Sumariamente descritos os principais códigos literários, Vítor Manuel, na obra citada, vai abordar alguns aspectos do Sistema literário.
Pág. 107 - "2.10. Sistema literário e estilo de época
O estatuto do sistema semiótico e do código literários revela-se ainda mais complexo se se considerar que, em qualquer comunidade sociocultural e em qualquer período histórico, o sistema literário se manifesta de facto como um polissistema, comportando, por conseguinte, mais do que um policódigo literário (ao qual nos referimos em seguida apenas por 'código literário').
Sob o ponto de vista da evolução literária, pode contrapor-se, durante um lapso temporal mais ou menos longo, um sistema em declínio a um sistema ascensional ou já hegemónico, embora esta contraposição não exclua fenómenos de imbricação ou de miscegenação dos sistemas em confronto (situação típica de várias literaturas europeias no período de transição do neoclassicismo para o romantismo).
Por vezes, os sistemas em contraposição não apresentam de modo claro a marca de declínio e de dominância, podendo antes configurar-se, num dado período, como sistemas concorrenciais, dotados de vitalidade equivalente, porque correspondem a ideias, valores, interesses ideológicos e atitudes pragmáticas de classes ou de grupos sociais suficientemente poderosos para manterem entre si, durante algum tempo, um relativo equilíbrio na luta pelo poder sociocultural, em ligação com uma base económica e com uma superestrutura política (este fenómeno ocorreu, por exemplo, na literatura francesa da primeira metade do século XVII, quando um sistema literário barroco se contrapôs a um sistema literário clássico). Quando este equilíbrio de forças, porém, se rompe - e esta ruptura é sempre inevitável -, o sistema literário representativo da classe ou do grupo social em descensão volver-se-á em sistema progressivamente marcado pelo epigonismo e pelo anacronismo, perdendo a sua posição no núcleo do sistema sociocultural e deslocando-se para a periferia deste. Em contrapartida, o sistema literário hegemónico regula o chamado estilo de época. Mas, como escreve Jurij Lotman, 'nenhum código, por complexa que seja a sua estrutura hierárquica, pode decifrar adequadamente tudo quanto é realmente dado num texto cultural ao nível da parole. O código de uma época não é pois a única cifra, mas a cifra prevalecente'.
(CONTINUA)
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