O ANÃO
Nada restou do incidente anterior, quando entrou em uma casa pensando que tinha sido chamado e fora tomado por ladrão. Fugiu em disparada.
Pág. 15 - "Não saberia explicar nem a si mesmo como tinha ido parar dentro daque café-restaurante."
(...)
"A luz fluorescente que iluminava a sala quadrada e razoavelmente ampla, dava às caras dos presentes uma certa lividez arroxeada. Sentado a uma mesa de canto, um homem magro e triste..." (...) "Uma mulata ainda moça, de fartos seios e ancas, duas largas rosas de rouge nas faces ..." (...) "...brincava com o seu copo, enquanto do outro lado da mesa seu companheiro, um homem branco, gosdo e de cabaça raspada, lhe dia em voz baixa qualquer coisa em que ela achava muita graça..."
Pág. 16 - "Noutra mesa três homens, dois pardos e um negro, tomavam sopa em silêncio."""
(...)
"Seu olhar dirigiu-se dep0ois para o balcão, por trás do qual, montando guarda à máquina registradora, um homem de pele bronzeada, cabeçorra melenuda e triangular, dominava a sala com o olhar fiscalizador e um tanto hostil."
(...)
"Sentiu que havia mais gente na parte do salão que ficava às suas costas. (...) ...ouvia e odiava principalmente uma risada de mulher, viciada, rouca, obsena."
"O bebedior solitário tomou um lento gole de cerveja, depois lambeu a espuma que lhe ficara no bigode. O gordo comia e transpirava, com uma larga mancha de suor na camisa. Os beiços da mulata estavam lambuzados de gordura."
(...)
"Mas o que havia de dominante naquela atmosfera era a presença do sebo - o sebo quente que se erguia no vapor dos pratos e panelas e vinha da cozinha na fumaça das frituras..."
Pág. 17 - " - O que é que manda?
O Desconhecido levou algum tempo para compreender que era a ele que o garçom se dirigia. Ficou por alguns segundos distraído, a observar o pau de fósforo que o rapaz tinha entre os dentes, e que movia na boca de um lado para outro. Tinha a cara alongada e morena, pintada de espinhas, testa curta, cabelos crespos, olhos sujos de hepático."
(...)
"Encheu o copo e bebeu o conteúdo num sorvo só. Tornou a enchê-lo e a beber com a mesma sofreguidão."
(...)
"Agora tinha fome. Ficou a olhar longamente, com uma inveja pueril, para as garfadas de bife que o homem gordo levava à boca. "
Pág. 18 - "Ouviu a voz do garçom, que gritava na direção da cozinha.
- Salta um salsichão assado com farofa e salada de batata!
E depois, num tom mais baixo:
- Capricha, que é pro nanico!
Foi nesse momento que o Desconhecido sentiu que alguém o observava com insistência." (...) !Era um corcunda. Não estava propriamente sentado na cadeira, mas empoleirado, e olhava alternadamente para ele e para o papel que tinha sobre a mesa e no qual escrevia alguma coisa." (...) " ... - a figura do homúnculo o seduzia de tal forma, que já não podia desviar os olhos dela. Pareceu que o anão lhe sorria, piscando o olho. Não havia dúvida: o homenzinho fazia-lhe sinais amistosos."
(...)
"- Não me apresento - disse ele ao Desconhecido - porque todo o mundo me conhece. Não pergunto como você se chama porque é tempo perdido..."
(...)
"Empoleirou-se na cadeira, à frente do homem de gris.
- Sou um artista, compreende? Faz um tempão que estou observando você, estudando os seus traços, tentando desenhar o seu retrato."
Pág. 19 - "- Detesto retratar gente feliz. Só me interessam os que sofrem, os que têm um problema, os que vivem acuados... está me ouvindo? Acuados!"
(...)
Depois de uma detalhada descrição do anão, sempre colado aos olhos do Desconhecido, o narrador continua.
"E sob as espessas sobrancelhas, onde o louro se degradava em palha, brilhavam olhinhos miúdos e maliciosos, muito próximos um do outro."
(...)
" - Pronto! exclamou o corcunda. E mostrou o desenho, para o qual o homem de gris baixou um olhar indiferente.
- Talvez você não se reconheça nesse retrato..."
Pág. 20 - "- O que me interessa é o drama que cada pessoa traz dentro de si e não aparece no exterior, mas que em certos casos, como o seu, se reflete nos olhos."
(...)
- (...) Gosto destes cafés da beira do cais. São autênticos. Neles sempre acontece alguma coisa. É só a gente ter paciência e esperar..."
(...)
