Continua a discussão sobre a paraliteratura.
Pág. 122 - "A designação de 'literatura kitsch' (ou 'kitsch literário'), que denota uma manifestação particular do fenómeno estético do kitsch, difundiu-se sobretudo no último quarto de século. O lexema alemão Kitsch , de difícil tradução noutras línguas e por isso mesmo adoptado internacionalmente por teorizadores, críticos e historiadores das várias artes, foi utilizado com crescente frequência na Alemanha do Sul a partir da segunda metade do século XIX, apresentando como constituintes sémicos originários as ideias de 'bricolage', de 'pacotilha' e de 'falsidade'. Com efeito, (pág. 123) Kitsch designa manifestações artísticas, não de boa ou má qualidade, mas inautênticas, isto é, manifestações de pseudo-arte produzidas e fruídas por Kitschmenschen, indivíduos de mau gosto que, nas palavras de Hermann Broch, necessitam do espelho de tal arte fraudulenta para 'confessar as suas mentiras com uma fruição até certo ponto sincera.'
O kitsch é indissociável da 'arte de massas', em especial da 'arte de massas' da sociedade burguesa oitocentista e da sociedade afluente contemporânea - se Hermann Broch situa a origem do kitsch no romantismo, Gillo Dorfles situa-a no barroco, mas não existem divergências de opinião entre os especialistas sobre o facto de ter sido entre 1880 e 1914 e entre a década de cinquenta e os nossos dias que o kitsch sublinha determinados caracteres da obra de arte - ou pseudo-arte - produzida e fruída, ao passo que designações como 'arte de massas' e 'literatura de massas', como vimos, colocam o acento tónico na composição do público receptor e no condionalismo peculiar dos circuitos de produção, difusão e consumo de tal arte e de tal literatura.
O kitsch , nas suas manifestações mais triviais, representa uma contrafacção grosseira da obra de arte e uma dessublimação (pág. 124) da própria arte, degradando os seus valores numa função sub-rogatória que pode ir da mera publicidade comercial - o sorriso da Gioconda ajudando a vender um laxante ou uma pasta dentifrícia; obras-primas da pintura reproduzidas ao serviço da propaganda de medicamentos, da promoção de mercados turísticos, etc. - até à satisfação dos gostos de má ou duvidosa qualidade de numerosas camadas de público, cuja sensibilidade se deleita narcoticamente com o efeitismo de uma arte reduzida ao 'bonito' e ao 'agradável' - uma sonata de Beethoven, um Lied de Schubert ou um nocturno de Chopin adoptados, sob forma mais ou menos desfigurada, como temas musicais de filmes sentimentalmente açucarados; grandes romances condenados e reduzidos à dimensão da 'narrativa-cor-de-rosa''; textos poéticos de alta qualidade utilizados como letras de cações agradável e trivialmente melodiosas; fragmentos de um concerto de Bach ou de uma sinfonia de Beethoven adaptados, deformados e destruídos como objectos artísticos por orquestras de música ligeira ou grupos de jazz, etc."
(CONTINUA)
Pág. 122 - "A designação de 'literatura kitsch' (ou 'kitsch literário'), que denota uma manifestação particular do fenómeno estético do kitsch, difundiu-se sobretudo no último quarto de século. O lexema alemão Kitsch , de difícil tradução noutras línguas e por isso mesmo adoptado internacionalmente por teorizadores, críticos e historiadores das várias artes, foi utilizado com crescente frequência na Alemanha do Sul a partir da segunda metade do século XIX, apresentando como constituintes sémicos originários as ideias de 'bricolage', de 'pacotilha' e de 'falsidade'. Com efeito, (pág. 123) Kitsch designa manifestações artísticas, não de boa ou má qualidade, mas inautênticas, isto é, manifestações de pseudo-arte produzidas e fruídas por Kitschmenschen, indivíduos de mau gosto que, nas palavras de Hermann Broch, necessitam do espelho de tal arte fraudulenta para 'confessar as suas mentiras com uma fruição até certo ponto sincera.'
O kitsch é indissociável da 'arte de massas', em especial da 'arte de massas' da sociedade burguesa oitocentista e da sociedade afluente contemporânea - se Hermann Broch situa a origem do kitsch no romantismo, Gillo Dorfles situa-a no barroco, mas não existem divergências de opinião entre os especialistas sobre o facto de ter sido entre 1880 e 1914 e entre a década de cinquenta e os nossos dias que o kitsch sublinha determinados caracteres da obra de arte - ou pseudo-arte - produzida e fruída, ao passo que designações como 'arte de massas' e 'literatura de massas', como vimos, colocam o acento tónico na composição do público receptor e no condionalismo peculiar dos circuitos de produção, difusão e consumo de tal arte e de tal literatura.
O kitsch , nas suas manifestações mais triviais, representa uma contrafacção grosseira da obra de arte e uma dessublimação (pág. 124) da própria arte, degradando os seus valores numa função sub-rogatória que pode ir da mera publicidade comercial - o sorriso da Gioconda ajudando a vender um laxante ou uma pasta dentifrícia; obras-primas da pintura reproduzidas ao serviço da propaganda de medicamentos, da promoção de mercados turísticos, etc. - até à satisfação dos gostos de má ou duvidosa qualidade de numerosas camadas de público, cuja sensibilidade se deleita narcoticamente com o efeitismo de uma arte reduzida ao 'bonito' e ao 'agradável' - uma sonata de Beethoven, um Lied de Schubert ou um nocturno de Chopin adoptados, sob forma mais ou menos desfigurada, como temas musicais de filmes sentimentalmente açucarados; grandes romances condenados e reduzidos à dimensão da 'narrativa-cor-de-rosa''; textos poéticos de alta qualidade utilizados como letras de cações agradável e trivialmente melodiosas; fragmentos de um concerto de Bach ou de uma sinfonia de Beethoven adaptados, deformados e destruídos como objectos artísticos por orquestras de música ligeira ou grupos de jazz, etc."
(CONTINUA)
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