sábado, 18 de fevereiro de 2012

NOITE (16)

FIM DE NOITE

Pág. - "A casa onde a Ruiva e o Passarinho moravam ficava numa travessa sombria, de calçadas estreitas orladas de álamos. Era um velho prédio centenário, de fachada de azulejo, com três estátuas mutiladas sobre a platibanda."
(...)
"Quando a porta se abriu, o mestre apressou-os:
- Vamos entrar antes que desabe o temporal"

(...)
"- Temos de subir no escuro - sussurrou ela. - A lâmpada da escaadaa está queimada.
O mestre tornou a acender o isqueiro. (...) O mesre ia à frente, com o isqueiro erguido.
- São quinze degraus - murmurou a Ruiva.
Aquela voz tinha um som familiar aos ouvidos do homem de gris. Quantas vezes ela dissera aquilo durante a vida de casados? Quantas vezes haviam ambos subido aquela escada no escuro, lado a lado?
- Estk-ás snsopado, meu bem."
Pág. 97 - "Ele continuou calado. Não era a primeira vez que ela lhe dizia aquelas palavras. E haveria outras vezes, muitas outras, se ela não morresse, se ela não fosse esfaqueada..."
(...)
"- Onde é o seu quarto? - indagou o mestre.
A Ruiva aproximou-se duma porta, meteu a chave na fechadura e abriu-a. O magro espiou rapidamente para dentro.
O Passarinho onde dorme?
- Aqui ao lado.
- Espklêndido - murmurou o mestre. - Feito sob medida.
Olhou o anão:
- Nanica você fica ou vai comigo?
- Ora, chefe, que pergunta!"
(...)
O homúnculo arrebatou a chave dos dedos do Passarinho, abriu a porta do quarto e, agarrando a criatura pelo pulso, arrastou-a consigo.
O mestre foi empurrando o Desconhecido e a Ruiva para dentro do outro quarto. "
(...)
"O mestre caminhou até a janela, ergueu a guilhotina, olhou para fora e depois voltou-se, murmurando: 'Esplêndido, comme il faut!' "
(...)
"- Ainda não sei ao certo que fazer com você. Preciso sair e estabelecer uns contatos...Ruiva, tome conta dele. Dispam-se, deitem´-se, amem-se, divirtam-se, que a noite já se aproxima do fim."
(...)
Pág. 98
"- Quase quaatro. Ah! A minha comiss´~ao é módica. Passe uma nota de quinhentos.
O homem de gris entregou-olhe uma vez mais a carteira."
(...)
"Num gesto rápido o mest4re meteu no bolso do Desconhecido o lenço manchado de sangue:
- Um souvenir..."(...)
"Tome cuidado. O impulso pode repetir-se. assassinar duas mulheres no mesmo dia não deixa de ser um exagero..."

A Geração de 30, à qual pertence Erico Verissimo, foi uma espécie de breque de mão ao experimentalismo de 22. Num momento em que a crise mundial, com conflitos em formação, terríveis, ameaçadores, se alastrava por toda parte, não havia muito espaço para os questionamentos estéticos. Pode-se observar, pelo trecho acima, que a linguagem se aproxima da linguagem dos realistas, assim como o modo de criar: a partir da observação detalhada da realidade.

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