segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CARTA CAPITAL | O MELHOR INIMIGO DO HOMEM

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Não é a primeira vez que abordo o assunto, e o faço consciente da minha insistência. E se o faço, é porque ninguém toma providência, a sociedade se cala, a imprensa finge que não vê, e as coisas continuam do mesmo jeito.
Refiro-me a esses animais que podem ser tão dóceis e obedientes que muita família os adota como legítimos integrantes da prole, com direitos idênticos a de seus irmãos do tipo “homus erectus”. Mas também podem se tornar ferozes e muito perigosos. Não são raros os casos em que um animal desses, membro da família, tratado com todo carinho, insurge-se contra o próprio pai (antigamente se dizia dono), assassinando-o. Isso já aconteceu e não foi uma vez só.

Se uma pessoa tem uma arma ilegal em casa, por exemplo, um revólver, pode ir presa. Se tem três rottweilers no quintal, não acontece nada?

Declaro de antemão que não aceito a acusação de estar atribuindo comportamento moral aos animais da raça canina. E é exatamente por não terem o comportamento moral e racional que muitas pessoas lhes atribuem que se tornam mais perigosos. Você concorda? Tocado por sua ferocidade, um cão não encontra em seu repertório impedimento moral algum para, por exemplo, estraçalhar uma criança.

A propósito me lembro de matéria publicada em 2006 no jornal A Cidade, de Ribeirão Preto. O menino Matheus Mantovani Tereza, da cidade de Ituverava, caminhava pela calçada quando foi atacado por três cães da conhecida e temida raça rottweiler e por pouco sobreviveu. Levado ao hospital, recebeu mais de cem pontos. Cem pontos em uma criança!
Vamos botar os cães na cadeia? Não, claro que não, pois eles não raciocinam, são feras tão-somente. Não se pode inculpar o inculpável. Sem padrão moral não existe culpa. Quem precisa ir para a cadeia, quem tem a culpa pelo que aconteceu, é uma pessoa que sabe muito bem da periculosidade dessas feras e as mantém no quintal e não toma cuidado com o portão. Mas não existe nada a respeito no Código de Posturas Municipais? Imagino que não.

Em alguns países já existem leis que, se não resolvem definitivamente o problema, pelo menos o atenuam. Algumas raças são proibidas e é crime manter um animal desses em casa. E existe fiscalização municipal a respeito.

O hospital e o tratamento do Matheus por certo que foram pagos pelo proprietário das feras, que suponho um homem abastado. Mas ele vai apagar também o sofrimento deste pequeno ser humano? Ah, mas é apenas um ser humano, que no seu entender nem deve ser “humano”, e sim humanoide. Ou humanídeo.

Meu Deus, em pleno século XXI e ainda não se proibiu a existência do melhor inimigo do homem? Se uma pessoa tem uma arma ilegal em casa, por exemplo, um revólver, pode ir presa. Se tem três rottweilers no quintal, não acontece nada?

2 comentários:

  1. Concordo com o senhor, mestre. E me recordo do caso do pequeno Matheus. Naquela ocasião, eu era funcionário da Santa Casa daqui de Ituverava. Nem sei como o menino sobreviveu, foi um milagre. E também me coloquei a pensar nos traumas do garoto, na angústia. Soube, tempos depois, que o menino não podia nem ver cães na rua que já se descontrolava emocionalmente. Triste isso. Sou pela responsabilização de todo e qualquer ato que um animal cometa por seu dono. Inclusive os enormes bolos fecais sobre o passeio e noites de insônia sob os latidos infernais destes bichos tão insensatos quanto seus donos irresponsáveis [sorrio]. Mestre, um abraço carinhoso deste tabaréu ituveravense que um dia apertou-lhe a mão sentindo muita honra. Até breve!

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  2. Jeferson, a humanidade está salva em você. A coisa anda feia. Tenho uma sobrinha que me disse preferir os cachorros aos seres humanos. Perguntei a ela se a mãe dela era uma cadela e a coitada não entendeu.

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