O conto que segue pertence ao livro A coleira no pescoço, editado pela Bertrand Brasil, em 2006.
O bezerro de ouro
"É da essência do capitalismo que tanto os bens como o trabalho sejam geralmente comprados e vendidos no mercado. Nessa sociedade, as relações entre as pessoas são dominadas pelo princípio da troca de equivalentes, do quid pro quo, não só em assuntos econômicos, mas também em todos os outros aspectos da vida."
O bezerro de ouro
"É da essência do capitalismo que tanto os bens como o trabalho sejam geralmente comprados e vendidos no mercado. Nessa sociedade, as relações entre as pessoas são dominadas pelo princípio da troca de equivalentes, do quid pro quo, não só em assuntos econômicos, mas também em todos os outros aspectos da vida."
Baran
e Sweezy, Capitalismo monopolista.
*
O muro nasce num instante insuportável de tamanho medo e imediatamente se
põe a crescer ali dentro do peito de Armando, em silêncio, escalando escarpas e
escombros, serpeando encostas, escrevendo as divisas de seu território. Como
coisa que medra, uma vida que renite obstinada. Armando consegue vislumbrá-lo
iluminado em suas cores, todo concreto com o peso, uma barreira intransponível.
Desde a primeira betoneira de argamassa, onde se assentam os primeiros tijolos,
que o coração vai-lhe sendo aliviado muito reflexivo, uma suavidade de espírito
já esquecida há duas semanas e que não permite ultrapassar alguma simplicidade:
um homem pode ser a medida de seu medo?
Levanta-se da escrivaninha e de compasso aberto mede o carpete da
espessura de quatro dedos - um trilho até a janela.
O sol bate sem qualquer ruído sobre o pátio limpo, por isso todo iluminado
como um deserto. O menor movimento poderá ser visto de tanto que não há
movimento algum. Duas semanas de total descrença na maioria dos seres humanos.
Na quase totalidade dos seres humanos. Seu sofrimento não tem mais fim de uma
forma tão intensa que desejaria adormecer, entorpecido, para acordar apenas
quando tudo isso for um pesadelo antigo.
Para além da sebe de hibiscos, uma nuvem trêmula no
céu, nuvem espiralada e vermelha que sobe da terra e mergulha no azul. Armando
volta à escrivaninha e pressiona o botão do interfone. O botão vermelho. Aqui,
pensa contente, aqui ninguém manda mais do que eu. E olha pela janela inútil,
por onde passa apenas uma nuvem branca e perdida, além de uma quina do prédio
da destilaria, com uns frisos antigos, desbotados. Finalmente, depois de um
estalido seco, a voz da secretária. Dona Iolanda, localize o Ademar,
imediatamente. Quero ele na minha sala com urgência. Desligado o interfone,
volta à janela. Menos apreensivo, agora, depois daquela ordem tão firme que
chega a ser um conforto sua autoria.
Para além da sebe de hibiscos, a nuvem trêmula e vermelha desloca-se tão
lentamente, por causa da distância, aqueles quilômetros de paisagem verde e
ondulada, que parece não sair do lugar. Vem dos fundos, onde o canavial mantém
a cidade prisioneira, os limites, de onde nunca se espera ninguém.
Acariciando as três sílabas com lábios úmidos, dona Iolanda repete várias
vezes o nome do chefe, como o código não compartilhado com ninguém de suas
fantasias amorosas. Armando finalmente atende com o imperioso e seco: -
Fale, dona Iolanda!
A secretária informa então que o presidente do sindicato aguarda na
linha.
Todo o gosto amargo da vida sobe-lhe das entranhas, devastador e quente,
dando o maior sinal numa dor aguda na boca do estômago - queimação antiga com que
o médico ameaça-lhe o futuro. Não fosse esse Adão, todas as metas previstas
estariam sendo alcançadas. O mundo já conheceu momentos mais felizes. Os olhos
embrenham-se no rosto sisudo de seu pai, pendurado na parede acima da escrivaninha.
