O texto que segue foi extraído das páginas 192/3 de O escritor e seus fantasmas, de Ernesto Sábato, 1ª reimpressão, Cia. das Letras, 2003.
"Em todo grande romance, em toda grande tragédia, há uma cosmovisão imanente. Assim, Camus, com razão, pode afirmar que romancistas como Balzac, Sade, Melville, Stendhal, Dostoievski, Proust, Malraux e Kafka são romancistas filósofos. Em qualquer desses criadores capitais há uma Weltanschauung, embora seja mais justo dizer 'visão de mundo', uma intuição do mundo e da existência do homem; pois ao contrário do pensador puro, que nos oferece em seus tratados um esqueleto meramente conceitual da realidade, o poeta nos dá uma imagem toda, uma imagem que difere tanto desse corpo conceitual quanto um ser vido de seu cérebro.
Nesses romances poderosos não se demonstra nada, como, ao contrário, fazem os filósofos ou cientistas: mostra-se uma realidade. Não uma realidade qualquer, mas uma escolhida e estilizada pelo artista, e escolhida e estilizada conforme sua visão de mundo, de modo que sua obra é, de alguma maneira, uma mensagem, significa algo, é uma forma que o artista tem de nos comunicar uma verdade sobre o céu e o inferno, a verdade que percebe e sofre. Não nos dá uma prova, nem demonstra uma tese, nem faz propaganda para um partido ou uma igreja: oferece-nos uma significação. Significação que é quase o contrário da tese, pois no romance o artista faz algo que é quase diametralmente oposto ao que os propagandiastas executam em seus detestáveis produtos. Pois os grandes romances não estão destinados a moralizar nem a edificar, não têm por fim adormecer a criatura humana e tranquilizá-la no seio de uma igreja ou de um partido; ao contrário, são poemas destinados a despertar o homem, a sacudi-lo do emaranhado anestesiante dos lugares comuns e das conveniências, são antes inpirados pelo Demônio do que pela sacristia ou pelo birô político."
"Em todo grande romance, em toda grande tragédia, há uma cosmovisão imanente. Assim, Camus, com razão, pode afirmar que romancistas como Balzac, Sade, Melville, Stendhal, Dostoievski, Proust, Malraux e Kafka são romancistas filósofos. Em qualquer desses criadores capitais há uma Weltanschauung, embora seja mais justo dizer 'visão de mundo', uma intuição do mundo e da existência do homem; pois ao contrário do pensador puro, que nos oferece em seus tratados um esqueleto meramente conceitual da realidade, o poeta nos dá uma imagem toda, uma imagem que difere tanto desse corpo conceitual quanto um ser vido de seu cérebro.
Nesses romances poderosos não se demonstra nada, como, ao contrário, fazem os filósofos ou cientistas: mostra-se uma realidade. Não uma realidade qualquer, mas uma escolhida e estilizada pelo artista, e escolhida e estilizada conforme sua visão de mundo, de modo que sua obra é, de alguma maneira, uma mensagem, significa algo, é uma forma que o artista tem de nos comunicar uma verdade sobre o céu e o inferno, a verdade que percebe e sofre. Não nos dá uma prova, nem demonstra uma tese, nem faz propaganda para um partido ou uma igreja: oferece-nos uma significação. Significação que é quase o contrário da tese, pois no romance o artista faz algo que é quase diametralmente oposto ao que os propagandiastas executam em seus detestáveis produtos. Pois os grandes romances não estão destinados a moralizar nem a edificar, não têm por fim adormecer a criatura humana e tranquilizá-la no seio de uma igreja ou de um partido; ao contrário, são poemas destinados a despertar o homem, a sacudi-lo do emaranhado anestesiante dos lugares comuns e das conveniências, são antes inpirados pelo Demônio do que pela sacristia ou pelo birô político."
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