quarta-feira, 28 de agosto de 2013

QUESTÕES DE ESTÉTICA DA LITERATURA (66)

Encerrado o capítulo das diferenças entre literatura e paraliteratura, iniciamos hoje a transcrição do texto sobre literatura escrita e literatura oral.

Pág. 137- "Em estrito rigor, tendo em consideração o significado originário dos seus constituintes sémicos, o sintagma 'literatura escrita' é formado por sememas redundantes e o sintagma 'literatura oral' é formado por sememas conflituantes entre si, constituindo uma contradictio in terminis.  Se se atender, porém, à obliteração do valor semântico etimológico de 'literatura' e ao facto de este lexema ter passado a significar, para a generalidade dos falantes das várias línguas, 'arte verbal' e se se tiver em conta o condicionalismo linguístico decorrente do seu uso tradicional, quer nos meios científicos, quer no público comum, as expressões 'literatura escrita' e 'literatura oral' podem e devem continuar a ser utilizadas.

Para se compreender adequadamente a problemática semiótica da literatura oral, torna-se indispensável, em primeiro lugar, rejeitar a ideia de que entre o texto da literatura oral e o texto da literatura escrita existe apenas a diferença de que o segundo, ao contrário do primeiro, apresenta os seus sinais constitutivos materializados numa substância e numa forma peculiares, em conformidade com as regras e convenções do código grafemático utilizado. Se a ideia de que qualquer texto escrito representa tão-só a materialização gráfica, a mera transliteração de um acto de fala oralmente realizado, é profundamente (p. 138) inexacta, maior gravidade assume o erro quando se equaciona assim a relação diferencial existente entre texto da literatura oral e texto da literatura escrita. Com efeito, o sistema semiótico da literatura oral diferencia-se do sistema semiótico da literatura escrita, não apenas pelo facto de ser defectivo em relação a um código grafemático, mas sobretudo porque comporta sinais e códigos diferentes e porque o seu funcionamento, no que diz respeito à produção, à estruturação e à recepção do texto, é diverso em comparação com o funcionamento do sistema semiótico da literatura escrita. Para que a análise de tais diferenças não seja perturbada por interferências deste último sistema semiótico, é necessário operar com um conceito rigoroso de literatura oral, isto é, integrando a literatura oral no contexto de uma cultura primariamente oral, como propõe Lord na sua definição de 'poesia oral': 'Oral poetry is poetry composed in oral performance by people who cannot read or write. (...) This definition excludes verse composed for oral presentation, as well as verse that is pure improvisation outside of traditional patterns'".

(CONTINUA)

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