Retomamos nossa leitura de Teoria da Literatura, de Vítor Manuel de Aguiar e Silva.
Pág. 57 - "Num estudo que logo se tornou famoso, intitulado 'Liguistics and poetics' e publicado em 1960, Roman Jakobson retomou substancialmente as suas teorias dos anos vinte sobre a função estética da linguagem, expondo-as sob forma mais desenvolvida, num quatro teórico mais amplo e com um aparato científico mais complexo (fornecido sobretudo pela linguística geral e pela teoria da comunicação). "
O autor descreve cada um dos seis elementos da comunicaçãso propostos por Jakobson. Saltemos para a página 60, onde vamos encontrar o que nos interessa.
Págs 60 e 61 - "e) Finalmente, a função poética, centrada sobre a própria mensagem: 'A orientação (...) para a mensagem enquanto tal, o centro de interesse incidindo sobre a mensagem considerada por si mesma, é o que define a função poética da linguagem'. A função poética não constitui a função exclusiva do conjunto de textos que Jakobson designa por 'arte da linguagem', pois ela é apenas a sua função dominante, ao lado da qual as outras funções (...) desempenham um papel ancilar e subsidiário. Em contrapartida, a função poética pode desempenhar um papel secundário, embora muito importante, em mensagens cuja função dominante seja uma das outras funções (por exemplo, nos slogans da publicidade comercial ou nas fórmulas da propaganda político-eleitoral, em que se manifesta como dominante a função conativa)."
Págs. 61 a 63 - "Acerca da função poética da linguagem, aduz ainda Jakobson mais alguns elementos caracterizadores que importa conhecer.
Assim, escreve que 'esta função, que põe em evidência o lado palpável dos sinais, aprofunda por isso mesmo a dicotomia fundamental dos sinais e dos objectos.' Esta afirmação inscreve-se na linha de rumo, já atrás analisada, das doutrinas dos formalistas russos - entre eles, o próprio Jakobson - e dos estruturalistas do Círculo Linguístico de Praga, segundo a qual a função poética ou estética se distingue da função de comunicação da linguagem pelo facto de, nesta última, existir uma relação instrumental com a realidade extralinguística que não se verifica naquela."
(...)
"Jakobson estabelece como critério linguístico que permite reconhecer empiricamente a função poética - e, por conseguinte, como elemento, 'cuja presença é indispensável em toda a obra poética' - o facto de que 'a funpção poética projecta o princípio de equivalência do eixo da selecção sobre o eixo da combinação.' Qual o significado deste princípio, solidário da asserção jakobsiniana transcrita e analisada no parágrafo anterior? A seleção e a combinação constituem os dois modos fundamentais de ordenação operantes na actividade linguística, conforme essa actividade se processe respectivamente no plano paradigmático ou no plano sintagmático: 'A seleção realiza-se na base da equivalência, da similitude e da dissimilitude, da sinonímia e da antonímia, ao passo que a combinação, a construção da sequência, se funda na contiguidade.' Ora, na poesia, a sequência, a cadeia sintagmática tem como fundamental procedimento constitutivo o princípio da equivalência: 'Em poesia, cada sílaba é colocada em relação de equivalência com todas as outras sílabas da mesma sequência; presume-se que todo o acento de uma palavra é igual a qualquer outro acento vocabular; do mesmo modo, a átona equipara-se a outra átona; a longa (prosodicamente) iguala-se a longa e a breve iguala-se a breve; limite de palavra e ausência de limite equivalem a limite e ausência de limite de palavra (...) "
"Como Jakobson expôs mais minuciosamente nos seus estudos 'Poetry of grammar and grammar of poetry' e 'Grammatical parallelism and its russian facet', desenvolvendo ideias de um dos seus poetas predilectos, Gerard Manley Hopkins, toda a repetição do mesmo conceito gramatical, toda a recorrência da mesma 'figura gramatical' e da mesma 'figura fônica' representam 'o princípio costitutivo da obra poética'. Esta projecção da similaridade na contiguidade gera uma 'propriedade intrínseca, inalienável' de toda a poesia - a ambiguidade, a plurissignificação, fenómeno que ocorre não apenas em relação à mensagem, mas também em relação ao seu emissor, ao seu destinatário e à sua referência. 'A supremacia da função poética sobre a função referencial não oblitera a referência (a denotação), mas torna-a ambígua. A uma mensagem com duplo significado correspondem um emissor desdobrado, um destinatário desdobrado e, além disso, uma referência desdobrada.'"
A seguir o autor vai contestar muito do que acima ele expôs sobre as teorias de Jakobson.
(CONTINUA)
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