terça-feira, 18 de setembro de 2012

MACUNAÍMA (2)

Logo de início, é destacada a lubricidade do herói, marca do brasileiro ?

Pág. 9 - "... os dois manos que tinha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O divertimento dele era decepar cabeça de saúva. Vivia deitado mas si punha os olhos em dinheiro, Macunaíma dandava pra ganhar vintém."

Como o índio (fusão de duas raças: ameríndio e negro) é amoral - nada de "políticamente correto" - justifica-se o
 divertimento de Macunaíma.
Uma das características estilísticas da narrativa é o farto emprego de expressões e ditados populares. "dandava pra ganhar vintém" é um dos exemplos.

"E também espertava quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o tempo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos gozados por causa dos guaimuns diz-que habitando a água-doce por lá. No mucambo si alguma cuhnhatã se aproximava dele pra fazer festinha, Macunaíma punha a mão nas graças dela, cunhatã se afastava. Nos machos guspia na cara."
(...)
Pág. 10 - "Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então adormecia sonhando palavras-feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.
(...)
Pág. 11 - A mãe  "... pediu pra nora, companheira de Jiguê que levasse o menino. A companheira de Jiguê era bem moça e chamava Sofará. Foi se aproximando ressabiada porém desta vez Macunaíma ficou muito quieto sem botar a mão na graça de ninguém. A moça carregou o piá nas costas e foi até o pé de aninga na beira do rio. A água parara pra inventar um ponteio de gozo nas folhas do javari. (...) A moça botou Macunaíma na praia porém ele principiou choramingando, que tinha muita formiga!... e pediu pra Sofará que o levasse até o derrame do morro lá dentro do mato, a moça fez. Mas assim que deitou o curumim nas tiriricas, tajás e troperabas da serrapilheira, ele botou corpo num átimo e ficou um príncipe lindo. Andaram por lá muito.
Quando voltaram pra maloca a moça parecia muito fatigada de tanto carregar piá nas costas. Era que o herói tinha brincado muito com ela. Nem bem ela deitou Macunaíma na rede, Jiguê já chegava de pescar de puçá e a companheira não trabalhara nada. Jiguê enquizilou e depois de catar os carrapatos deu nela muito. Sofará aguentou a sova sem falar um isto."
(...)
"No outro dia Jiguê levantou cedo pra fazer armadilha e enxergando o menino tristinho falou:
- Bom-dia, coraçãozinho dos outros.
Porém Macunaíma fechou-se em copas carrancudo.
-Não quer falar comigo, é?
- Estou de mal.
- Por causa?"

Depois de conseguir que alguém fabricasse para ele uma armadilha, acabou sendo levado para o mato por Sofará.

Pág. 12 - "Quando o botou nos carurus e sororocas da serrapilheira, o pequeno foi crescendo foi crescendo e virou príncipe lindo. Falou pra Sofará esperar um bocadinho que já voltava pra brincarem e foi no bebedouro da anta armar um laço. Nem bem voltaram do passeio, tardinha, Jiguê já chegava também de prender a armadilha no rasto da anta. A companheira não trabalhara nada. Jiguê ficou fulo e antes de catar os carrapatos bateu nela muito. Mas Sofará aguentou a coça com paciência."

Observações:
a) Há traços da sintxe tupi-guarani em: "espantando os mosquitos bem", "deu nela muito" - o deslocamento do advérbio para o final é característico de línguas indígenas.
b) "guspia" - forma do dialeto popular, praticamente em desuso.
c) "piá" - regionalismo gaúcho.
d) "virou príncipe lindo" - paródia de contos infantis europeus.
e) brincar - expressão indígena para ato relação sexual.
f) foi no bebedouro - coloquialismo em lugar de "foi ao bebedouro".
g) fechou-se em copas - regionalismo paulista.

(CONTINUA)

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