O cenho carregado e o bigode espesso de seu pai, o fundador. Em seu tempo,
jamais tratou com presidentes que não fossem do país ou de grandes empresas. A
corja, aos poucos, toma conta do mundo. Como um castigo? Veja lá o que ele
quer, dona Iolanda.
Ele está perguntando se o senhor confirma a reunião para as onze horas.
Armando sente-se cansado, um cansaço repentino e denso, todos os gestos pesados
demais. No tempo de seu pai, sim, era tudo mais simples: uns mandavam, os
outros obedeciam. O mundo de Deus, ordenado como Ele o fez. Agora tudo
desandou: ninguém manda e ninguém obedece.
-
Doutor Armando!
Doces como caramelos, as cinco sílabas a rolar entre os lábios da
secretária. Pode confirmar, dona Iolanda. Às onze horas. E aproveitando, dona
Iolanda. O toldo. Mande alguém baixar o toldo aqui da minha janela. Daqui a
pouco vai ter sol querendo invadir minha sala, ouviu, dona Iolanda? Pois não,
doutor Armando. Já vou providenciar. Ah, sim, só mais uma coisa: Dona Rita de
Cássia me pediu para lembrá-lo de que hoje é sábado e que espera convidados
para o almoço. A única resposta de Armando não é vista pela secretária porque é
uma cara azeda que ele faz, cara de quem chupa o limão dos compromissos
sociais.
*
Armando senta-se em sua cadeira atrás da
escrivaninha porque tem necessidade de algum lugar onde existir e a cadeira é
estofada, confortável, mas, sobretudo, porque tem um espaldar alto como um
império. Começa a relaxar e está sozinho, por isso não interrompe um bocejo que
se prolonga até a ponta dos braços esticados. Ele alcança. Olha para os lados e
sente que pode alcançar. Suas mãos prolongadas, aquele espaço. Então percebe a
escrivaninha, limpa como um recesso, e vê que tinha deixado de ser local de
trabalho. Há duas semanas deixara de ser a sede do poder para transformar-se
num móvel de escritório, ordinário, um móvel inutilizado pela intransigência
humana, lugar para apoiar os braços. Fecha os olhos para ver melhor os
trabalhos de construção do muro e apenas os lábios se abrem num sorriso
satisfeito.
De norte a sul, de um sol ao outro, multidão de
homens trabalhando na construção do muro. Embora sem fisionomia, por causa da
distância que tudo dissolve, Armando orgulha-se da regência que exerce sobre
aqueles seres anônimos e sobre a pressa com que trabalham, mesmo sem saber para
quê. Alguns preparam a massa em betoneiras provavelmente ruidosas, outros
descarregam caminhões de tijolos, uns terceiros correm com suas carriolas e nem
é possível saber o que transportam além de carriolas. A sensação de segurança é
um conforto para seus olhos fechados. Por isso Armando não quer mais abri-los.
A não ser quando tudo isso for apenas um pesadelo antigo.
O sossego, entretanto, como qualquer sossego, é de
pouca duração. A imagem de uma nuvem trêmula suja novamente o céu de seus olhos
fechados. É uma nuvem espiralada e vermelha que sobe para além da sebe de
hibiscos. Armando coleciona inquietações, por isso estar dentro da própria
roupa é um desconforto. Então levanta-se rapidamente para espiar pela janela.
Lá está ela, praticamente no mesmo lugar. Quem poderá chegar por um lado assim,
do limite fechado, por onde ninguém jamais chega? O rosto imóvel de tão atento,
os olhos concentrados num ponto distante, Armando mantém seu medo preso entre
as mãos. Mas não sai do lugar?, lembra-se, e sorri aliviado porque de repente
pode ser a nuvem de poeira de um redemoinho, uma vertigem que sobe para o céu.
Talvez nem precise do Ademar com tanta urgência, mas a ordem está dada e é
melhor mantê-la. A hesitação não infunde confiança.
