Muito pouca gente dá o devido respeito que nos merece o
apêndice nasal. Éramos já velhos conhecidos quando descobri que para alguns
escritores ele serviu de protagonista.

Outro narigudo famoso, na literatura, descrevendo o próprio
nariz assim diz: “Nariz, nariz, e nariz,/ Nariz, que nunca se acaba;/ Nariz,
que se ele desaba,/ Fará o mundo infeliz.// Nariz, que Newton não quis/
Descrever-lhe a diagonal,/ Que, se o cálculo não erra,/ Posto entre o Sol e a
Terra,/ Faria eclipse total!”.
Quando adolescentes, todos nós enfiamos o nariz onde nos
proíbem, com medo que descubramos a vida antes do tempo. Como se alguém, velho
ou novo, soubesse alguma coisa da vida! Foi assim que tive de descobrir Manoel
Maria Barbosa du Bocage, numa prateleira escondida de uma biblioteca. Era a
prateleira proibida.
Machado de Assis, que não era narigudo, falou assim do naso
em “Memórias póstumas de Brás Cubas”: “Nariz, consciência sem remorsos, tu me
valeste muito na vida… Já meditaste alguma vez no destino do nariz, amado
leitor? A explicação do Dr. Pangloss é que o nariz foi criado para uso dos
óculos, –…”
Em um conto magistral, O nariz, Gogol faz o major Kováliov,
seu protagonista, acordar e descobrir que perdera o nariz. Esse conto
fantástico do satírico russo tem como eixo principal da ação a busca do nariz,
com as peripécias cheias de humor que ela implica.
Outro nariz famoso na literatura está no rosto do Pinóquio,
criação de Carlo Collodi. Não há criança no mundo civilizado que não o conheça.
Ninguém mente sem conferir o próprio nariz com dedos medrosos, que o apalpam
para verificar se o próprio não cresceu. Nessas histórias de Mensalão,
Sanguessuga e Navalha, só não vê o tamanho monstruoso dos narizes quem tem a
esperança de um dia também virar acusado.
Existe nariz de todo tipo: adunco, afilado, chato, rombudo,
com bolota, arrebitado. A variedade é grande. Como é variada também sua
serventia. Nariz para cheirar, para apontar uma direção, nariz para orientar e
até para suportar o aro dos óculos. São todos belos apêndices, com uma exceção:
o nariz que algumas pessoas enfiam onde não devem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
http://twitter.com/Menalton_Braff
http://menalton.com.br
http://www.facebook.com/menalton.braff
http://www.facebook.com/menalton.braff.escritor
http://www.facebook.com/menalton.para.crianças