bebelo, certa hora, me chamou. Inda que avante, Zé Bebelo mesmo devia de estar curtindo más e piores: fio que ele amargava a vitória que tinha inventado."
Pág. 395 -"Deponho: de que é que aquilo me adiantava? E chuvas dadas, derramadas. Aí, vai, chegamos no Currais-do-Padre."
(...)
"... em grandes pastos, era o capim melhor milagroso - (...) De lá vinham saindo renascidos, engordados, os nossos cavalos, isto é, os que tinham sido de Medeiro Vaz, e que agora herdávamos."
A viagem continua, mas já não sabem direito qual o destino.
Pág. 397 - "Trovoou truz, dava vento. E chuvas que minha língua lambeu. Nelas mais não falo."
O narrador habilmente resume narrativas dos fatos de menor importância.
Pág. 397 - "Sertão, - se diz -, o senhor querendo procurar, nunca não encontra. De repente, por si, quando a gente não espera, o sertão vem."
Pág. 398 - "Já depois, com andada de três dias, não se percebeu mais ninguém. Isso foi até onde o morro quebrou. Nós estávamos em fundos fundos."
Em algumas páginas, Riobaldo narra o encontro com uns "catrumanos", meio feras, meio homens, que com paus, foices tentam barrar a passagem. Eles estão amedrontados com as notícias de uma vila onde graça a bexiga.
Pág. 401 - "E enfim os companheiros apontaram em vinda, e subiram a primeira ladeira, aquele tropeado de guerreiros, em tão grande número numeroso. Quase eu queria me rir, do susto então dos catrumanos."
Os "catrumanos" insistem que qualquer mensageiro, inocente, pode trazer a epidemia. Eles mal falam, a comunicação é difícil, e não convencem o grupo de Zé Bebelo.
Pág. 404 - "Rir, o que se ria. De mesmo com as penúrias e descômodos, a gente carecia de achar os ases naquele povo de sujeitos, que viviam só por paciência de remedar coisas que nem conheciam. As criaturas."
A comitiva seguiu caminho sem dar atenção às recomendações daquele que parecia ser o chefe dos "catrumanos". O bando, na verdade está perdido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças