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Não é que o fato me incomode, isso não. Há muito tempo deixei a sala de aula, e há muito mais tempo desisti de salvar o mundo. Não me incomoda, mas me causa espanto a incompetência de algumas pessoas para a leitura. Toda vez que publico um texto que fuja de uma denotação rastaquera, pão pão, queijo queijo, sofro críticas ferozes, quase sempre mal educadas. Me espanta, sobretudo, a ousadia de alguns interlocutores, que opinam sobre qualquer assunto com uma desenvoltura assombrosa.
Antigamente as escolas ensinavam leitura e interpretação, acho que não ensinam mais. E a interpretação é o modo como o leitor decodifica um texto de maneira correta. Às vezes, quando vejo, acabo de introduzir uma ironia no que estou escrevendo. Uma ironia, pode ser extremamente sutil. Ou não. O leitor atento, no caso da ironia, deve entender o contrário do que está dito. É um recurso de retórica muito comum, fartamente utilizado, e que tem lá sua graça. Pois é aí que a coisa pega. A graça. Algumas pessoas são muito sisudas para perceberem que existe mais de um texto onde elas pensam haver apenas um.
Não é que o fato me incomode, isso não. Há muito tempo deixei a sala de aula, e há muito mais tempo desisti de salvar o mundo. Não me incomoda, mas me causa espanto a incompetência de algumas pessoas para a leitura. Toda vez que publico um texto que fuja de uma denotação rastaquera, pão pão, queijo queijo, sofro críticas ferozes, quase sempre mal educadas. Me espanta, sobretudo, a ousadia de alguns interlocutores, que opinam sobre qualquer assunto com uma desenvoltura assombrosa.
Antigamente as escolas ensinavam leitura e interpretação, acho que não ensinam mais. E a interpretação é o modo como o leitor decodifica um texto de maneira correta. Às vezes, quando vejo, acabo de introduzir uma ironia no que estou escrevendo. Uma ironia, pode ser extremamente sutil. Ou não. O leitor atento, no caso da ironia, deve entender o contrário do que está dito. É um recurso de retórica muito comum, fartamente utilizado, e que tem lá sua graça. Pois é aí que a coisa pega. A graça. Algumas pessoas são muito sisudas para perceberem que existe mais de um texto onde elas pensam haver apenas um.
Mas não é só. Continuando o caso ainda da ironia: dá ao
texto uma pitada do gosto de literatura. Ou seja, ela pode ser um elemento
estético. E então me valho do Theodor Adorno quando afirma que “É impossível
explicar a broncos o que é a arte; não poderiam introduzir na sua experiência
viva a compreensão intelectual. Está neles tão sobrevalorizado o princípio de
realidade que interdiz sem mais o comportamento estético (…) Perante o ‘Para
quê tudo isso?’, perante a reprovação da sua real inutilidade, as obras de arte
emudecem total e irremediavelmente”.
Existe algo que se chama leitura referencial. É aquela para
a qual apenas o assunto interessa. Em tudo vê denotação. Pode-se dizer que é um
nível primário de leitura, mas primário no sentido de primeiro. É o contato com
as palavras, a intuição, a primeira impressão. Muitas pessoas não conseguem uma
segunda leitura para penetrar a conotação.
Pois bem, o discurso científico, ensaístico, didático e, por
que não, o discurso jornalistico (os discursos cujo objetivo é informar) não
são os lugares apropriados para que se pratique uma linguagem tendendo para a
linguagem literária. Pode causar ruído na comunicação.
A crônica, meus amigos e eventuais leitores, a crônica não
se quer portadora de verdade nenhuma; a crônica não tem o objetivo de informar.
Ela é texto digestivo, leve, em que brincadeiras linguísticas são possíveis,
pois a crônica deve ser, via de regra, bem humorada, com alguns elementos da
linguagem literária. Entre eles a ironia faz boa figura. A crônica é opinativa,
sempre escrita expressando denotativa ou conotativamente a opinião do cronista
sobre determinado assunto.
O artigo tem o direito de ser carrancudo. Ou não. O
articulista informa, o cronista distrai. Às vezes até tratando de assunto
sério.
Aula de mestre.
ResponderExcluirA escola ensina sim, Menalton. Pelo menos boa parte dos professores. No entanto, é necessário que o aluno esteja interessado a aprender, mas não é o que ocorre. Leitura rápida e sem dor é o que eles querem. O professor deve exigir que eles aprendam, só que somos pressionados pelos mandadários da educação para que o alunos passem de ano, pois as estatísticas negativas denotam o fracasso. A escola tem sua parcela de culpa, mas não está sozinha.
ResponderExcluir*interessado em
ResponderExcluirEu diria que más interpretações até nos estimulam...
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