sexta-feira, 23 de março de 2012

A INVENÇÃO DE MOREL (14)

ONDE FORAM TODOS PARAR?

Pág. 51 - "Quando vi a colina desabitada, temi encontrar a explicação numa cilada que já estivesse funcionando. Sobressaltado, percorri todo o museu, escondendo-me por vezes. (...) Mais do que isso: para me convencer de que nunca tinha havido ninguém. (...) ... aceito, como uma evidência para mim, que aquelas quinze pessoas (mais outras tantas de criadagem) não tenham deslocado um banco, um abajur ou - se mexeram em algo - tenham recolocado tudo no lugar, na posição que gardavam antes."

(...)
Pág. 52 - "Gritei, nessa casa vazia: Faustine! Faustine! Não houve resposta.
Há dois fatos - um fato e uma recordação - que agora relaciono e que superem uma explicação. os últimos tempos, eu me dedicara a experimentar novas raízes. Creio que no México os índios conhecem uma beberagem preparada com suco de raízes - esta é a recordação (ou o esquecimento) - que provoca delírios durante muitos dias."
"Mas me lembrei, incrédulo, da minha condição de fugitivo e do poder infernal da justiça."
"Resolvi percorrer toda a ilha, antes de me deitar. Fui até as rochas, aos capinzais da colina, às praias, aos baixios (por um excesso de prudência). Tive de aceitar que os intrusos não estavam na ilha."
"Experimentei muitos interruptores; não havia luz. "
Pág. 53 - "No peimeiro porão, entre motores agigantados pela penumbra, senti-me peremptoriamente abatido. O esforço indispensável para me suicidar era supérfluo, já que, desaparecida Faustine, nem sequer me ficava a anacrônica satisfação da morte."
"Por um vago compromisso, para justificar a descida, tentei pôr em funcionamento o gerador de luz."
"Não me lembro de como saí dali. Ao chegar em cima, ouvi um motor; a luz, com o´líqua velocidade, tomou conta de tudo e me colocou diante de dois homens: um, vestido de branco, outro de verde (um cozinheiro e um criado). Não sei qual deles perguntou (em espanhol):
- Quer me dizer por que escolheu este lugar perdido?
- Ele deve saber (também em espanhol).
Pág. 54 - "(...) eram ibéricos e aquelas frases me faziam concluir que Faustine não tinha regressado."
(...)
"- Não o nego; mas como é que Morel teve a ideia...?"
(...)
"- Até quando teremos de esperar? A comida está pronta faz uma hora."
(...)
"Eu fazia esforços para me acalmar, mas tremia. Soou um gongo.(...) Fugir verdadeiramente era impossível. A tempestade, o bote, a noite..."
(...)
Pág. 55 - "Olhei em volta e me escondi (sorrindo para demonstrar a minha suficiência) num quartinho que há debaixo da escada."
"Não via solução para dois problemas:
Como teriam chegado à ilha?"
"Quando teriam chegado?"
"Tinham falado em Morel. Tratava-se, certamente, de uma volta das mesmas pessoas. É provável, pensei, com palpitações, que vá rever Faustine"

Além da confusão entre realidade e imaginação, um novo ingrediente surge para embaralhar as ideias do fugitivo: a memória, que funciona precariamente.

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