Um leito macio
Arnaldo ofegava ao depositar as compras da
padaria na calçada. Já sinto o peso do corpo, ele pensou enquanto batia as mãos
nos bolsos da calça e do paletó para descobrir o molho de chaves. Depois de
abrir a pesada porta de ferro com vidros em caixilhos, juntou da calçada as
compras e olhou os trinta e dois degraus de escada até o primeiro andar. Teria outro tanto até chegar a seu apartamento.
Subia contando os degraus e de vez em quando se atrapalhava na contagem por causa da
respiração. O suor empastara o cabelo, inundava os olhos - visão precária.
Tentou por algum tempo atingir cada degrau primeiro com a perna direita. Mas
cansou. A esquerda era mais fraca, mas teve de sacrificá-la. Parou. Ficou com
medo de que as compras caíssem na escada: não as sentia mais nas mãos.
Esboçou um pedido de ajuda. O pedido não se completou.
Um bando de aves passou levando-o para as nuvens, onde o depositaram num leito
macio.
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