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Seção : Arte e Livros- 04/08/2012 10:44
Menalton Braff entrelaça política e trajetória familiar em trama de novo livro, passada durante os anos de chumbo
O autor avisa: "Não se trata de romance histórico"
Carlos Herculano Lopes - EM Cultura
Não é difícil, num quadro como esse, imaginar o conflito que se estabelecerá com a chegada dos parentes, sobretudo porque os novos moradores não aceitam as normas ditadas a ferro e fogo pela primogênita.
Gaúcho radicado no interior de São Paulo, Menalton Braff avisa: não se trata de romance histórico, embora esteja cravado na história. “O projeto me fez abrir mão de certas convicções literárias, mas isso foi para o bem. A ideia de desenvolvê-lo surgiu a partir de casos contados por um amigo sobre sua vida familiar. Isso foi o suficiente para desencadear a imaginação. Mas ficou só por aí, pois, no decorrer da escrita, o romance ganhou vida e seguiu os próprios caminhos. Do que me contou aquele amigo talvez não tenha restado nada no livro, além da ideia. Na realidade, ele me deu a espoleta que detonou o tiro”, diz o escritor.
Conseguindo manter média invejável de publicação, acelerada depois de sua aposentadoria como professor universitário, Menalton Braff afirma que O casarão... lhe tomou muito tempo, a exemplo de outros livros seus, como A sombra do cipreste, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti em 2000, e A coleira no pescoço. “Se o mais prazeroso é o ato de produzir, então, para que ter pressa? Além do mais, acho que, sem esforço e disciplina, o romance é quase uma impossibilidade. Reescrevi O casarão... uma infinidade de vezes. Sou muito lento e acho ótimo não ter prazos a cumprir”, diz.
Na história narrada na primeira pessoa pelo jovem Palmiro, Menalton conseguiu manter uma trama densa, que se intensifica à medida que a história avança casarão adentro ou no seu entorno cercado de mistérios, segredos bem guardados e lembranças, algumas de arrepiar os cabelos.
EMOÇÃO
Praticamente só, essa personagem luta para descobrir o que aconteceu com o marido desaparecido. Está aí um dos pontos sensíveis da trama. O restante do clã é de um reacionarismo atávico. Um dos primos, Rodolfo, chega a se tornar deputado pelo partido que apoia os militares. Lançando mão de uma passagem da história contemporânea do país, Braff mostra como Rodolfo, que esporadicamente visitava o casarão, criou sua versão para a morte do jornalista Wladimir Herzog, ocorrida nos porões da polícia política. Ele pergunta, durante uma conversa: “Não vai dizer que também acredita naquela história de que o Exército matou esse bandido. Como é mesmo o nome dele?”.
Ficção à parte, Menalton Braff, durante os anos de chumbo, chegou a viver durante muito tempo na clandestinidade e foi perseguido pela ditadura. “Um sufoco”, segundo ele.
Dramas familiares, situação política extrema que divide opiniões e pessoas. Tudo isso torna O casarão da Rua do Rosário leitura prazerosa e obrigatória para aqueles que desejam conhecer um pouco da história recente do Brasil. Mesmo que alguns ainda insistam em jogá-la para debaixo do tapete ou fingir que nada aconteceu.
O casarão da Rua do Rosário
De Menalton BraffEditora Bertrand Brasil, 350 páginas, R$ 39

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