Atravessa a sala em passo contente, para enxugar as
mãos na toalha do banheiro e olhar-se no espelho, conferindo, mas apenas enxuga
o medo das mãos sem consultar o espelho, pois teme descobrir no rosto as marcas
de todos aqueles sustos que desde cedo vinha levando.
Armando quase volta para sua cadeira estofada atrás
da escrivaninha, mas passava pela frente da janela e pára. Um homem vem
atravessando o pátio com uma caixa de ferramentas que puxa seu ombro para
baixo, seu ombro direito. É uma caixa metálica e não consegue impedir que o
reflexo do sol aumente o brilho da manhã. No meio do pátio o homem muda de rumo
como se mudasse de opinião, dirigindo-se para o prédio das moendas. Carrega uma
caixa de ferramentas e uma boca silenciosa. Por fim, desaparece por trás dos
tanques da destilaria e o pátio volta a ficar sozinho debaixo do sol. Armando
olha aquilo com o corpo todo, principalmente com o peito, onde sente um peso de
pesadelo. Sacode a cabeça várias vezes, seus olhos desfocando-se na paisagem.
Depois de passar as costas da mão na testa, os
lábios quase fechados de secura, Armando finalmente vê o quadrilátero coberto
de paralelepípedos polidos. Tudo limpo como se o ano fosse demorar ainda para
ter seu início.
De repente vira-se e encara o interfone com um
desejo assassino de espancá-lo. Aproxima-se da escrivaninha e pressiona o botão
vermelho.
- Dona Iolanda!
A secretária não demora a responder, Pois não,
doutor Armando, mas o mel de sua voz não adoça a irritação do chefe. Dona
Iolanda, mandei que a senhora me convocasse o Ademar para minha sala, que
providenciasse alguém para me baixar o toldo e alguma outra coisa que nem me
lembro mais o que era. E então, dona Iolanda? Um instante de silêncio
transparente e Armando se debate entre o gozo e o sofrimento adivinhando
gotículas de suor a cobrir o buço da secretária. Ela tensa, encurralada. Doutor
Armando, o Ademar, agora, percorre as entradas pra fiscalizar a segurança, como
o senhor mandou. Me disse que já, já está aqui. Sim, mas e o toldo? Já pedi que
alguém subisse da oficina, doutor Armando. Já deve estar chegando. E aquele
Adão, que hora mesmo que a senhora marcou a entrevista com aquele baderneiro?
Às onze, doutor Armando. Pois então liga pra esse sujeito e diga pra ele vir às
dez. E avisa a Rita de Cássia que vou chegar atrasado. Ela que vá se virando
com os convidados.
Vai desligar o interfone, mas uma idéia começa a
circular em volta de sua cabeça. Mais uma coisa: quem é que está na engenharia?
Deve ser o doutor Thiago. Hoje é dia dele. Pois veja quem é e mande subir até a
minha sala. Com urgência, dona Iolanda. Já estou providenciando, doutor
Armando.
Ao soltar o botão vermelho, Armando ocupa com o
corpo todo sua cadeira imperial.
*
Um tal muro é o que pode isolar no mundo um espaço
exclusivo para seu império, território seu, o lado de dentro. Mas Armando
examina com atenção um longo trecho do muro e seu coração volta a confranger-se
aflito A idéia que circula em torno de sua cabeça finalmente se impõe, exigindo
mudanças no projeto inicial. Não são umas tantas questões de custo que vão
reduzir sua segurança. Gastaria toda sua fortuna para conservar o poder, que é
o poder de conquistar a fortuna. Para isso é preciso construir a cada cinqüenta
metros uma guarita com visão total dos dois lados: o de fora e o de dentro. A
idéia completa proporciona-lhe uma satisfação de que precisa, neste momento,
para manter sua paz, então o sorriso que ensaia repuxa sua boca para o lado
esquerdo, um sorriso torto, e em seus olhos aparece um brilho de atávica
selvageria, uma alegria de predador.
