* Crônia publicada na Carta Capital
Não sei se vocês já se deram conta: vivemos sob o império da juventude. Império que, às vezes, se torna tirania.
O mercado, que é muito esperto, há algum tempo descobriu
que, além da beleza, a juventude acumulava outro poder: a decisão das compras.
Ser ou parecer jovem é a ordem atual. E o mercado especializou-se para poder
explorar este filão novo.
Houve um tempo, não muito distante, em que os pais
determinavam o que podia ou não podia ser comprado. Isso não acontece mais. O
filho escolhe e o pai desembolsa. Tenha ou não saldo na conta do banco. Existem
famílias no vermelho, outras pagando empréstimo, algumas privando-se de coisas
básicas e necessárias, tudo isso porque não aprenderam a impor limites à sanha
consumista dos filhos.
Mas mudar-se para onde, se eles estão em toda parte?
Já ouvi a sugestão de que deveríamos, nós, os que já passamos dos vinte, levar nossos trastes, nossas preocupações, nossas necessidades sanitárias para o meio do mato. Ouvi, e não foi uma vez só.
Não sei se vocês já se deram conta: vivemos sob o império da juventude. Império que, às vezes, se torna tirania.
Que a ideia da beleza tenha estado sempre, ou quase sempre,
relacionada ao viço da vida, isto é, à juventude, isso é compreensível. Adônis
provocou as paixões de Afrodite e de Perséfone, por ser belo. Ele é a
primavera, quando a vida se renova. Todo ser vivo descreve uma curva que se
inicia ascendente, fase em que se junta o máximo vigor e as formas físicas
atingem seu clímax.

Veem-se crianças iniciando-se nesta difícil arte de andar
sobre os próprios pés, que já sabem parar na frente de uma vitrine, soltar a
mão da mãe, meditar algum tempo de olhos fixos em alguma coisa de que se
agradam, então começar um sapateado barulhento, escandaloso, até, por medo do
qual a mãe entra na loja e endivida um pouco mais a família.
O gosto dos jovens, o direito dos jovens, a vontade dos
jovens, seus costumes, é com isso que nos bombardeiam diariamente os mass
media.
Começaram seu império nas compras, depois, sentindo que
havia espaço para maiores avanços, começaram a impor seus hábitos. Os shows
atravessam as noites indiferentes à vizinhança, que pode ser constituída de
crianças doentes, convalescentes idosos, trabalhadores com necessidade de
repouso. Torna-se consenso que os jovens são livres e alegres, são belos, e
ninguém tem o direito de perturbar sua necessidade de diversão. Ah, sim, porque
os jovens se divertem.
“Os incomodados que se mudem”, foi a resposta de um jovem a
um ancião que o interpelava dizendo-se incomodado pelo barulho exagerado do
show.Mas mudar-se para onde, se eles estão em toda parte?
Já ouvi a sugestão de que deveríamos, nós, os que já passamos dos vinte, levar nossos trastes, nossas preocupações, nossas necessidades sanitárias para o meio do mato. Ouvi, e não foi uma vez só.
Sim, porque a tecnologia que a humanidade desenvolveu foi
apenas para o conforto deles, os que estão na idade do barulho. Talvez um dia
eu me convença de que eles têm razão, levanto uma cabana sob algumas copas bem
altas e espero o dono da mata, que vem de espingarda em punho para me expulsar
alegando que não admite sem-terra em sua propriedade.
Me parece que os jovens sempre foram barulhentos. É próprio
de sua natureza. Mas houve um tempo em que os pais ensinavam a seus filhos que
o respeito pelos direitos alheios era uma das condições da vida em sociedade. E
os jovens entendiam. Se não entendiam, pelo menos respeitavam seus pais.
É, o mundo está ficando pequeno. E inabitável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças