Tapete de silêncio, de Menalton Braff
Por Natali Costa*
No coreto da praça da Matriz, dez homens secretamente reunidos têm por objetivo manter a paz de Pouso do Sossego, pequeno município interiorano. Formado pelos grandes nomes da cidade, o grupo é capaz das maiores atrocidades a fim de manter a ordem e a honra do local em que vivem.
A história é contada por meio de duas sequências narrativas: a primeira nos guia através da sinistra noite em que o grupo se encontra para pôr em prática seu plano macabro – é narrada em primeira pessoa por Osório, um comerciante local. A segunda, intitulada coro e funcionando como o próprio coro das tragédias gregas, narra em terceira pessoa os acontecimentos do passado que levaram à presente situação. Esse jogo entre passado e presente retoma o estilo de Menalton Braff, escritor de Tapete de silêncio, para quem o constante movimento da memória e o resgate do passado são mecanismos fundamentais em sua escrita.
A propósito do autor, Braff é escritor contemporâneo de contos e romances. Ainda não totalmente conhecido no cenário das Letras brasileiras, vem ganhando reconhecimento da crítica literária, especialmente após ser agraciado com o prêmio Jabuti 2000 pelo livro À sombra do cipreste (1999). Possui um grande número de obras publicadas, dezoito no total**, das quais várias receberam indicações a prêmios literários importantes como o Jabuti, Prêmio São Paulo ou Portugal Telecom.
Com uma escrita intimista, na qual o tempo é interiorizado e o mundo ao redor é percebido pelo olhar de suas personagens, seus heróis estão em constante conflito com seus mundos. Quanto à sua escrita, observamos uma linguagem cuja preocupação estética se apropria do movimento de vai e vem da memória para imprimir às narrativas uma tessitura textual que incorpore um recrudescimento da subjetividade, um amplo uso de sinestesia, uma grande plasticidade na descrição dos espaços, uma forte presença de sonoridade e metáforas. Esses recursos sugerem uma linguagem às raias da poesia.
Tapete de silêncio, de Menalton Braff é leitura obrigatória não apenas pela maestria da linguagem com a qual o escritor vem sendo reconhecido no meio acadêmico e literário, mas porque a história, com um enredo envolvente, não deixa de ser um sério questionamento a respeito do poder concentrado na mão de uma pequena elite que visa a qualquer custo a manutenção da ordem por ela estabelecida.
* Natali Fabiana da Costa e Silva – doutoranda em Estudos Literários pela Unesp Araraquara. Pesquisa o autor desde o mestrado, pela mesma insituição.
**As obras publicadas são: Janela aberta (1984), Na força de mulher (1984), À sombra do cipreste (1999), Que enchente me carrega (2000), Castelos de papel (2002), A esperança por um fio (2003), Como peixe no aquário (2004), Na teia do sol (2004), Gambito (2005), A coleira no pescoço (2006), A muralha de Adriano (2007), Antes da meia-noite (2008), Moça com chapéu de palha (2009), Copo vazio (2010), No fundo do quintal (2010), Mirinda (2010), Bolero de Ravel (2010) e Tapete de silêncio (2011).
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