E esse Thiago, agora, onde anda escondido, que não
aparece?
Nestas últimas duas semanas, Armando acabou
conhecendo cada pedra do caminho entre a tensão e o relaxamento, mas
conhecê-las tem sido de pouco proveito, pois continua tropeçando nelas toda vez
que passa. Carrega os ombros e a nuca doloridos como se estivessem suportando
um peso muito grande, e ele sabe bem de que resulta a dor, mas não tem como
evitá-la. Respira fundo três vezes e solta os membros tentando relaxar. Precisa
da imaginação para jogá-los por cima de uma nuvem leve e branca, mas a
imaginação, arisca, foge pela janela e mergulha na claridade do sol, uma
claridade agressivamente gloriosa.
Armando corre até a janela porque está desconfiado
de que a nuvem vermelha mudou de lugar e, olhando de testa franzida e olhos
apertados como filtros, ele descobre que, por cima da sebe de hibiscos, bem
longe, além das primeiras quadras do canavial, algum veículo se aproxima
levantando poeira. Dá um murro na soleira da janela e solta um palavrão que
rola até o carpete como corpo morto, aquela impotência. De que adianta pagar
salário astronômico para um chefe de segurança, se ele some e não atende a uma
convocação? Olha por cima do ombro e encara rancoroso o interfone. Estará seu
próprio funcionário, o Ademar, envolvido com os baderneiros?
Só depois de alguns segundos opacos, em que tudo se
esconde atrás da claridade, é que Armando vê os paralelepípedos polidos
ricocheteando o sol. Nunca os vira assim vagos, por baixo do céu, que não fosse
entressafra, no ressono de máquinas e caminhões, no descanso da terra e de seus
habitantes. A labareda sobe-lhe então do estômago para a garganta, e Armando
lembra-se do médico e suas catástrofes apregoadas. Mesmo então, concentra-se
todo no mundo lá fora, à espera de um homem que venha atravessando o pátio com
uma caixa de ferramentas que puxe seu ombro para baixo, seu ombro direito. Nada
se move, entretanto, como se o mundo fosse uma tela antiga, pintada por algum artista
mal-humorado. Uma tela apenas em seu valor de exposição.
E esse Ademar, por onde será que anda?
Tudo aquilo, o mundo e seus desequilíbrios, a
paisagem estática e dura, a demora no cumprimento de suas ordens, aquilo tudo
invade os olhos de Armando, argueiro incômodo, então ele pisca muitas vezes,
testa enrugada de aborrecimento. No lado esquerdo do pátio, acácias e fícus
mantêm-se imóveis dentro de suas copas de sono morno por cima de uns poucos
automóveis. Tanta calma é uma hostilidade que Armando não suporta. Bate a testa
na vidraça e volta-se para o interior da sala, onde pode criar com as próprias
mãos um tempo só para si.
O olhar de seu pai é sombrio, pendurado na parede
acima de sua cadeira de alto espaldar. Talvez acusador. Tanto sacrifício, lutas
intermináveis, para um dia ser apenas um olhar severo pendurado numa parede.
Então Armando olha com pressa para fora, porque essa idéia começa a arder-lhe
no estômago. O sol já se ajeita inteiro no carpete - um brilho.
Ora viva, finalmente, exulta Armando, alguém por mim
nesta terra. Acabava de ouvir o estalido seco do interfone e a voz de dona
Iolanda, em cujos lábios rolam aquelas cinco sílabas doces como caramelos.
