O NARRADOR ESTÁ ENCIUMADO E AINDA NÃO SABE
Pág. 46 - "Ontem não fui até as rochas. Muitas vezes afirmei que hoje não iria. Pelo meio da tarde, soube que iria. Faustine não foi e quem sabe quando voltar?"
"Mas, uma vez nas rochas, fiquei como louco. - A culpa é minha, - me dizia (de que Faustine não aparecesse) - por me ter decidido a não vir.
Subi à colina. Saí de trás de um grupo de plantas e me encontrei frente a dois homens e uma senhora. Estaquei, contive a respiração; entre nós não havia nada (cinco metros de espaço vazio e crepuscular). Os homens davam-se as costas; a senhora estava de frente, sentada, me olhando. Via-a estremecer."
Pág. 47 - "- Não é hora de histórias de fantasmas. Vamos para dentro."
"Foram-se. Não muito longe, um homem e uma mulher caminhavam. Temi que me surpreendessem. O casal aproximou-se mais. Ouvi uma voz conhecida:
- Hoje não fui ver...
(Tive palpitações. Achei que se referiam a mim.)
- Tens pena?
Não sei o que respondeu Faustine. O barbudo tinha feito progressos. Já se tratavam por tu.
Voltei aos baixios resolvida a aqui ficar até que o mar me leve. Se os intrusos vierem me buscar, não me entregarei, não fugirei."
"Minha decisão de não aparecer diante de Faustine durou quatro dias (auxiliada por duas marés que me deram trabalho)."
Pág. 48 - "Notei que já não se travam por tu; mas logo me lembrei de que as pessoas, quando começam a se tratar por tu, não podem evitar voltar de vez em quando a um tratamento mais cerimonioso."
"- E acreditaria em mim, se a levasse, por um momento, antes do cair da tarde, a Vincennes?
- Não poderia mais acreditar em você. Nunca.
- A influência do futuro sobre o passado - disse Morel, com entusiasmo e numa voz muito baixa."
"As conversas se repetem; são injustificáveis."
Pág. 49 - "Olhava-os, escutava-os. Senti que algo estranho estava acontecendo; não sabia o que era. Estava indignado com esse canalha ridículo."
(...)
"... as palavras e os movimentos de Faustine e do barbudo coincidiram com as suas palavras e os seus movimentos de havia oito dias. O atroz eterno retorno."
(...)
Pág. 50 - "Depois, com urgente indignação, suspeitei de que tudo não passasse de uma representação burlesca, de uma brincadeira dirigida contra mim."
(...)
"- Não leve a sério o que lhe disse... Às vezes creio...
Estava a poucos metros de Faustine. Saí decidido a qualquer coisa, mas a nada em particular. A espontaneidade é fonte de grosserias. Indiquei o barbudo, como se o estivesse apresentando a Faustine, e disse-lhe, aos gritos:
- La femme à barbe, Madame Faustine!"
Pág. 51 - "Sua tranquilidade ainda me horroriza."
"(...) Não pude esperar o pôr do sol. Subi à colina, decidido a me perder e com um pressentimento de que, se tudo saísse bem, cairia numa cena de rogos melodramáticos. Estava enganado. O que acontece não tem explicação. A colina está desabitada."
Outro aspecto do romance de Bioy Casares digno de destaque é a eliminação dos limites entre realidade e imaginação.
Pág. 46 - "Ontem não fui até as rochas. Muitas vezes afirmei que hoje não iria. Pelo meio da tarde, soube que iria. Faustine não foi e quem sabe quando voltar?"
"Mas, uma vez nas rochas, fiquei como louco. - A culpa é minha, - me dizia (de que Faustine não aparecesse) - por me ter decidido a não vir.
Subi à colina. Saí de trás de um grupo de plantas e me encontrei frente a dois homens e uma senhora. Estaquei, contive a respiração; entre nós não havia nada (cinco metros de espaço vazio e crepuscular). Os homens davam-se as costas; a senhora estava de frente, sentada, me olhando. Via-a estremecer."
Pág. 47 - "- Não é hora de histórias de fantasmas. Vamos para dentro."
"Foram-se. Não muito longe, um homem e uma mulher caminhavam. Temi que me surpreendessem. O casal aproximou-se mais. Ouvi uma voz conhecida:
- Hoje não fui ver...
(Tive palpitações. Achei que se referiam a mim.)
- Tens pena?
Não sei o que respondeu Faustine. O barbudo tinha feito progressos. Já se tratavam por tu.
Voltei aos baixios resolvida a aqui ficar até que o mar me leve. Se os intrusos vierem me buscar, não me entregarei, não fugirei."
"Minha decisão de não aparecer diante de Faustine durou quatro dias (auxiliada por duas marés que me deram trabalho)."
Pág. 48 - "Notei que já não se travam por tu; mas logo me lembrei de que as pessoas, quando começam a se tratar por tu, não podem evitar voltar de vez em quando a um tratamento mais cerimonioso."
"- E acreditaria em mim, se a levasse, por um momento, antes do cair da tarde, a Vincennes?
- Não poderia mais acreditar em você. Nunca.
- A influência do futuro sobre o passado - disse Morel, com entusiasmo e numa voz muito baixa."
"As conversas se repetem; são injustificáveis."
Pág. 49 - "Olhava-os, escutava-os. Senti que algo estranho estava acontecendo; não sabia o que era. Estava indignado com esse canalha ridículo."
(...)
"... as palavras e os movimentos de Faustine e do barbudo coincidiram com as suas palavras e os seus movimentos de havia oito dias. O atroz eterno retorno."
(...)
Pág. 50 - "Depois, com urgente indignação, suspeitei de que tudo não passasse de uma representação burlesca, de uma brincadeira dirigida contra mim."
(...)
"- Não leve a sério o que lhe disse... Às vezes creio...
Estava a poucos metros de Faustine. Saí decidido a qualquer coisa, mas a nada em particular. A espontaneidade é fonte de grosserias. Indiquei o barbudo, como se o estivesse apresentando a Faustine, e disse-lhe, aos gritos:
- La femme à barbe, Madame Faustine!"
Pág. 51 - "Sua tranquilidade ainda me horroriza."
"(...) Não pude esperar o pôr do sol. Subi à colina, decidido a me perder e com um pressentimento de que, se tudo saísse bem, cairia numa cena de rogos melodramáticos. Estava enganado. O que acontece não tem explicação. A colina está desabitada."
Outro aspecto do romance de Bioy Casares digno de destaque é a eliminação dos limites entre realidade e imaginação.
ontem pensei que "A Invenção" pudesse ser tomada como uma alegoria dos nossos gestos, atos, situações, que se repetem, e quando menos esperamos estamos de novo, como uma armadilha, na mesma cena, condenados à imutabilidade.
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