quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (39)

Houve um pequeno engano na numeração das "questões". Na última postagem, demos o número 34, quando deveria ser 38, se quisermos prosseguir na sequência das postagens mais antigas. Retomando o que já vínhamos fazendo, estamos na postagem número 39.

A principal questão que se coloca quando se quer estudar a estética da literatura é exatamente a identificação do que é e o que não é literatura. Caso contrário, não se pode afirmar característica nenhuma como sine qua non, pois a abertura excessiva permitiria que tudo coubesse no conceito de literatura. A imprecisão não nos ajuda.
Eis aí por que voltamos ao livro de Víctor Manuel.
E ultimamente o autor introduziu a ideia dos sistemas modelizantes, primário e secundário. A língua natural como sistema modelizante primário e a literatura (seus códigos e signos) como sistema modelizante secundário.
Então prossigamos.

Pág. 94 - "... a linguagem verbal usufrui de capacidade omnipotente e omniformativa em relação a todos os outros sistemas semióticos, (...) (95) sistema semiótico universal que é a língua natural uma função primordial como mecanismo fundamentante de todos os sistemas semióticos, visto que só as línguas naturais podem volver-se em metalinguagens e visto que os sistemas semióticos integrantes de uma cultura se constituem a partir e segundo o modelo das línguas naturais. Deste modo, concebem as línguas naturais como sistemas modelizantes primários e os sistemas semióticos culturais (arte, religião, mito, folclore, etc.), que se instituem, se organizam e desenvolvem sobre os sistemas modelizantes primários, como sistemas modelizantes secundários.
O sistema semiótico literário representa assim um peculiar sistema modelizante secundário."
Pág. 96 - "O texto literário é sempre codificado pluralmente: é codificado numa determinada língua natural, de acordo com as normas que regulam esse sistema semiótico, e é codificado em conformidade com outro sistema semiótico, com outros códigos actuantes na cultura da colectividade em que se integra o seu autor/emissor: códigos métricos, códigos estilísticos, códigos retóricos, códigos ideológicos, etc. Esta pluricodificação gera um texto de informação altamente concentrada e quanto mais complexa for a estruturação de um texto, em função dos códigos que se intersectam, se combinam, se interinfluenciam na sua organização, tanto menor será a predizibilidade da sua informação e, por conseguinte, tanto mais rica esta se revelará. As chamadas "unicidade" e "irrepetibilidade" de um texto literário não devem ser entendidas como um fenômeno a-estrutural e assistémico - fruto de qualquer "inspiração" não apreensível, nem analisável em termos de racionalidade -, mas como um fenômeno polissistémico que resulta da "intersecção  de múltiplas estruturas e pertence contemporaneamente a todas, "jogando" com a riqueza de significados que nelas se apresentam." Exactamente porque o funcionamento semiótico da sintagmática do texto literário depende (pág. 97) de multiformes planos paradigmáticos é que a informação deste texto não pode ser transcodificado num sistema modelizante primário sem que ocorra o seu empobrecimento (e daí observar Lotman que "a interpretação é sempre possível como aproximação").

(continua)

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