O texto abaixo é do filósofo Matheus Arcaro.
Eu sou poeta
Há tempos a palavra “artista” vem
sendo banalizada de tal modo que mesmo os atores televisivos mais medíocres são
assim denominados pela imprensa e pela massa em geral. É bem provável que se
perguntarmos a uma dançarina de boate qual é a sua ocupação, ela responda que é
artista. E pensar que tal palavra já serviu a Homero, Michelangelo, Beethoven,
Kafka...
Na mesma esteira, o termo “poeta”
também vem sendo futilizado; apropriam-se dele de maneira a utilizá-lo
gratuitamente.
De fato, impressiona-me como alguns se auto intitulam "poetas" com tanta facilidade. Acreditam que estejam fazendo poesia rimando "amor" com "dor" ou descrevendo cenas bucólicas e situações de paixão. Creio que a poesia é uma das mais viscerais expressões artísticas. Por isso, ela requer um trabalho árduo; um trabalho de ourives para lapidar cada verso, cada palavra, cada espaço em branco. E o material a ser lapidado corresponde à bagagem emocional, intelectual e, principalmente, cultural do poeta. É simples pensarmos isso recorrendo a uma analogia: como o artesão conseguiria criar uma joia se a sua matéria prima é o latão?
De fato, impressiona-me como alguns se auto intitulam "poetas" com tanta facilidade. Acreditam que estejam fazendo poesia rimando "amor" com "dor" ou descrevendo cenas bucólicas e situações de paixão. Creio que a poesia é uma das mais viscerais expressões artísticas. Por isso, ela requer um trabalho árduo; um trabalho de ourives para lapidar cada verso, cada palavra, cada espaço em branco. E o material a ser lapidado corresponde à bagagem emocional, intelectual e, principalmente, cultural do poeta. É simples pensarmos isso recorrendo a uma analogia: como o artesão conseguiria criar uma joia se a sua matéria prima é o latão?
Assim como é inconcebível alguém que se diga artista plástico não
conhecer a obra de Da Vinci ou Picasso, não há como ser poeta sem conhecer a
fundo a obra de Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Poe, Elliot, Pound, Maiakóvski, Rilke,
Neruda, Pessoa
e Drummond, só para citar alguns dos grandes.
Além do mais vale ressaltar que o
bonito, o belo e o sublime são coisas distintas, como bem apontou o filósofo Kant.
Se se fica somente no primeiro degrau (no bonito) não se está fazendo grande arte.
A arte não serve para elevar moralmente o apreciador. Não está aí somente para
agradar aos sentidos. Ao contrário: a grande arte incomoda, fere, faz pensar. É
nesse alto grau que está a sublimidade. Obviamente é possível fazer uma poesia que
agrade aos sentidos. Mas aquela que para nesse estágio, boia na superfície da
arte. Como cantou Vinicius de Moraes, até para fazer poesia “popular” é preciso
mais do que “pensamentos positivos”. Canta ele em seu “Samba da Benção”: "pra
fazer um samba com beleza/é preciso um bocado de tristeza."
Em suma, para alguém afirmar de
boca cheia “eu sou poeta” é preciso ter muita segurança do que faz. Ou muito
desconhecimento do que seja a poesia.
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