"O corcunda passou pelo rosto um lenço amarrotado, do qual se emanava um cheiro azedo.
- Uma obra-prima, acredite."
(...)
"- Pois então passe o dinheiro. (...) E acredite que esta é a sua noite de sorte. Você acaba de encontrar o companheiro que lhe convém."
Pág. 21 - "O garçom trouxe os pratos, os talheres, o pão e pouco depois uma travessa com salsichões e uma generosa porção de farofa e salada de batatas. O corcunda estalou os beiços, esfregou as mãos, empunhou os talheres e com o garfo espetou o salsichão mais gordo e tostado.
- Vamos, coma!"
(...)
"Um grupo entrou no salão em algazarra: embarcadiços acompanhados de mulheres do beco próximo.
O corcunda fez um sinal com a cabeça na direção dos recém-chegados.
- Marinheiros e prostitutas. É minha gente."
(...)
"O homem gordo pagou a conta, ergueu-se, com um risco de gema de ovo na face, pegou a mulata pelo braço e encaminhou-se com ela para a porta.
- Boa noite, nanico! - gritou.
O anão fez-lhe um sinal amistoso e sorriu:
Pág. 22 - "-Está vendo? É a minha gente. E há outros lugares que havemos de conhecer juntos, você e eu. A noite mal começou. - Tirou o relógio de bolso. - Nove e vinte e cinco. Pois fique sabendo que encontrou o companheiro ideal."
(...)
" - Está vendo aquela ali? Tem quinze anos. Faz três meses que caiu na vida. Foi deflorada por um cobrador de õnibus. O pai expulsou-a de casa."
(...)
" - Aproveite enquanto é tempo m oirqye daqui a três meses ela estará velha e completamente deteriorada.."
(...)
" - Ah, Daqui a pouco você vai conhecer um amigo meu, um sujeito fabuloso."
É o anúncio do trio que vai protagonizar a história até o fim.
Pag. 23 - "- Tem a maioria desses burgueses presos pelo rabo. Conhece os podres de todos eles e é por isso que os figurões não lhe negam nada."
(...)
O corcunda soltou um arroto e empurrou o prato vazio para o centro da mesa." (...) "Detestava aquele monstrengo, mas não podia desviar o olhar da cara dele. Não sabia ainda o que pensar de tudo aquilo."
Nada restou do incidente anterior, quando entrou em uma casa pensando que tinha sido chamado e fora tomado por ladrão. Fugiu em disparada.
Pág. 15 - "Não saberia explicar nem a si mesmo como tinha ido parar dentro daque café-restaurante."
(...)
"A luz fluorescente que iluminava a sala quadrada e razoavelmente ampla, dava às caras dos presentes uma certa lividez arroxeada. Sentado a uma mesa de canto, um homem magro e triste..." (...) "Uma mulata ainda moça, de fartos seios e ancas, duas largas rosas de rouge nas faces ..." (...) "...brincava com o seu copo, enquanto do outro lado da mesa seu companheiro, um homem branco, gosdo e de cabaça raspada, lhe dia em voz baixa qualquer coisa em que ela achava muita graça..."
Pág. 16 - "Noutra mesa três homens, dois pardos e um negro, tomavam sopa em silêncio."""
(...)
"Seu olhar dirigiu-se dep0ois para o balcão, por trás do qual, montando guarda à máquina registradora, um homem de pele bronzeada, cabeçorra melenuda e triangular, dominava a sala com o olhar fiscalizador e um tanto hostil."
(...)
"Sentiu que havia mais gente na parte do salão que ficava às suas costas. (...) ...ouvia e odiava principalmente uma risada de mulher, viciada, rouca, obsena."
"O bebedior solitário tomou um lento gole de cerveja, depois lambeu a espuma que lhe ficara no bigode. O gordo comia e transpirava, com uma larga mancha de suor na camisa. Os beiços da mulata estavam lambuzados de gordura."
(...)
"Mas o que havia de dominante naquela atmosfera era a presença do sebo - o sebo quente que se erguia no vapor dos pratos e panelas e vinha da cozinha na fumaça das frituras..."
Pág. 17 - " - O que é que manda?
O Desconhecido levou algum tempo para compreender que era a ele que o garçom se dirigia. Ficou por alguns segundos distraído, a observar o pau de fósforo que o rapaz tinha entre os dentes, e que movia na boca de um lado para outro. Tinha a cara alongada e morena, pintada de espinhas, testa curta, cabelos crespos, olhos sujos de hepático."
(...)
"Encheu o copo e bebeu o conteúdo num sorvo só. Tornou a enchê-lo e a beber com a mesma sofreguidão."
