O DIABO EXISTE?
Essa é uma pergunta que Diadorim vem-se fazendo constantemente. Diziam que o Hermógenes tirava seu poder de um pacto feio com o Que-não-se-diz, mas como ter certeza? Nos últimos dias, na Coruja, poucos são os fatos, muitas as reflexões e uma tentação.
Pág. 421 - "As doenças se curassem? Minhas dúvidas. Aí, quem não pegara a maleita padecia por outros modos - mal-de-inchar, carregação-do-peito, meias-dôres; teve até agravado de estupor. Adiantement e, de me desvali. O que me coçava, que nem se eu tivesse provado lombo de capivara no cío. A ser, o fígado, que me doía; mas não me certifiquei: apalpar lugar de meu corpo, por doença, me dava um desalento pior. Raymundo Lé cozinhou para mim um chã de urumbela."
O dia inteiro no ócio, alguns dos jagunços propuseram a invasão de alguma vila, com tiroteio e saques só para se distraírem. Riobaldo se opôs.
Pág. 422 -"O horror que me deu - o senhor me entende? Eu tinha medo de homem humano."
Pág. 423 - "Mas eu ficava imaginando: se fosse eu tivesse tido sina outra, sendo só um coitado morador, em povoado qualquer, sujeito à instância dessa jagunçada? A ver, então, aqueles que agorinha eram meus companheiros, podiam chegar lá, façanhosos, avançar em mim, cometer ruindades. Então? Mas, se isso sendo assim possível, como era pois que agora eles podiam estar meus amigos?!"
Pág, 423 - "Mas Diadorim, que quando ferrava não largava, falou: -'O inimigo é o Hermógenes.'"
Uma ideia que não sai mais da cabeça.
Pág. 424 - "Ah, que essas coisas são por um prazo... Assinou a alma em pagamento."
Essa é uma das muitas versões do Fausto.
Pág. 426 - "O dum dia, duma noite. Duma meia-noite. (...) Aquilo - era eu ir à meia-noite, na encruzilhada, esperar o Maligno - fechar o trato, fazer o pacto!"
Pág. 427 - "O que eu tinha, por mim - só a invenção de coragem. Alguma coisice por principiar. O que algum tivesse feito, por que era que eu não ia poder? E o mais - é peta! - nonada. Do Tristonho vir negociar nas trevas de encruzilhadas, na morte das horas, soforma dalgum bicho de pelo escuro, por entre chorinhos e estados austeros, e daí erguido sujeito diante de homem, e se representando, canhim, beiçudo, manquinho, por cima dos pés de bode, balançando chapéu vermelho emplumado, medonho como exigia documento com sangue vivo assinado, e como se despedia, depois, no estrondo d forte enxofre. Eu não acreditava, mesmo quando estremecia. T'arreneguei."
Pág. 427 - "Também, fazia mais de mês que a gente estava naquela tapera de retiro, cujo a Coruja era que era o nome, por um desses impossíveis de Zé Bebelo."
A própria reprodução de fragmentos do romance apresenta exemplos de neologismos, arcaísmos, rupturas sintáticas, elipses, repetições, enfim, construções totalmente inesperadas.
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