MARÉ ALTA: O PERIGO
Pág. 27 - "Em quinze dias, houve três grandes inundações. Ontem, a sorte me salvou de morrer afogado. Por pouco a água não me surpreende. Atendo-me às marcas no tronco das árvores, calculei para hoje a maré. (...) Sobrevivi a tanta adversidade!"
(...)
"Quando cheguei, já havia algumas provisões na despensa do museu. Num forno clássico e tostado, com farinha, sal e água, elaborei um pão incomestível. Não tardei a comer farinha do saco, em pó (com goles de água)."
(...)
Pág. 28 - "As marés diárias não são perigosas nem pontuais. Às vezes, levantam os ramos cobertos de folhas que estendo para dormir, e amanheço num mar impregnado pelas águas barrentas dos pântanos.
Sobre-me a tarde para caçar; pela manhã, estou com água até a cintura; (...) ... os mosquitos duram todo o dia, todo o ano.
as ferramentas estão no museu. (...) ... essas pessoas desaparecerão; talvez eu tenha sido vítima de alucinações."
Pág. 29 - "Agora, a minha sorte é distinguir as raízes comestíveis. Consegui organizar a vida tão bem, que faço todos os trabalhos e ainda me sobre um bocado de tempo para descansar. Nesta amplidão, sinto-me livre, feliz."
(...)
"(...) (aqui, as chuvas são pouco frequentes, mas fortíssimas e com vendavais). Tive de procurar abrigo."
(...)
"Estava nos aposentos reservados para os sacerdotes desjejuarem e mudarem de roupa (não vi nenhum padre nem pastor entre os ocupantes do museu) quando, de repente, senti duas pessoas bruscamente presentes, como se não tivessem chegado, como se apenas houvessem surgido na minha vista ou imaginação... Escondi-me -irresoluto, inábil - debaixo do altar, entre sedas roxas e rendas. Não me viram. O susto ainda persiste."
(...)
Pág. 30 - "Entre os ruídos, comecei a escutar fragmentos de uma melodia concisa, muito remota ..."
"Após um momento, fui até a janela. A água, branca na vidraça, sem brilho, profundamente escura no ar, mal deixava ver... Tive uma surpresa tão grande, que não me importei de olhar pela porta aberta."
Pág. 31 - "Tinham tirado o gramofone que está no salão verde, contíguo ao salão do aquário e, mulheres e homens, sentados em bancos ou na grama, conversavam, ouviam música e dançavam em meio a uma tempestade de água e vento que ameaçava arrancar todas as árvores."
O fugitivo parece estar cada vez mais próximo dos invasores da ilha. É um convívio difícil para quem há muito não encontra um ser humano com quem conversar. Sente-se tentado a aproximar-se, mas seu passado (misterioso) proibe-lhe a aproximação.
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