GRANDE SERTÃO: VEREDAS (21)

A MARCHA PROSSEGUE

Mesmo entre aquele povo esquisito, os "catrumanos", o grupo obtém informação de uma casa, a muitas léguas de distância, onde poderão descansar. E a marcha prossegue sob o comando de Zé Bebelo.
Pág. 406 - " Dei tino. Zé Bebelo, em testa, chefe como chefe, como executava nossa ida. Da marca de um homem solidado assim, que era sempre alvissareiro. Por ele eu crescia admiração, e que era estima e fiança, respeito era. Da pessoa dele, da grande cabeça dele, era só que podia se repor nossa guarda de amparo e completa proteção, eu via."
A passagem pela vila bexiguenta deixou muitos jagunços desconfiados.

Pág. 407 - " Fazia fole de caalor. Mas, entre as vertentes, no corguinho rabo serelepe que passamos, de beiras de terra preta, só os animais foram que beberam a toda sede: que, nós, mesmo da água corrente a gente se receava. Donde é que decorre a peste?"
Mas então apelam para suas crenças.
Pág. 408 - "Assim aqueles dois (Jõe Bexiguento e o Pacamã-de-Presas) iam praticar resumida a oração, e cada um, da gente, consigo reproduzisse, constantemente, as fortes ave-marias e padre-nossos, que isso bastava. assim foi que fizemos. Avante eu rezei.
      Algum dia, depois de hoje, hei de esquecer aquilo. Arruado que era até bem largo, mas mal se enxergavam aquelas casas. Ao demais rezando, ao real vendo - eu vim. Casas - coisa humana. Em frente delas todas, o que estavam era queimando pilhas de bosta seca de vaca. O que subia, enchia, a fumaça acinzentada e esverdeada, no vagaroso. E a poeira que demos fez corpo com aquele fumegar levantante, tanto tapava, nos soturnos."
Pág. 409 - "Sofriam esperança de não morrer."
"Aquela travessia durou só um instantezinho enorme."
"Deus que tornasse a tomar conta deles, do Sucruiú, daquele transformado povo."
"Eu levava Diadorim... Mas, de começo, não vi, não fui sentindo que queria poder levar também Otacília, e aquela moça Nhorinhá, filha de Ana Dazuza, e mesmo a velha Ana Dazuza, e Zé Bebelo, Alaripe, os companheiros todos. (...) "...boa moça Rosa'uarda, a mocinha Miosótis, meu mestre Lucas, dona Dindinha, o comerciante Assis Wababa, o Vupes - Vúsps... Todos, e meu padrinho Selorico Mendes."
Riobaldo começa a entender sua missão.
Pág. 410 - "Todos? Não. Só um era que eu não levava, não podia: e esse um era o Hermógenes!"
"Era feito um nôjo, por ser. (...) Que ódio é aquele que não carece de nenhuma razão?"
"O sol ia entrando, vi o céu nos roxos, nos vermelhos. Misturamos numa baixada, no capim cacheado. Umas lavourinhas. Daí, lá se estava no retiro do Abrão, onde o campo largêia. Era uma boa casa. Mas, de dentro, saíram, de repente, por suas portas, uns homens, que fugiam corridos, feito ratos se escapulindo do toucinho de um jacá."
Pág. 411 - " O que estavam era em mão de roubando, se soube..."
Um dos ladrões é preso. Ele vinha da vila da bexiga.  Zé Bebelo lhe pergunta que nome era capaz de ter:
Pág. 412 - "- 'Guirigó... Minha graça é essa... Sou filho de Zé Câncio, seu criado, sim senhor...'
    Tão magro, trestriste, tão descriado, aquele menino já devia de ter prática de todos os sofrimentos. "
- 'Guirigó, qu'é que vieram caçar aqui? Fala'
- 'O quê qu'a gente veio caçar, sim senhor? Eles vieram, eu também vim... Buscar de comer..."
Por fim, entraram na casa de onde fugiram os companheiros de Guirigó.
Pág. 414 - "Não se encontrou uma peça de roupa, uma lamparina de folha, uma folhinha na parede, um gancho de rede, uma raspadeira, um cabresto pendurado, uma esteira, uma vasilha, uma coisa alguma em que se pegar. (...) Aquele retiro se chamava o Valado."
Mesmo assim o bando de Zé Bebelo acampou na casa do tal de Abrão.
Pág. 414 - 'Vida' é noção que a gente completa seguida assim, mas só por lei duma ideia falsa. Cada dia é um dia."
Riobaldo concluiu que ali era um bom lugar para descansar.
Pág. 415 - "Mas Zé Bebelo duvidou de ficar. Zé Bebelo suscitado determinou, que a gente fosse mais para adiante. Ele concebia medo. Conheci. Estava.
    Zé Bebelo pegou a principiar medo!"
Pág. 416 - "Pois Zé Bebelo, que sempre se suprira certo de si, tendo tudo por seguro, agora bambeava. Eu comecei a tremeluzir em mim."
E a marcha prossegue.
Pág. 416 "Descemos a Vereda do Ouriço-Cuim, que não tinha nome verdadeiro anterior, e assim chamamos, porque um bicho daqueles por lá cruzou."
Finalmente fizeram nova parada.
Pág. 417 - "Na Coruja, um retiro taperado."
Pág. 418 - "Aí mire e veja: as Veredas Mortas ... Ali eu tive limite certo."
"Daí, despropositou o frio, vezmente. E quase que todos os companheiros já estavam adoecidos."
"... eu preparava os distritos daquilo, que, no começo achei que era fantasia; mas que, com o seguido dos dias, se encorpava, e ia tomando conta do meu juízo: aquele projeto queria ser e ação! E, o que era, eu ainda não digo, mais retardo de relatar."
Novamente a demonstração de que Riobaldo conhece técnicas narrativas com esse arremesso para adiante, segurando seu ouvinte.
Os jagunços adoeciam, alguns morreram de doenças várias, de picada de cobra, o grupo se agitava.
Pág. 421 - "Mas que em desregra a gente se comportava, então, de parar ali envelhecendo os dias, na Coruja, como fosse menos-e-mais para aproveitar a carne fresca e de-sol que na campeação se conseguia, as boiadas daqueles sertões. Sempre Zé Bebelo não desistia de palavrear, a raleza de projetos, como faz de conta."