segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

NOITE (18)

SEM VOZ PARA GRITAR
Pág. 103 - "Não! Não! Não!
Mas é inútil... A mão, secreta amante, tem vida independente do resto do corpo, move-se com força própria, com a faca de prata golpeia furiosa a pobre mulher. Ajoelhado sobre as coxas da vítima, ele a imobiliza em cima da cama. (...)"

Pág. 104  - "Por que, se ele a ama? Quer deter a mão, ciumenta amante, mas não consegue. Ela mergulha cega entre as pernas da fêmea, rasga-lhe o baixo-ventre, bendito o fruto, e o sangue (ou leite?) escorre morno, ele o sente no próprio sexo, vê a mancha alastrar-se no lençol... Basta! Basta! A mão estaca, a faca tomba, mas é tarde, a mártir está gelada, os olhos vidrados, morta..." (...) "Está agora perdido no casarão escuro, sem voz para gritar, os pés chapinhando na água da sarjeta onde voga um barquinho de papel. Se ele fosse o soldado de chumbo namorado da bailarina, podia entrar no barco, ir para o mar... (...) Rompe a correr na galeria sem princípio nem fim, onde ecoam vozes que ele não ouve, mas vê. que dizem? Pega assassino! Não são vozes humanas, é o uivo dum cão. Do Cão. O mastim dos Baskervilles. O Lobisomem. (...) Marcha, soldado, cabeça de papel." (...) Melhor rezar, Ave Maria, não tenho forpça para correr, cheia de graça, minhas pernas de papel se dobram, rogai por nós assassinos, o Lobisomem vai me comer, estou perdido, sozinho na charneca..."
"Deitado e nu como um recém-nascido, os olhos apenas entreabertos, vê confusamente um céu enfumaçado e neutro,..."
"Leva algum tempo para perceber que é uma lâmpada elétrica pendente do teto na ponta dum fio."
Pág. 105 - "Tenta tranquilizar-se, dizendo a si mesmo que tudo foi um pesadelo: a prova disso é que, se abrir os olhos, poderá ver a lâmpada, o fio, o teto... (...) Do pesadelo só lhe ficou esta fria angústia, este pálido horror." (...) "Ah! agora tudo se explica. É o fundo do mar. Sou um peixe com pulmões de gente. Se não volto à tona, morro qasfixiado. Já me falta o ar... Upa! O peixe sobe numa vertical vertiginosa."

Em seu delírio, o Desconhecido é vítima do conflito entre seu passado, que aos poucos aflora, e as últimas horas, em que foi acusado de haver cometido um crime.

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