Doutor Armando! Ele pára quase encantado e espera que ela repita o chamado para
então atender. Ouve com paciência a história, mas no fim explode, Oh, não, dona
Iolanda! Pelo amor de Deus. Mas que merda é isso?! O Ademar pensa que está
brincando de mocinho. Que droga! Ligue pra ele e ordene que mande os meninos
embora, mas sem violência. Ora, mas que merda, se incomodar com moleque
chupando cana, dona Iolanda, como se não tivesse mais nada pra fazer! E diga a
ele que compareça imediatamente à minha sala. Tem algum veículo se aproximando
por dentro do canavial. Preciso saber do que se trata. Sim senhor, doutor
Armando. Eu já disse a ele que viesse logo, mas vou repetir. E esse porra do
Adão, dona Iolanda, vem ou não vem? Ele disse que vem, doutor Armando. Mas
quando?! Prometeu que estaria aqui às dez horas. Pois então, dona Iolanda, já
são dez e meia. Que merda, hein, nada funciona nesta droga! E o sol, a senhora
não disse que mandava alguém abaixar o toldo, dona Iolanda? Desculpe, doutor
Armando. Já liguei cinco vezes pro almoxarifado e eles disseram que alguém
estava a caminho.
No banheiro, Armando abre a torneira e deixa
escorrer o jato de água fria nas mãos, que leva algumas vezes ao rosto para
enxugá-lo daquele pânico pegajoso e quente. Melhor não houvesse espelho na
frente da pia, porque não gosta nada do rosto arruinado em que se descobre.
Todos morando nas quatro colônias que envolvem a
usina. É assim que Armando vê o futuro. Ninguém de fora, do exterior. Ninguém
de olhos escondidos, de pensamentos cheios de fumaça, nenhuma seita exótica,
incompreensível e perigosa. Para além das colinas mais próximas, ninguém mais
trabalha no muro: ele, agora, ainda sem as guaritas, recorta do mundo um
território que os braços de Armando podem abranger. Por isso ele se alonga,
muito grande, e boceja cansado, como se fosse relaxar.
O sol, em silêncio, escala a escrivaninha e ali se
instala, deitado e luminoso. Armando repele brusco tal contato e pressiona o
botão vermelho do interfone. Grita duas, três vezes o nome da secretária, que
finalmente responde, Pois não, doutor Armando. A senhora está demitida, dona
Iolanda, sumariamente demitida por descumprimento do dever. Espera algum tempo
a resposta, que não acontece. Dona Iolanda, com a voz menos áspera, a senhora
está me ouvindo? Ela assoa o nariz antes de responder que sim, sim, que está ouvindo,
mas que não tem culpa de nada. Tudo bem, mas não precisa chorar, agora. Esqueça
o que eu disse.
Armando enxuga o rosto com
uma toalha de papel, mas o rosto continua úmido.
Que horas são, dona Iolanda? Quase refeita do susto,
a secretária informa, Onze e cinco, doutor Armando. E aquele bosta do Adão,
aquele canalha, não ia chegar às dez? Foi o que ele prometeu. Pois então anote
aí, dona Iolanda: quero o Ademar imediatamente na minha sala; mande alguém
baixar o toldo; preciso falar com o Thiago nos próximos cinco minutos;
finalmente, veja o que aconteceu com este merda do Adão. Entendido? Ela
responde timidamente, com medo de descumprir seu dever.
Para ir até a janela, é necessário fazer a difícil
viagem que separa o interior do exterior, um lago de sol por onde Armando
penetra sem se dar conta, totalmente concentrado na nuvem de poeira que se move
por cima e para além dos hibiscos. Já não há mais dúvida de que se trata de um
veículo, e o chefe da segurança ainda não foi encontrado.
O pátio, observa Armando, sempre vazio, parado, como
um animal morto, uma coisa repugnante. Volta apressado para sua cadeira. Onze e
cinco. A hora penetra-lhe pelas narinas misturada com o ar. Mesmo com a
respiração precisa tomar cuidado. Poder dormir e só acordar quando tudo não
passe de pesadelo antigo.
Ouve o estalido metálico do interfone e atende
ansioso: Então, dona Iolanda, alguma coisa resolvida?
- Doutor Armando.
Ele espera alguns segundos, mas a secretária não
continua. Fale, dona Iolanda.
- Doutor Armando, o Adão está do outro lado do muro e o
portão não abre mais.
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