Leio na Publishnews de 15 de fevereiro que o Luiz Ruffato se
considera um profissional da literatura. Muita gente deve ter-se sentido mal
com a declaração do Ruffato.
Isso me lembra uma entrevista que tive com o Caio Graco, nos
idos de 1970, lá na Editora Brasiliense. Era meu primeiro conto publicado por
uma editora (volume 6 da coleção Contos Jovens), meu primeiro cheque de
direitos autorais. Em nossa conversa, o Caio, com sua longa vivência de editor,
me dizia que um dos defeitos dos escritores brasileiros era não se assumirem
profissionais da escrita.
Saí daquela entrevista com um pequeno cheque esquentando meu
bolso, e uma ideia esquentando minha cabeça. Quero ser escritor profissional.
Não consegui. Pelo menos não consegui tão logo poderia supor. Tive de passar
ainda muitos anos dizendo o que é literatura, contando a história da literatura
brasileira, seus autores emoldurados por seus textos, até me aposentar. Falar
de literatura não era nenhum sacrifício. Claro que em uma mesa de bar, cercado
de amigos, era sempre bem melhor do que em sala de aula falando para um público
que, em sua maioria, se preocupava muito mais com a prova no fim do bimestre do
que com o conhecimento.
Hoje, aposentado da sala de aula, posso dizer que me
profissionalizei na literatura. Verdade que ainda um arremedo de
profissionalização (tenho de somar a magra pensão a direitos autorais, cachê de
palestras e feiras de livros para sobreviver), mas posso dizer que vivo
sustentado pela literatura.
Não tenho certeza se as reflexões que seguem me acompanham
desde aquela sala espaçosa, lá na Brasiliense, ou se através dos anos venho
pensando no assunto. O fato é que cheguei à conclusão de que uma boa parte dos
escritores, bem como de toda a intelectualidade, carrega inconscientemente uns
ranços de presunção aristocrática. Um nobre, dedique-se ao que se dedicar, deve
fazê-lo amadoristicamente, não por necessidade. A arte, assim, está muito
próxima do hobby. O artista trabalha por império de sua inspiração, jamais por
imposições pecuniárias.
Bem, em primeiro lugar, este negócio de inspiração já é
bastante démodé. Isso era conversa de românticos no século XIX, eles que se
consideravam os porta-vozes do além, os condutores do rebanho humano. Por isso
a necessidade de se criar uma aura com que fossem vistos os escritores.
Disse muito bem o Ruffato. Somos seres comuns, com
necessidades comuns. Mas alto lá: não se confunda profissionalização como
escritor com escrever “para ganhar dinheiro”. O vil metal é necessário à
sobrevivência do escritor? É. Mas raros foram os escritores que escreveram
visando apenas ao cheque dos direitos autorais. Aluísio Azevedo e Camilo
Castelo Branco são dois exemplos de escritores que, por necessidades
financeiras prementes, viram-se obrigados a produzir para matar a fome. E quase
sempre, nestes casos, deram-se mal.
O escritor escreve por necessidade de expressão. Se isso lhe
trouxer algum benefício pecuniário, tanto melhor. Não vai morrer de fome.
Claro, estou falando de alta literatura. Que me perdoem aqueles que não
acreditam em alta literatura e literatura banal, de consumo. Eu continuo
acreditando.
Amei o texto, Professor!
ResponderExcluirAbração!
Heleny Sampaio Mei
Escritora
Heleny, sua passagem pelo blog deixou um perfume que me encantou.
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