SERMÃO DE SANTO ANTÔNIO AOS PEIXES. proferido pelo Padre Antônio Vieira em São Luís do Maranhão, no dia 13 de junho de 1654.
Fragmento:
IV
Fragmento:
IV
Antes,
porém, que vos vades, assim como ouvistes os vossos louvores, ouvi também agora
as vossas repreensões. Servir-vos-ão de confusão, já que não seja de emenda. A
primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos
outros. Grande escândalo é este, mas a circunstância o faz ainda maior. Não só
vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. Se fora pelo
contrário, era menos mal. Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande
para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem
pequenos, nem mil, para um só grande. Olhai como estranha isto Santo Agostinho:
Homines pravis, praeversisque cupiditatibus facti sunt, sicut pisces invicem
se devorantes: Os homens com suas más e perversas cobiças, vêm a ser como
os peixes, que se comem uns aos outros. Tão alheia cousa é, não só da razão,
mas da mesma natureza, que sendo todos criados no mesmo elemento, todos
cidadãos da mesma pátria e todos finalmente irmãos, vivais de vos comer! Santo
Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo,
mostrou-lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e
abominável é, quero que o vejais nos homens.
Devorar uns aos outros é da natureza dos peixes.
ResponderExcluirSerá também da natureza dos homens?
Rosangela Romanini Sígoli
Não creio que seja da natureza e sim do modo como a sociedade está organizada.
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