Na postagem anterior o assunto foram os estilos de época. Prosseguimos com o texto do professor Vítor Manuel de Aguiar e Silva.
Pág. 108 - "2.11. Sistema literário e géneros literários
Da correlação peculiar dos códigos fónico-rítmico, métrico, estilístico e técnico-compositivo, por um lado, e do código semântico-pragmático, por outra parte, sob o influxo de determinada tradição literária e no âmbito de certas coordenadas socioculturais, resultam códigos que regulam particulares classes (types) de textos relativamente homogéneos, tanto formal como semanticamente - são os códigos específicos dos géneros literários.
Sob um ângulo semiótico, o género literário apresenta-se, nas palavras de Maria Corti, como 'un programma construito su leggi molto generali che riguardano il rapporto dinamico fra certi piani tematico-simbolici e certi piani formali, il tutto in relazione distintiva o oppositiva respetto al programma di un altro genere.' O código que configura e regula um género literário - o género épico, o género bucólico, o género trágico, etc. - é constituído por relações biunívocas entre uma forma da expressão e uma forma do conteúdo considerada a nível de sistema modelizante secundário, isto é, entre uma determinada escrita, no sentido barthesiano da palavra, e uma determinada temática. Aquelas relações biunívocas, em cuja constituição e em cujo funcionamento interactuam factores acrónicos de ordem lógico-semântica e factores históricos e sociológico-culturais, assumem o carácter de convenções e normas de impossitividade variável - analisaremos o problema da impositividade variável dos códigos literários, quando estudarmos, no capítulo 3, a comunicação literária - que representam instituições ou institutos da literatura, entendendo-se por 'instituição' (ou 'instituto') 'uma norma ou um conjunto de normas que ordenam um campo particular da experiência de modo a predispô-lo a atingir certos fins'. Tais instituições literárias constituem 'sistemas operativos móveis e plurívocos' que se organizam, se transformam, se exaurem e por vezes revivem no decurso da história, em função de fenómenos internos do próprio sistema literário ou/e em função de forças e elementos exógenos ao mesmo sistema (mutações culturais, ideológicas, económico-sociais, etc.).
Em relação ao autor/emissor, os códigos dos géneros literários funcionam como um filtro, como um modelo interpretativo da realidade do mundo, da sociedade e do homem, quer no plano temático, quer no plano formal: impõem ou aconselham a adoção de certo registo linguístico, de certos esquemas métricos, de certos estilemas, de certas macroestruturas da forma da expressão. Em relação ao leitor/receptor, criam um 'horizonte de expectativas' que se identifica com um 'programa' de leitura, com uma isotopia paradigmática que depois orienta a leitura das isotopias sintagmáticas, predispondo o receptor para uma determinada forma da expressão e uma determinada forma do conteúdo, guiando-o na apreensão da coerência textual, quer ao nível semântico-pragmático, quer ao nível estilístico, ao nível técnico-compositivo, etc."
(CONTINUA)
Pág. 108 - "2.11. Sistema literário e géneros literários
Da correlação peculiar dos códigos fónico-rítmico, métrico, estilístico e técnico-compositivo, por um lado, e do código semântico-pragmático, por outra parte, sob o influxo de determinada tradição literária e no âmbito de certas coordenadas socioculturais, resultam códigos que regulam particulares classes (types) de textos relativamente homogéneos, tanto formal como semanticamente - são os códigos específicos dos géneros literários.
Sob um ângulo semiótico, o género literário apresenta-se, nas palavras de Maria Corti, como 'un programma construito su leggi molto generali che riguardano il rapporto dinamico fra certi piani tematico-simbolici e certi piani formali, il tutto in relazione distintiva o oppositiva respetto al programma di un altro genere.' O código que configura e regula um género literário - o género épico, o género bucólico, o género trágico, etc. - é constituído por relações biunívocas entre uma forma da expressão e uma forma do conteúdo considerada a nível de sistema modelizante secundário, isto é, entre uma determinada escrita, no sentido barthesiano da palavra, e uma determinada temática. Aquelas relações biunívocas, em cuja constituição e em cujo funcionamento interactuam factores acrónicos de ordem lógico-semântica e factores históricos e sociológico-culturais, assumem o carácter de convenções e normas de impossitividade variável - analisaremos o problema da impositividade variável dos códigos literários, quando estudarmos, no capítulo 3, a comunicação literária - que representam instituições ou institutos da literatura, entendendo-se por 'instituição' (ou 'instituto') 'uma norma ou um conjunto de normas que ordenam um campo particular da experiência de modo a predispô-lo a atingir certos fins'. Tais instituições literárias constituem 'sistemas operativos móveis e plurívocos' que se organizam, se transformam, se exaurem e por vezes revivem no decurso da história, em função de fenómenos internos do próprio sistema literário ou/e em função de forças e elementos exógenos ao mesmo sistema (mutações culturais, ideológicas, económico-sociais, etc.).
Em relação ao autor/emissor, os códigos dos géneros literários funcionam como um filtro, como um modelo interpretativo da realidade do mundo, da sociedade e do homem, quer no plano temático, quer no plano formal: impõem ou aconselham a adoção de certo registo linguístico, de certos esquemas métricos, de certos estilemas, de certas macroestruturas da forma da expressão. Em relação ao leitor/receptor, criam um 'horizonte de expectativas' que se identifica com um 'programa' de leitura, com uma isotopia paradigmática que depois orienta a leitura das isotopias sintagmáticas, predispondo o receptor para uma determinada forma da expressão e uma determinada forma do conteúdo, guiando-o na apreensão da coerência textual, quer ao nível semântico-pragmático, quer ao nível estilístico, ao nível técnico-compositivo, etc."
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