Este capítulo de uma história infantil é do livro inédito Galinda, a história de uma galinha que pela primeira vez vai ser mãe.
3.
As vizinhas
Já começava a cochilar
novamente quando ouviu o mesmo có-có-có entrando no puxado. Era uma novata, a
Pintada, que botaria pela primeira vez. Aos poucos foi perdendo o sossego com a
conversalhada de galinhas velhas, novas, de frangas em início de carreira.
Tentou impor silêncio com um grito rouco, mas ninguém deu bola pra ela. Olhou
em volta e descobriu que a galeria inteira de ninhos estava ocupada por suas
vizinhas.
Não demorou muito para
que a Pintada, a que tinha entrado primeiro, desse um pulo para o chão, batendo
as asas e gritando como uma desesperada: o maior escândalo. Ela, todo mundo
sabia disso, estava anunciando que havia botado um ovo. E gritando daquele
jeito ela atravessou o terreiro e sumiu para os lados do pomar. O galo
prolongou um canto feliz, a cabeça jogada para trás. Ele se sentia o Rei do
Terreiro, o poderoso, por isso correu em perseguição ao Coque, um frangote que
nem esporas tinha, mas que já andava se engraçando com as galinhas.
Atravessaram a ponte e foram também parar debaixo do arvoredo, onde o Coque
conseguiu se esconder debaixo de uma carroça velha.
Depois o silêncio. Um
silêncio quente, naquele cubículo pouco ventilado. No terceiro caixote depois
do seu, ela ouviu um gemido, um ruído agudo forçando uma garganta. Então um
pequeno baque, de ovo sobre as palhas, e a galinha, batendo as asas, jogou-se
com sua gritaria pela porta, fazendo o mesmo percurso da Pintada. Quem veio
todo afobado para saudar a galinha, foi o Coque. Ah, coitado, mas na metade do
caminho, seu Cucurucu, imponente, se atravessou com o peito erguido. O Coque
disfarçou, beliscou alguma coisa no chão, e voltou para o pomar.
Menos de uma hora
depois da Pintada ter saído gritando, Dona Galinda já estava completamente
sozinha. Por isso, pensou o mais rápido que pode: vou dormir um pouco. Não
tinha acabado de fechar as pálpebras e ouviu a porta do cubículo rangendo. A
Mulher, aquela que jogava milho no terreiro, entrou por baixo de seu chapéu de
palha, com abas muito largas, e um cesto preso pela alça. Dona Galinda
encolheu-se toda, as penas eriçadas, e soltou uns gritos pavorosos, gritos de
assustar inimigo. Mas a Mulher nem chegou perto dela. De ninho em ninho, ela
foi recolhendo os ovos recém-botados.
Terminada sua coleta, a
Mulher se afastou, depois de empurrar a porta, deixando apenas uma fresta por
onde só mesmo galinha poderia passar.
Dona Galinda finalmente
pode dormir.
Lindo, lindo.
ResponderExcluirBrigadão, Amélia.
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