Fragmento do romance juvenil Antes da meia-noite, publicado pela Editora Ática em 2007.
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Começo a entender a meiose e os cromossomos, mas me parece uma
brutalidade sacrificar a mãe por duas filhas. Não vou comentar minha opinião
com ninguém porque muitos daqui já olham torto para esta mania de reformar o
mundo. Cito e logia, entenderam? E logia uma batida de leve à porta. Pequena
cela que resultou em
célula. As batidas agora são mais fortes e prolongadas, mesmo
assim, dona Carla, empolgada, nada ouve.
Um dos meninos do gargarejo avisa:
Um dos meninos do gargarejo avisa:
– A porta, professora.
Dona Carla faz uma careta de desagrado pela interrupção, e muitos de nós
rimos porque ela sabe essa coisa infantil de fazer caretas de desagrado, com o
lábio inferior espichado, os olhos espremidos em suas órbitas e a cabeça
sacudindo em movimentos rápidos. Só desmancha sua careta ao abrir a porta e
deparar-se com uma inspetora de alunos. Não ouvimos o que as duas se dizem, mas
ouço meu nome chamado pela professora.
– Dona Adélia está chamando você, informa dona Carla.
Só posso ficar vermelha, pois tudo que eu faça é debaixo dos holofotes da
turma. Mas ainda olho para a Carol e cochicho:
– Reze por mim, que a Megera me chama.
Nossos passos apressados reboam nas paredes altas e nuas do corredor. Não
resisto à curiosidade e ao medo e pergunto à inspetora se tem idéia do que
aconteceu. Minha voz melosa, quase de choro, pode estar desafinada, mas acho
que é sedutora. Trato a inspetora de senhora, tentando convertê-la a minha
causa. Ela responde seca que não, que não sabe de nada. Ela deve saber, porque
são elas que levam tudo até a Megera, mas se recusa a me dizer como vingança
pelos maus tratos recebidos do alunado em geral.
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