terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

VEIA BAILARINA (2)

A primeira postagem sobre o livro saiu com o título LEITURA DO MÊS. Explico: nosso grupo de leitura escolhe um livro por mês, todos nós o lemos e no último domingo, das 9 às 11h, cada um dá suas impressões sobre o que leu.
Em fevereiro estamos lendo VEIA BAILARINA, deste senhor aí ao lado, o Ignácio de Loyola Brandão.
Passada uma semana, e para quem não se animou ainda a ler, resumo:

"O chão foi para o lado direito, inclinei-me para o esquerdo. Virei-me para o direito, o chão subiu. Quem está bêbado, o chão ou eu? Tolice sem graça. Ri desajeitado, acordo bem-humorado. Mal tinha ideia de que estava iniciando um período de vida que me levaria ao terror absoluto."


Seu diagnóstico passou por uma labirintite, como ele confessa. Então as consultas, exames, testes, neurologistas e nem sinal de problema no labirinto. Mais consultas, médicos amigos, médicos desconhecidos (recomendados), e o mesmo resultado. Labirinto perfeito.
Finalmente, a Ressonância Nuclear Magnética. A tortura do som e da imobilidade. Resultado: um aneurisma de três milímetros. No cérebro. Novos exames, corredores de hospitais, entrevistas com médicos, tudo com a esperança de que a cirurgia não fosse necessária.
Acompanhando o relato de sete meses de buscas, medos, aflições e dúvidas, o autor vai pintando um grande painel da vida sobretudo cultural do Brasil naqueles anos 1980/90. E isso, numa linguagem bem humorada com que atenua o clima de terror que estava vivendo. O terror era dele. Para o leitor, a delícia de uma linguagem fluente, com muito espírito.
Mas havia uma remota possibilidade de que a cirurgia não fosse necessária. E por essa possibilidade o Loyola se bateu durante bom tempo. Então o veredito final: a cirugia é obrigatória. O aneurisma era uma granada que ele carregava dentro da cabeça. A qualquer momento, e praticamente sem o menor controle do que a poderia causar, uma explosão o mandaria para o céu mais cedo. MEDO.
Sem alternativa possível, a cirurgia foi marcada. E vamos ver como isso acontece.
Para encerrar, mais um trecho do livro, era a fase ainda das dúvidas, um dos exames por que teve de passar:

"Um jovem auxiliar de enfermagem, expansivo e sorridente me tirou da viagem que eu fazia pela Alexandria. Tricotomia? Terei de fazer tricô com ele? Tricotar é tagarelar, fazer fofocas. Logo eu, tão desajeitado para trabalhos manuais? Logo descobri, numa saleta ao lado. O moço vestiu luvas de borracha e começou a me depilar as vivilhas. Então, tricotomia era isso, depilação. Imaginei as mulheres chegando ao instituto de beleza: "Hoje, só tricotomia das axilas, das coxas". Contaram-me que se faz até das nádegas. Vesti um avental branco, deitei-me na maca. Minha boca seca. Como seria esse cateterismo pela artéria das virilhas? Um parente, o Paulo Machado, teve problemas do coração, começou a fazer exames. Um sujeito nervoso, é coisa de família. Quando o médico comunicou que iam fazer cateterismo, Paulo começou a passar mal. cada vez pior. Terminou com um enfarte.
Sempre me disseram que quando o cateter começa a penetrar na artéria sentimos um calor muito grande. Foi um percurso cheio de expectativa até entrar na sala de cor creme, se não me engano. Nada tinha de assustadora. Passei para a mesa, o anestesista conversou sobre livros, ele e o filho gostavam do que eu escrevia, tinham devorado o Comédias da Vida Privada. Fiquei quieto (também já estava meio dopado). deixei-o pensar que era o Luís Fernando Veríssimo, não podia desapontá-lo, ia ficar frustrado, podia errar a mão nos anestésicos. Parece que dormi, parece que fiquei semi-acordado, ouvi sons, não ouvi nada, estava escuro e havia luzes, penetrei num limbo agradável."

(continua)


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