(...)
"Agora tinha fome. Ficou a olhar longamente, com uma inveja pueril, para as garfadas de bife que o homem gordo levava à boca. "
Pág. 18 - "Ouviu a voz do garçom, que gritava na direção da cozinha.
- Salta um salsichão assado com farofa e salada de batata!
E depois, num tom mais baixo:
- Capricha, que é pro nanico!
Foi nesse momento que o Desconhecido sentiu que alguém o observava com insistência." (...) !Era um corcunda. Não estava propriamente sentado na cadeira, mas empoleirado, e olhava alternadamente para ele e para o papel que tinha sobre a mesa e no qual escrevia alguma coisa." (...) " ... - a figura do homúnculo o seduzia de tal forma, que já não podia desviar os olhos dela. Pareceu que o anão lhe sorria, piscando o olho. Não havia dúvida: o homenzinho fazia-lhe sinais amistosos."
(...)
"- Não me apresento - disse ele ao Desconhecido - porque todo o mundo me conhece. Não pergunto como você se chama porque é tempo perdido..."
(...)
"Empoleirou-se na cadeira, à frente do homem de gris.
- Sou um artista, compreende? Faz um tempão que estou observando você, estudando os seus traços, tentando desenhar o seu retrato."
Pág. 19 - "- Detesto retratar gente feliz. Só me interessam os que sofrem, os que têm um problema, os que vivem acuados... está me ouvindo? Acuados!"
(...)
Depois de uma detalhada descrição do anão, sempre colado aos olhos do Desconhecido, o narrador continua.
"E sob as espessas sobrancelhas, onde o louro se degradava em palha, brilhavam olhinhos miúdos e maliciosos, muito próximos um do outro."
(...)
" - Pronto! exclamou o corcunda. E mostrou o desenho, para o qual o homem de gris baixou um olhar indiferente.
- Talvez você não se reconheça nesse retrato..."
Pág. 20 - "- O que me interessa é o drama que cada pessoa traz dentro de si e não aparece no exterior, mas que em certos casos, como o seu, se reflete nos olhos."
(...)
- (...) Gosto destes cafés da beira do cais. São autênticos. Neles sempre acontece alguma coisa. É só a gente ter paciência e esperar..."
(...)
"O corcunda passou pelo rosto um lenço amarrotado, do qual se emanava um cheiro azedo.
- Uma obra-prima, acredite."
(...)
"- Pois então passe o dinheiro. (...) E acredite que esta é a sua noite de sorte. Você acaba de encontrar o companheiro que lhe convém."
Pág. 21 - "O garçom trouxe os pratos, os talheres, o pão e pouco depois uma travessa com salsichões e uma generosa porção de farofa e salada de batatas. O corcunda estalou os beiços, esfregou as mãos, empunhou os talheres e com o garfo espetou o salsichão mais gordo e tostado.
- Vamos, coma!"
(...)
"Um grupo entrou no salão em algazarra: embarcadiços acompanhados de mulheres do beco próximo.
O corcunda fez um sinal com a cabeça na direção dos recém-chegados.
- Marinheiros e prostitutas. É minha gente."
(...)
"O homem gordo pagou a conta, ergueu-se, com um risco de gema de ovo na face, pegou a mulata pelo braço e encaminhou-se com ela para a porta.
- Boa noite, nanico! - gritou.
O anão fez-lhe um sinal amistoso e sorriu:
Pág. 22 - "-Está vendo? É a minha gente. E há outros lugares que havemos de conhecer juntos, você e eu. A noite mal começou. - Tirou o relógio de bolso. - Nove e vinte e cinco. Pois fique sabendo que encontrou o companheiro ideal."
(...)
" - Está vendo aquela ali? Tem quinze anos. Faz três meses que caiu na vida. Foi deflorada por um cobrador de õnibus. O pai expulsou-a de casa."
(...)
" - Aproveite enquanto é tempo m oirqye daqui a três meses ela estará velha e completamente deteriorada.."
(...)
" - Ah, Daqui a pouco você vai conhecer um amigo meu, um sujeito fabuloso."
É o anúncio do trio que vai protagonizar a história até o fim.
Pag. 23 - "- Tem a maioria desses burgueses presos pelo rabo. Conhece os podres de todos eles e é por isso que os figurões não lhe negam nada."
(...)
O corcunda soltou um arroto e empurrou o prato vazio para o centro da mesa." (...) "Detestava aquele monstrengo, mas não podia desviar o olhar da cara dele. Não sabia ainda o que pensar de tudo aquilo."
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